Crítica de Filme | Asterix e o Domínio dos Deuses

Bruno Giacobbo

As aventuras de Asterix, Obelix e dos demais irredutíveis gauleses não costumam ser pueris. Seus criadores, René Goscinny e Albert Uderzo, conceberam histórias que entretém, divertem bastante, mas educam. O que são estes bravos aldeões, vistos como bárbaros pelo Império Romano, de Julio César, se não a própria representação do povo francês e sua infatigável resistência ao Terceiro Reich, de Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra? Além desta metáfora, presente no cerne da origem dos personagens, ao longo dos anos, sempre houve espaço para alguma tirada inteligente. Em “Asterix entre os Bretões”, livro ilustrado lançado em 1966, são os gauleses que criam, quase sem querer, o famoso chá inglês. Antes, no HQ, claro, os britânicos tomavam ‘quente água com um pingo de leite’. Este tipo de brincadeira permeia, desde os primeiros esboços, as tramas dos nossos heróis, tornando-as, assim, diferentes das histórias de outros ícones da literatura juvenil.

Em Asterix e o Domínio dos Deuses, escrito e dirigido por Alexandre Astier, adaptação de uma obra homônima de Goscinny e Uderzo; encontramos um Julio César que, cansado de ser derrotado pelos gauleses através da força bruta, bola um plano original e audacioso: construir um condomínio de luxo nas imediações da irredutível aldeia. Para isto, ele designa um arquiteto que desconhece a força e a capacidade de resistir dos ‘bárbaros’. No entanto, de nada adiantaria erguer um residencial deste porte se não houvesse quem morar lá. Como forma de seduzir os romanos a se mudarem para à Gália, o imperador manda propagandear os benefícios de viver no campo e sorteia, durante as festividades no Coliseu, uma família que terá a honra de ocupar o primeiro apartamento construído. O que se seguirá é distinto de tudo o que a turma do Asterix já viu, uma invasão de civis e não de soldados.

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A ilação com a realidade, aqui, é atualíssima: uma crítica ao consumismo capitalista em que, muitas vezes, o importante é ter e não ser. Uma vez residindo no Domínio dos Deuses (o condomínio), os romanos vão virar de cabeça para baixo a vida dos habitantes da aldeia. Como turistas de férias, eles cobiçarão tudo o que encontrarem pela frente. De escudos a peixes, qualquer coisa servirá como souvenir. Este comportamento despertará a ganância do chefe Abracourcix e dos demais personagens que, lá pelas tantas, estarão totalmente seduzidos pelo novo estilo de vida. Só Asterix, Obelix e o druida Panoramix resistirão e lutarão pela sobrevivência de seus antigos costumes. Mesmo que peque um pouco pela falta de ritmo, fiel às obras originais, calcada no humor de sempre e com o pé na realidade, esta nova incursão cinematográfica satisfaz e supera, em muito, os últimos filmes feitos em live action. Para os fãs da literatura e do cinema de fantasia, há, ainda, uma ótima referência a trilogia “O Senhor dos Anéis”. Vale o ingresso!

Desliguem os celulares e ótima diversão.

FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: Alexandre Astier.
Produção: Philippe Bony e Thomas Valentin.
Elenco: Roger Carel, Guillaume Briat, Lionnel Astier, Serge Papagalli e Florence Foresti.
Trilha Sonora: Philippe Rombi.
Duração: 85 minutos.
País: França e Bélgica.
Ano: 2014.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN