Crítica de Filme | A Ovelha Negra
Adolfo Molina
A associação que naturalmente ou, de maneira mais rápida, que fazemos ao vermos o termo “Ovelha Negra”, além da célebre canção da Rita Lee, é imaginar uma pessoa que seja contrária aos padrões característicos que moldam o status quo, que insere a tal “ovelha negra” no contexto social. E aqui, a tradução do islandês “Rams” remete-se às divergências dos personagens do filme.
O vencedor do prêmio “Un Certain Regard” do Festival de Cannes de 2015, explora o universo particular de dois irmãos, Gummi e Kiddi, que possuem rebanhos de animais de tipo caprinos, como carneiros e ovelhas. Ambos não se falam há 40 anos por um motivo desconhecido. No entanto, uma doença letal chamada “scrapie” atinge os animais, levando-os à morte. A partir deste fato, os irmãos precisam retomar o contato para salvar aquilo que mais amam.
Tragicômico, depressivo e analítico, o filme de estreia do também islandês Grimur Hákonarson traz um drama com elementos de humor rebuscados e sucintos, remetendo-se ao humor de “Fargo”, dos irmãos Coen, apresenta um roteiro evocativo, com linha narrativa linear e subjetiva, sem apresentar motivos para as potenciais dúvidas como, por exemplo, a circunstância que levou os irmãos a não se falarem por 40 anos, investigando detalhes do passado de ambos.
A direção é calculista, mas escapa da premeditariedade, evitando ser previsível e maniqueísta. A fotografia explora os tons neutros em sua maioria, como o cinza e o sépia das grandes paisagens, trazendo consigo uma sensibilidade para com o isolamento da cidade do filme, aliás, a localidade foi bem escolhida para este quesito. O longa também é bastante noturno, portanto verbaliza os tons escuros e uso do preto para ilustrar o principal momento de maior insanidade dos dois personagens.
As atuações dos irmãos é importante para ressaltar o seu afastamento inicial e, consequentemente, o restabelecimento da relação que aparenta sempre ter tido uma carga trágica e destrutiva. O tom do filme é bem imposto e ganha força ao longo das transições dos atos, apesar que demora-se para achar uma direção e seguir continuamente nela.
O desfecho ressalta a frieza e a melancolia da relação dos personagens. É um estudo que procura dissolver o retrato de um afastamento, que é ilustrado através da simbologia de seus próprios rebanhos. O ganho, o estabelecimento do orgulho de um confrontando-se com o egocentrismo danoso do outro. A construção panorâmica inicial dos irmãos que aos poucos, afunila-se nas peculiaridades.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Hrútar | Rams
Direção: Grímur Hákonarson
Roteiro: Grímur Hákonarson
Produção: Grímar Jónsson
Fotografia: Sturla Brandth Grøvlen
Edição: Kristján Loðmfjörð
Gênero: Drama
País: Islândia
Ano: 2015
Cor
Duração: 93 Minutos
Classificação: A Definir