50 Anos de James Bond – Parte 10: “007 – O Espião que me Amava”

Pedro Lauria

O período Roger Moore sempre dividiu opiniões. Alguns acham que se tratam do Bond definitivo, outros acreditam que se trata do pior Bond da franquia. A verdade é inegável: os piores filmes do agente britânico são desse período.

Porém, também é inegável que 007 – O Espião que me Amava é um dos melhores filmes da franquia. Se não o melhor.

A obra é a prova de que vários elementos bem articulados, podem tornar um bom filme em uma obra prima. E isso é uma verdade nesse caso, uma vez que a película apresenta todos os aspectos que nos fazem fãs da franquia: ótimas cenas de ação, vilões perigosos, história envolvente, tiradas cômicas…

Mas vamos destrinchar cada um desses elementos, começando pela história – que chama a atenção por ser o primeiro filme inteiramente original (com exceção do título) do agente – sem ser baseado em uma obra pré-existente de Ian Fleming. Nela, sequestros sucessivos de submarinos, levam a Coroa Britânica e o Kremlin a se juntarem – principalmente após o roubo de um submarino nuclear. Para isso, James Bond recebe o apoio da linda Major Anya Amasova, a agente XXX (Barbara Bach).

A química entre 007 e XXX é o maior trunfo do filme.

A química entre 007 e XXX é o maior trunfo do filme.

Para complicar as coisas – e adicionar um tom único ao filme, descobrimos que Bond assassinou, em uma fuga, o grande amor da vida de Amasova. Por este motivo, toda a química entre Bond e a oficial Soviética (uma das Bond Girls mais inteligentes que se tem notícia) ficam no campo entre o desejo e a vingança. E essa fantástica química entre os personagens, é parte fundamental do sucesso da obra.

Mas a Bond Girl não é o único elemento narrativo que se destaca. É preciso falar de seus vilões. Começando por Karl Stromberg, um misto de Blofeld e Largo, mas sem o mesmo carisma dos vilões clássicos da franquia. Seu plano é completamente megalomaníaco: destruir a superfície em um apocalipse nuclear, para poder então, recomeçar a civilização em sua utopia submarina. O seu QG – imponente – chama a atenção para um dos elementos mais impressionantes da obra: a direção de arte. Pela primeira vez em toda a franquia os cenários trazem um tom de realidade – muito diferente dos cenários assépticos e insossos dos filmes anteriores.

E se Stromberg não é o que podemos chamar de um vilão icônico, o seu capataz não é nada menos do que isso: Jaws, o vilão mais conhecido de toda franquia. O brutamonte de mandíbulas de aço, destrói carros na mão, estraçalha cadeados com a boca e mata tubarões na dentada, traz o misto de perigo e bizarrice típicos da série. São poucos os personagens na história do cinema que não precisam abrir a boca, para se tornarem parte do imaginário coletivo. Jaws é um deles.

A influência das filmagens marinhas de 007 Contra a Chantagem Atômica são visíveis.

A influência das filmagens marinhas de 007 Contra a Chantagem Atômica são visíveis.

A cenas de ação aqui se mostram melhores do que nunca – lutas bem coreografadas, uma montagem extremamente dinâmica (chamo a atenção para a cena do assassinato no Egito), com uma trilha que empolga e que atinge seu ápice no terceiro ato da película, quando uma batalha de proporções gigantescas toma conta. Uma versão muito mais organizada da luta que se dá em Com 007 só se vive Duas Vezes, também de Lewis Gilbert.

Roger Moore também merece um parágrafo. Aqui, o carisma e fanfarronice de seu personagem chegam no equilíbrio perfeito – se aproximando muito aos dias de Sean Connery. A cena em que ele brinca com as chaves do carro, enquanto a agente soviética tenta dar a partida no carro, é uma das cenas mais divertidas que a série já produziu. E a sua frase final, que encerra o filme, é a cereja em cima do bolo. Nunca seu James Bond foi tão divertido – sem precisar apelar pro histrionismo.

Por fim, é válido falar da beleza estética do filme. Brincando continuamente com jogos de luz e sombras (principalmente na sequência do Egito), a obra mostra um refinamento visual que só acrescenta às paisagens e a direção de arte da obra. Um filme tão bonito que parece menos datado do que outras obras que viriam depois. Não a toa, existe o dedo de Stanley Kubrick aqui. Mas isso é apenas um detalhe.

007 – O Espião que Me Amava é o ponto alto de uma franquia que iria cair vertiginosamente a partir daí. Mas é foi o suficiente para sacramentar que Sean Connery não era essencial para a franquia.

BEM NA FITA: A música tema excepcional; Jaws; A química entre Bond e XXX; As cenas de ação; A direção de arte

QUEIMOU O FILME: Algumas deciões risíveis de Stromberg, necessárias para que a narrativa prossiga

FICHA TÉCNICA:

Diretor: Lewis Gilbert

Elenco: Roger Moore, Barbara Bach, Curd Jurgens, Richard Kiel, Desmond Llewelyn, Bernard Lee e Lois Maxwell

Produção: Albert R. Broccoli

Roteiro: Christopher Wood e Richard Maibaum

Fotografia: Claude Renoir

Montador: John Glen

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN