50 Anos de James Bond – Parte 11: “007 Contra o Foguete da Morte”

Pedro Lauria

Chegamos a um dos pontos mais baixos da série. Afinal, nem tudo são flores na jornada do agente britânico… Mas os problemas precisavam aparecer logo no filme que se passa no Brasil?
A história se assemelha estranhamente a de 007 – O Espião que me Amava (o filme anterior). Seja pelos elementos repetidos (como o retorno do vilão Jaws), ou pelos paralelos facilmente traçáveis (uma Bond Girl inteligente, um vilão que objetiva uma utopia terreste). Quanto ao vilão, aqui fica muito claro como a falta de personalidade de um personagem pode nos tirar totalmente a credibilidade pelos seus objetivos. Stromberg (de 007 – O Espião que me Amava) pode não ter sido um inimigo carismático, mas pelo menos a sensação de perigo que ele passava era constante – ao contrário da estoicidade de Drax, que mais parece perambular pelo filme sem muito o que fazer.
E se em O espião que me amava, a presença de Jaws era um dos muitos pontos altos do filme, em 007 – Contra o Foguete da Morte resta a ele carregar a obra – sendo de longe o personagem mais carismático da projeção. Inclusive, o seu sumiço na primeira metade da obra ajuda explicar a chatice que impera na primeira hora de projeção. Uma boa sacada – devido a aceitação do vilão – foi transformá-lo em anti-herói, mas é inexplicável a decisão de lhe arrumar um par romântico.

Na obra é possível dizer que Jaws é "O bom, o mau e o feio".

Na obra é possível dizer que Jaws é “O bom, o mau e o feio”.


Como dito, a narrativa da obra se divide em duas metades díspares. A primeira, extremamente monótona, envolve Bond andando por Veneza e fazendo algumas investigações simples. Seu nêmesis – um capanga japonês de Drax – é péssimo. Seus ataques recorrentes usando espadas de madeira mais parecem piadas ambulantes, e pecam por não trazer o sentimento de ação que deveria comandar o filme.
A segunda metade, por sua vez, é completamente tresloucada (coincidindo com sua vinda para o Rio de Janeiro) – chegando ao ponto de em três minutos, vermos Bond andando de Cavalo sob o som de The Magnificent Seven, vestido de Homem sem Nome (personagem imortalizado por Clint Eastwood na Trilogia dos Dólares de Sergio Leone) até as ladeiras de Tiradentes, quando somos apresentados a monges beneditinos lutadores, seguido de um mosteiro que mais parece uma vila mexicana e até por fim sermos apresentados a armas lasers típicas de Star Wars. A franquia espacial foi inclusive o grande motivo para o filme ter sido feito apare

ntementes às pressas, uma vez que seu clímax no espaço é uma das piores e mais toscas sequências de toda a franquia.

Tecnicamente o filme é de extremos. A fotografia muito escura no primeiro terço da projeção é inexplicável (talvez para contrastar com a iluminação das sequências espaciais) e não funciona – chamando mais atenção pra ela do que propriamente adicionando a narrativa. Porém é o som o setor que mais chama a atenção negativamente – não só as lutas sem trilha de ação, mas o desenho sonoro extremamente falho: cientistas que andam no corredor sem fazer barulhos ruidosos de pegadas, portas que batem sem emitir som, pancadas na cabeça que mais parecem socos em almofadas e gags sonoras que não funcionam.

Star Wars? Não. James Bond.

Star Wars? Não. James Bond.


Em contrapartida, a montagem rápida funciona muito bem, tentando dar ritmo às aborrecidas cenas de ação da obra. Por fim, os efeitos visuais datados (mesmo para a época) são um grande revés – frente ao absurdo trabalho de dublês que nos proporciona planos abertos belíssimos de luta (principalmente a que se dá no bondinho do Pão de Açúcar). Se em um momento vemos uma luta em meio a uma tomada panorâmica da cidade do Rio de Janeiro, no plano seguinte vemos um salto extremamente horrível de Jaws – entre dois bondinhos.
Essas características negativas, exigem que dependamos do carisma de Roger Moore para curtir a obra, mas isso não acontece. O ator, no modo automático, mais parece o pai de Zoolander – sempre repetindo as mesmas expressões faciais. É possível inclusive fazer um drinking game bebendo um shot toda vez que o Moore faz sua “piscadinha cafajeste”.
007 Contra o Foguete da Morte é um filme muito fraco – desperdiçando boas sequências e ideias e abrindo as portas para o período negro que assolou a carreira de Roger Moore.
 
BEM NA FITA: Uma música tema e Bond Girl acima da média; A volta (galhofa) de Jaws; O estupendo trabalho de dublês e dos efeitos práticos; A bizarríssima (e assustadora) cena da perseguição dos cães

QUEIMOU O FILME: O vilão inexpressivo; A primeira metade aborrecida; O péssimo trabalho de luz, som e efeitos digitais; A completa falta de lógica da obra; A tentativa falha (incluindo o final descarado) de se fazer um 007 – O Espião que Me Amava 2

FICHA TÉCNICA:
Diretor: Lewis Gilbert
Elenco: Roger Moore, Richard Keil, Michel Lonsdale, Lois Chiles, Desmond Llewelyn, Bernard Lee e Lois Maxwell
Produção: Albert R. Broccoli
Roteiro: Christopher Wood
Fotografia: Jean Tournier
Montador: John Glen

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN