50 Anos de James Bond – Parte 4: “007 contra A Chantagem Atômica”
Pedro Lauria
(Essa crítica faz parte do especial de 50 anos de 007 – uma crítica por semana, vinte e três semanas)
Locações exuberantes? Ok. Sequências de ação sensacionais? Ok. Vilão emblemático? Ok.
Pode ser que 007 Contra a Chantagem Atômica não seja inovador no sentido estrutural e narrativo, como foi o caso de outras obras da franquia, mas o quarto título da série tem seus méritos ao trazer um dos mais ambiciosos filmes já feitos.
Rodado na belíssima ilha de Nassau, 007 Contra a Chantagem Atômica, coloca o agente novamente para enfrentar a S.P.E.C.T.R.E.: dessa vez, James Bond tem a missão de recuperar as ogivas nucleares roubadas de um jato da OTAN. E quem é que vai ficar no caminho do herói? Emilio Largo, interpretado por Adolfo Celi. Menos inteligente, porém, tão mortal quanto Goldfinger, o vilão, extremamente superficial (uma marca da franquia), se tornaria décadas mais tarde uma das grandes referências da franquia Austin Powers ao fazer graça com o seu distinto tapa olho e o seu amor incompreensível por tubarões.
Os tubarões por sua vez, são o que tornam o filme tão peculiar e um verdadeiro marco logístico (nunca pensei que falaria isso em uma crítica): é inacreditável imaginar que os produtores em 1965 tenham tomado uma decisão tão louca, que nunca seria aceita nos dias de hoje. Falo de filmar praticamente um quarto do filme embaixo d’água. E não digo em tanques, onde tudo é controlado, mas no oceano. Com tubarões. De verdade. Se você nunca soube qual a contribuição dos produtores para o filme, ai está um ótimo exemplo, afinal, permitir que isso seja feito é mérito total deles. E graças a essa decisão arriscada, temos em 007 Contra a Chantagem Atômica um dos filmes mais bonitos e diferentes da franquia.
É claro que, filmando embaixo d’água, o diretor (Terence Young, voltando ao cargo depois dos dois primeiros filmes), compreensivelmente prioriza as longas cenas marinhas – cujo roteiro insiste em inventar desculpas para que existam – e os planos abertos filmados com grandes angulares, aproveitando as paisagens ao máximo. E, se por uma lado, esse é o grande diferencial da película, por outro, são notáveis as constantes quedas de ritmo pelas cenas de mergulho quase contemplativas, onde Bond fica minutos nadando para descobrir uma simples informação.
Aliás, vamos tirar mais um parágrafo para falar sobre a relação dos produtores com o filme. Tenho certeza que assim com os grandes empresários de Manhattan no início do século XX competiam para ver quem conseguia construir o maior edifício, os produtores, que colocam seu dinheiro para a realização do filme, também participam de uma constante competições de egos, na qual tentam atingir resultados cada vez mais excepcionais em seus filmes. Afinal, só assim para explicar o uso de Jetpack, sem nenhum motivo, no início do filme. Aposto que a decisão foi dada por um dos produtores após discutir “o que mais poderíamos fazer para tornar a obra épica”. O resultado foi esse emblemático item do arsenal de Bond e frisson do Carnaval carioca (piada carnavalesca, se virem para compreender).
Terence Young, por sua vez, mostra que sua breve pausa em filmes do 007, fez bem para suas sequências de ação. A primeira luta do filme, que envolve Bond contra um personagem travestido, se usa de cortes rápidos, sons diegéticos e trilha sonora, para criar uma cena extremamente empolgante que se distancia positivamente das cenas que haviam sido coreografadas nos filmes anteriores. Young também mostra também um leque de truques, como ao empregar, em uma cena específica, o avanço e recuo rápido de câmeras, para simular o ponto de vista de Bond preso em uma armadilha, ou a sutileza de pintar a tela de vermelho para informar que um personagem fora comido por turbarões.
Falando no agente, Sean Connery atinge em 007 Contra a Chantagem Atômica, a sua atuação mais segura até então. A frieza com que ele age diante de sua captura, revela muito sobre a sagacidade do herói. E claro, não podemos deixar de dizer, que o roteiro atinge picos engraçadíssimos de machismo. Seja pelas cantadas dadas em uma massagista ou a clássica resposta dado a Lazlo “-Você entende de armas? -Não, eu entendo de mulheres.” , os traços mulherengos do personagem estão mais bem delineados do que nunca.
Entre outros detalhes pontuais que precisam ser mencionados, está a montagem com “fades laterais” nas mudança de sequência (inclusive criando momentos muito bacanas, onde o recuo/avanço de tela acompanha o movimento de veículos), a ótima música de abertura, com uma letra incrível, e uma Bond Girl que une fragilidade, inteligência e utilidade narrativa – o pacote completo.
007 Contra a Chantagem Atômica pode não ser o melhor filme de Bond, mas certamente figura entre os mais lembrados. Suas locações paradisíacas, cenas de ação memoráveis (o clímax se dá em uma luta de mergulhadores armados com arpões), e vilão emblemático, fazem com que este seja uma das obras mais conhecidas do agente. Merecidamente.
BEM NA FITA: Cenas incríveis em locações reais; Cenário paradisíaco; Sequências de Ação inspiradas; Tubarões
QUEIMOU O FILME: Queda de ritmo nas cenas de mergulho; Vilão superficial; Elementos sem motivos narrativos
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Terence Young
Elenco: Sean Connery, Claudine Auger, Adolfo Celi, Bernard Lee, Luciana Palluzi e Lois Maxwell
Produção: Kevin NcClori, Albert R. Broccoli e Harry Saltzman
Roteiro: Richard Maibaum e John Hopkins baseado no livro de Ian Fleming
Fotografia: Ted Moore
Montador: Ernest Hosler