Crítica de Série | Fargo (2ª Temporada)

Vitor Oliveira

Se na primeira temporada de Fargo, a série funcionou mais como uma homenagem ao cinema “coeniano”, temos na segunda temporada um parcial desprendimento de alguns temas já trabalhados pelos irmãos, já que aqui, a série parece ter investido em uma estética própria e temas novos, expandindo ainda mais esse universo tão peculiar.

De novo roteirizada por Noah Hawley, a segunda temporada se passa no mesmo universo da primeira, mas na década de 70 sob o olhar de Lou Solverson (aqui, o pai de Molly Solverson na primeira temporada é interpretado por Patrick Wilson), que investiga um assassinato onde duas facções criminosas estão envolvidas, e no meio de tudo isso, Peggy(Kirsten Dunt) e Ed(Jesse Plemons), um jovem casal que aspiram uma vida melhor.

Hawley, como roteirista aqui se mostra mais ambicioso. Construindo um discurso acerca da mudança dos tempos, o roteirista aproveita a ambientação da série na década de 70 para pautar personagens e situações em temas como o feminismo e a expansão das corporações frente aos negócios familiares. Além disso, a representação ética e de gênero – ainda que de forma indireta – parece nos dizer que algo está mudando: não há espaço aqui, para personagens femininas ‘esteriotipadas’ e personagens de cor jogados de lado.

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Aliás, nenhum personagem da série é deixado de lado. Isso se dá pela estratégia da série em usar split-screen (tela dividida) em várias cenas onde é possível notar que cada um tem seus almejos naquele mundo bagunçado, violento e pessimista. Ed – o homem comum – quer comprar um açougue, enquanto Peggy deseja visitar um seminário feminista, tudo isso, enquanto Lou além de resolver os crimes que se passam dentro da cidade – e fora também, tem de ficar de olho em sua mulher que recém adquiriu um câncer.

Ainda assim, o personagem de destaque desse segundo ano é Mike Milligan (Bokeem Woodbine), uma espécie de Anton Chiguhr/Lorne Malvo com uma natureza impiedosa e tom de voz suave. Não colocando barreiras frente ao interesse de seus empregadores, o personagem conta com vários diálogos referenciais à cultura setentista, como o surgimento de bandas de rock progressivo, o fim do idealismo sessentista, entre outros. Não que sua natureza o torne imune ao desgaste que tanto órgãos, como personagens da série sofrem.

No que se diz respeito às referências, a série se mostra pontual. Expandindo o próprio universo, Fargo consegue citar alguns personagens presentes na primeira temporada de forma bastante sutil. Outro ponto positivo é que a série não deixou de referenciar o cinema “coeniano”: são várias cenas onde são claras as influências de Barton Fink, Onde os Fracos Não Tem Vez, O Homem que NãoEstava Lá, Ajuste Final e assim por diante.

Superando a primeira temporada e demonstrando criatividade para trabalhar seus temas em outra época, a única pergunta que o segundo ano de Fargo deixa é: como isso será superado na terceira temporada?

FICHA TÉCNICA

Título Original: Fargo
Gênero: Humor Negro/Drama
Direção: Randall Einhorn, Michael Uppendahl, Noah Hawley, Keith Gordon, Jeffrey Reiner, Adam
Arkin
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Patrick Wilson, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Bokeem Woodbine
Produção: Joel e Ethan Coen
Ano: 2015
País: Estados Unidos

Vitor Oliveira

Estudante paulistano, torcedor do Manchester United, fã de Crumb, Irmãos Coen e Velvet Underground.
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