Crítica de Filme | Protagonismo Trans

Giselle Costa Rosa

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6 de janeiro de 2016

Com direção de Luis Carlos de Alencar, o documentário Protagonismo Trans mostra uma roda de bate papo entre mulheres trans  e travestis da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, dialogando sobre questões do seu dia-a-dia.

Elas falam sobre trabalho – em geral da dificuldade de arranjar um emprego -, saúde, no tocante do despreparo não só do SUS (sistema único de saúde) em atender as mulheres trans, mas também do sistema médico vigente como um todo. Do preconceito sofrido no dia a dia e da importância da aceitação da família. Quando falam de relacionamentos amorosos, questões de como se posicionar perante ao outro, decidindo a hora de revelar que é trans e como isso afeta um possível relacionamento, são discutidos. O medo da rejeição é grande, porém não as impede de acharem pares e assim como qualquer casal ter momentos bons e ruins. Abordam também o tema direitos civis. A dificuldade do processo da mudança de nome na documentação. As etapas enfrentadas e a má vontade do poder público em cumprir um direito adquirido. Não só isso, mas também o descaso e o desrespeito com o indivíduo trans, muitas vezes sendo-lhe negado a utilização do seu nome social.

O documentário registrou a pesquisa qualitativa realizada pela FIOCRUZ chamada Protagonismo “trans”, processo transexualizador e atenção em HIV/aids: repensando políticas de saúde para (e com) travestis e transexuais numa perspectiva de integralidade, coordenado por Adriana Geisler. O trabalho chama atenção para o despreparo da sociedade em lidar com novos gêneros e toda a dificuldade vivenciada pelas mulheres trans ao acessar os serviços básicos garantidos pelo Estado para qualquer cidadão.

Luis Carlos também dirigiu Bombadeiras (2007), um documentário sociológico que mostra a vida de travestis que fazem de tudo para realizar o sonho de terem um corpo de mulher legítimo ou o mais próximo possível disso através de aplicações clandestinas de fartas doses de silicone industrial em várias partes do corpo.  Algumas das participantes da roda de conversa expõem a experiência dessa utilização. Da urgência de se ter um corpo feminino, satisfazendo uma necessidade de se parecer ou ser uma mulher. Manter o órgão sexual masculino pra muitas é importante. Pra outras é vital a transformação completa em mulher.

O preconceito e a ignorância das pessoas em volta muitas vezes as afastam de seguir nos estudos. Não só isso. Barreiras para conseguir um emprego melhor remunerado são relatadas. A prostituição e posições de trabalho menos favorecidas acabam se tornando opções mais viáveis. A produção mostra que falta uma maior aplicação das leis vigentes que asseguram os direitos das trans. A aparelhagem pública ainda está longe de suprir as necessidades do processo de transformação. Vemos também depoimentos de como os direitos civis são ignorados por muita gente. As políticas públicas voltado para o público trans ainda é ineficiente em muitos casos. Falta investimento e boa vontade de parte da sociedade.

Protagonismo Trans dá voz às mulheres trans e aos travestis que precisam sobretudo de respeito e ações mais eficazes no tocante da saúde, da fiscalização e punição às instituições que não cumprem a lei. Todas querem usufruir dos direitos civis conquistados como qualquer outra pessoa, tendo garantia de acesso a todo aparato público. O respeito é peça fundamental nessa engrenagem para viabilizar esse caminho.

Assista ao documentário:


::: FICHA TÉCNICA
Direção e Roteiro: Luis Carlos de Alencar
Direção de Fotografia: Vladimir Seixas
Edição: Mariana Jaspe
Assistente de Direção: Maycon Almeida
Produção: Adriana Gaesler
Edição de Som e Mixagem: Thiago Sobral
Fotografia adicional: Vitor Kruter
Design: Luiz Carlos Maia Duarte
Still: Eder Fernandes

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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