Crítica de Filme | Um Homem entre Gigantes
Adolfo Molina
Hollywood enfrente escassez de filmes importantes, independente de seu gênero linguístico e formato. Ultimamente, os filmes-denúncias estão avidamente crescendo e gerando impacto na sociedade, por conta de sua proposta analítica. “Spotlight” foi talvez, o mais importante, mas nenhum possui uma sonoridade e imposição à cultura americana do que Um Homem Entre Gigantes (Concussion).
Estrelado por Will Smith, que interpreta o neurocientista Dr. Bennet Omaru, um diplomado, inteligente e intrigante paleontologista, responsável por realizar autópsias em um centro clínico na cidade de Pittisburgh. Sua vida segue normal, até que Mark Webster (David Morse), o ídolo de futebol americano do time da cidade, os Steelers, se suicida e é autopsiado por Bennet. O doutor logo percebe há algo de errado em seu cérebro, apesar de estar aparentemente saudável e normal, além de jovem.
Após alguns exames e confirmações científicas, Dr. Bennet afirma que os jogadores desenvolveram uma doença nova e que se agrava pelo traumatismo cranioencefálico, gerado pelos impactos recorrentes do esporte. Ao descobrir que esta doença degenerativa e que acarreta em esquizofrenia e depressão crônica nos jogadores, Bennet tem de confrontar-se com a NFL (Liga Nacional de Futebol), que tenta acobertar essa denúncia.
A importância da denúncia deste filme, que é baseado em fatos que ocorreram entre os anos 2002 – 2005, é altamente relevante à cultura esportista americana por conta da paixão que o esporte provoca em sua sociedade. Quando este fato científico foi divulgado, as pessoas apegadas ao esporte negaram e ofenderam a tese, afirmando que estaria “afeminando” o esporte e o regredindo.
O roteiro de Um Homem Entre Gigantes segue coeso e imponente, trazendo críticas bem elaboradas às organizações e grandes corporações como a NFL. Mesmo que, em alguns momentos, há um romantismo e personificação de herói no personagem de Will (que é nigeriano na história), o fato deve-se ao apego do cientista aos ocorridos e à crise de negação da NFL.
Will Smith garante uma de suas melhores atuações e só prospecta a indignação de não vermos seu nome indicado a melhor ator no Oscar. Sua adaptação ao sotaque e, consequentemente, uma cultura distinta, suas cargas emocionais e autenticidade desassemelham uma caricatura. Alec Baldwin também faz uma segura e intensa atuação. No entanto, senti falta de uma química mais forte com o resto do elenco, principalmente, Gugu Mbatha-Raw, que interpreta o par romântico do protagonista.
Direção, fotografia, montagem e trilha sonora se completam e se relacionam muito bem ao longo do filme. Há uma boa fluência e manejos de câmera e, apesar de ambientar-se bastante em lugares frios, as tonalidades quentes e uso leve de luz e sombra ramificam um tom forte, além da adição a imagens de arquivo dos jogos, que funcionam tanto como elementos de prova para a validação da tese do doutor quanto para a ambientação.
Mesmo que funcione em cima de uma história real e levemente sobre o livro “Game Brain”, de Jeanne Maria Leskas, Um Homem Entre Gigantes é um poderoso e importante relato científico sobre as causas de uma prática tão enraizada na cultura norte-americana, com sua consequência brutal praticamente esquecida e até mesmo tornando-se parte da atração.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Concussion
Gênero: Drama
Direção: Peter Landesman
Roteiro: Peter Landesman
Elenco: Adewale Akinnuoye-Agbaje, Albert Brooks, Alec Baldwin, Arliss Howard, Bitsie Tulloch, David Morse, Eddie Marsan, Gugu Mbatha-Raw, Luke Wilson, Matthew Willig, Mike O’Malley, Paul Reiser, Richard T. Jones, Stephen Moyer, Will Smith
Produção: David Wolthoff, Elizabeth Cantillon, Giannina Facio, Larry Shuman, Ridley Scott
Fotografia: Salvatore Totino
Montador: William Goldenberg
Trilha Sonora: James Newton Howard
Ano: 2015
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 03/03/2016 (Brasil)
Distribuidora: Sony Pictures
Estúdio: Scott Free Productions / The Shuman Company