CRÍTICA | ‘Onde O Mar Descansa’ é uma obra de arte fora do convencional
Alê Zephyr
Onde O Mar Descansa é uma obra de arte totalmente fora do convencional enquanto filme. É uma viagem que acompanha o subconsciente da personagem principal, que perdera sua alma gêmea, e apresentada de maneira visceral e poética, o que significa que é através dos movimentos compulsivos da personagem, da paisagem fria da Suécia, citações de poetas decadentes do século XIX, como Renée Vivian, e música bem tensa, que se espera que o espectador compreenda o que ela está sentindo e por onde sua mente está vagueando durante o desenrolar da história, que aliás, foi montada de maneira não cronológica.
O filme foi idealizado por André Semenza e Fernanda Lippi. Ela é dançarina clássica nascida em Belo Horizonte. Ele é um diretor artístico de origem sueco-italiana, e ambos são fundadores do projeto Zikzira, que tem uma sede em Londres e outra em BH, e tem como proposta, uma investigação da dança contemporânea, abrindo espaço para artistas da área apresentarem seu trabalho tanto em teatro físico quanto no cinema.
Segundo entrevista de André e Fernanda para o ICA (blog britânico de Arte), eles afirmam que “a ideia para o filme teve início na sala de ensaio, com Fernanda trabalhando com uma outra dançarina do projeto, Lívia, e então, uma estória de amor entre duas mulheres começou a ser moldada”.
À partir daí, eles trabalharam principalmente de maneira intuitiva, deixando a interação na dança improvisada das duas, falar antes mesmo de um roteiro para filme ser considerado, pois segundo os dois parceiros “é assim que costumam trabalhar”.
Apesar do fato de que Onde O Mar Descansa é uma obra visionária, existem dois detalhes que particularmente me incomodaram bastante: primeiro é que esse é o tipo de filme que possui tomadas estáticas longas demais, como ficar quase dois minutos filmando um único e repetitivo movimento de dança da personagem; o outro é a quantidade excessiva de vezes em que a tela fica simples e completamente preta, e permanece assim por um tempo, muitas vezes, exagerado também, tornando a obra um tanto cansativa. Estilo famoso nos filmes de Stephen King.
Por outro lado, ressalto a beleza da fotografia e das tomadas, que norteiam o longa do agressivo ao sutil com maestria, e uma trilha sonora pesada no sentido de psicodelia e tensão.
Enfim, é uma obra para pessoas que têm um conhecimento e paixão profunda pela Arte da linguagem corporal e história da Arte, afinal, não é qualquer um que consegue ligar todos esses elementos propostos de uma só vez. Então, indico essa ousada produção para estudiosos e amantes incondicionais de Arte, e aconselho que assistam acompanhados de outros bons entendedores do assunto, para que, logo após seu término – talvez até antes -, tenham com quem dar início à um inevitável e longo debate.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama
Direção: André Semenza, Fernanda Lippi
Roteiro: André Semenza
Elenco: Ankie Hermansson, Anna Mesquita, Fernanda Lippi, Livia Rangel
Produção: André Semenza, Fernanda Lippi
Fotografia: Marcus Waterloo
Montador: André Semenza
Trilha Sonora: The Hafler Trio
Duração: 91 min.
Ano: 2015
País: Reino Unido
Cor: Colorido
Estreia: 14/04/2016 (Brasil)
Distribuidora: Maverick Motion Brasil
Estúdio: Maverick Motion