CRÍTICA | ‘A Vingança Está na Moda’ passeia com facilidade entre o drama e a comédia
Bruno Cavalcante
Recentemente tive o prazer de conferir a adaptação cinematográfica do primeiro romance da australiana Rosalie Ham, intitulado “The Dressmaker”. No Brasil, a obra foi traduzida como A Vingança Está na Moda. É, eu sei, é mais uma daquelas traduções esquisitas para o português, mas ainda sim existe um certo trocadilho barato aí, e admito que não é dos piores, se levarmos em consideração o conteúdo da obra.
O livro “The Dressmaker” foi lançado em 1 de janeiro de 2000, se tornando um best-seller vendendo mais de 75 mil cópias. Já o filme debutou primeiramente no Festival Internacional de Cinema de Toronto no ano passado. O longa recebeu críticas bem positivas e inclusive já até ganhou prêmios importantes na Austrália, como o de melhor atriz por Kate Winslet no AACTA Awards.
A trama se passa na década de 50, e nos leva para o atual momento da vida de Myrtle Dunnage, mais conhecida como “Tilly”, como assim prefere ser chamada. A protagonista depois de algum tempo morando em Paris, resolve retornar para a sua antiga cidade, Dungatar, para poder acertar algumas contas com o passado. Na verdade, Tilly havia saído forçada de lá ainda muito pequena, acusada de ter matado um menino, filho da mulher do prefeito.
Apesar de ter saído de uma cidade do interior, Tilly não se deu por vencida e ingressou no mundo da moda, se tornando uma das mais conceituadas estilistas da Europa. No entanto, mesmo tendo conquistado aparentemente tudo o que queria, um sentimento de rancor ainda pairava sobre sua cabeça, uma imensa vontade de vingança contra todos os que lhe fizeram mal. E por fim ela decide usar toda a sua esperteza e classe para revolucionar o seu antigo povoado.
Olhando por alto, a trama de Rosalie Ham se parece com qualquer outra historinha sobre a velha menina pobre que é humilhada por todos, e que no final enriquece e volta para se vingar. Bem, se é isso o que você está pensando pode dar pelos menos três passos atrás. Eu admito que também imaginei isso nos primeiros minutos da película, mesmo ela já se mostrando bem interessante a partir então. No entanto, a história cresce e nos apresenta algo muito mais refinado do que um simples prato de feijão com arroz.
A Vingança Está na Moda passeia com facilidade entre o drama e a comédia. A comédia ainda mais poderosa através dos excelentes diálogos trocados por seus personagens, a partir de um texto original e bem divertido. Já o drama surge como um divisor de águas durante todo o filme, que aliado ao romance, consegue deixar a história inda mais interessante. Quando você acha que tudo já aconteceu, Ham aparece para lhe mostrar que ela pode ir muito mais além.
O elenco deste filme foi também outra grande surpresa, pelo menos para mim. Lógico que eu já conhecia o trabalho de Kate Winslet, dela não esperava menos. Mas quem de fato me surpreendeu foi Judy Davis (Maria Antonieta), que mesmo sendo uma veterana, ainda não conhecida a fundo o seu trabalho como atriz. Davis interpreta Molly Dunnager, a mãe de Winslet na trama. Apesar de dar vida à uma personagem bem difícil, a atriz conseguiu deixar as coisas fluírem com tanta facilidade, que eu não tive outra opção a não se me render. Sua Molly nos é apresentada como uma mulher totalmente ranzinza e amargurada com a vida, porém carregando consigo um “quê” de sarcasmo e imoralidade, e eu amei isso!
Voltando a falar da estrela principal, podemos dizer que Kate Winslet aparece completamente centrada em sua personagem, que precisa demonstrar ao mesmo tempo uma certa valentia, como também a fragilidade de alguém que fora abandonada ainda muito cedo. Já alguns outros destaques do filme foram Hugo Weaving (Capitão América: O Primeiro Vingador), que surge como o divertido Sargento Farrat e também Liam Hemsworth (Jogos Vorazes), o par romântico de Kate. Com relação a este último, só achei ele um pouco inapropriado para o papel devido à sua idade, que visivelmente se mostra muito mais novo do que a protagonista, quando na verdade acredito que eles deveriam ter idades aproximadas. Acho que por conta disso, a química entre o casal não tenha acontecido como eu esperava.
A direção e a excelente adaptação de Jocelyn Moorhouse (Colcha de Retalhos) também foram fundamentais para o sucesso deste filme. Com um olhar preciso, sempre atento os mínimos detalhes, a cineasta caprichou na fotografia, que nos presenteia com toda a beleza e encantamento da interiorana, e de certa forma caipira, cidade de Dungatar. E ah! Também não posso me esquecer da gostosa trilha sonora e do figurino impecável, que para mim foi a cereja do bolo. Assistam sem medo de ser feliz!
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Título Original: The Dressmaker
Gênero: Comédia, Drama
Direção: Jocelyn Moorhouse
Roteiro: Jocelyn Moorhouse (filme), Rosalie Ham (livro)
Elenco: Kate Winslet, Judy Davis, Liam Hemsworth, Hugo Weaving, Sara Snook, Caroline Goodall, Kerry Fox, Rebecca Gibney, Julia Blake, Gyton Grantley, Genevieve Lemon e Alison Whyte.
Produção: Sue Maslin
Trilha Sonora: David Hirschfelder
Fotografia: Donald McAlpine
País: Austrália
Estreia: 19/05/2016 (Brasil)
Distribuição: Imagem Filmes