‘7 Prisioneiros’ e a pressa de quem tem fome
Wilson Spiler
Escrito por Thayná Mantesso e Alexandre Moratto, responsáveis pelo ótimo filme Sócrates, 7 Prisioneiros, drama brasileiro que estreou recentemente na Netflix, conta uma realidade bem brasileira que muita gente não enxerga ou finge que não existe mais.
A escravidão supostamente abolida em 13 de maio de 1888, na verdade, apenas se atualizou. Se antes era uma forma de trabalho legalizada, onde os escravos recebiam apenas um teto e restos de comida, agora é algo ilegal. Pelo menos na letra fria da lei, porque na vida real, é uma situação mais comum do que se imagina.
Só para se ter uma ideia, de acordo com o Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, entre 1995 e 2020, 55.712 pessoas foram encontradas em condição semelhantes à de escravidão, sendo 80% das vítimas trabalhadores no setor agropecuário. Um problema que nunca foi extinto e só tende a agravar mais com reformas trabalhistas e previdenciárias que só visam agradar ao mercado financeiro e ao empresariado.
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Princípios x sobrevivência
O filme 7 Prisioneiros mostra um pouco do que acontece às sombras (ou à luz muitas vezes) no nosso país. O longa da Netflix conta a história de jovens que vão em busca de trabalho para ajudar suas famílias com a promessa de que seriam bem recompensados por isso. Quando chegam lá, na verdade, o que eles “ganham” é uma dívida que deve ser paga através do trabalho.
Sem carteira assinada, trabalhando muito mais horas por dia do que o permitido, os garotos passam a dormir em condições insalubres e só serão liberados após quitar o débito. O pior: toda essa situação tem o aval da polícia.
Você deve estar se perguntando: mas eles não podem fugir? Não, porque os criminosos sabem tudo a respeito dos familiares dos jovens. É uma situação bem semelhante, para citar uma obra mais pop, à apresentada na série Sky Rojo, também da Netflix. No entanto, a produção espanhola aborda o problema no âmbito das garotas de programa.
Por isso, Mateus (Christian Malheiros), um dos garotos sequestrados, aceita trabalhar mais para quitar logo a dívida dele e dos amigos. Mas, para sobreviver, vai precisar quebrar alguns princípios.
Atuações críveis para uma realidade cruel
O traficante-mor é Luca, interpretado por Rodrigo Santoro, em um de seus papéis mais cruéis, fazendo um vilão crível e odioso. Christian Malheiros, o protagonista, que também trabalhou em Sócrates junto com a dupla de roteiristas, reafirma seu talento ao interpretar um personagem dúbio, onde ora tenta proteger seus amigos e ora começa a “cair na tentação”, conforme vai recebendo os pagamentos e as regalias.
O roteiro é bem amarrado e a direção é esperta ao mostrar que o drama não afeta apenas os brasileiros negros e homens, mas também mulheres e refugiados pobres. Além disso, produção é bem-feita, com figurinos, maquiagens e locações adequados para o propósito do filme. Por fim, 7 Prisioneiros expõe com muita clareza o abismo que é a desigualdade no país. Assim como traz as diferentes visões da elite branca e da classe proletária consciente.
Mas devemos fazer de tudo para colocar um prato de comida na mesa? Como julgar Mateus – e até o próprio Luca – por suas atitudes? O rico está enchendo cada vez mais os bolsos, enquanto o pobre luta a cada dia para garantir seu sustento, seja como for. Falar de fora é fácil. Afinal, como já dizia o saudoso Betinho, “quem tem fome, tem pressa”.
Onde assistir ao filme 7 Prisioneiros?
A saber, o filme 7 Prisioneiros está disponível para assinantes da Netflix. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Trailer do filme 7 Prisioneiros, da Netflix
7 Prisioneiros: elenco do filme
Christian Malheiros
Rodrigo Santoro
Bruno Rocha
Ficha Técnica
Título original do filme: 7 Prisioneiros
Direção: Alexandre Moratto
Roteiro: Alexandre Moratto e Thayná Mantesso
País: Brasil
Duração: 94 minutos
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Classificação: 14 anos