CRÍTICA | ‘Agnus Dei’ tem uma característica notável: falar de violência, estupro e tragédia sem ser violento ou sensacionalista
Luigi Martini
Com previsão de estreia para 14 de julho deste ano, “Agnus Dei” (Les Innocentes, 2015), filme produzido numa parceria entre França e Polônia, nos apresenta o drama vivido pelas freiras polonesas, as quais foram estupradas por soldados russos durante o fim da Segunda Guerra Mundial e que acabam engravidando ou adquirindo doenças venéreas. Mathilde (Lou de Laâge), enfermeira da Cruz Vermelha francesa, é chamada por uma delas a ajudar. Apesar da ordem de prestar socorro apenas aos franceses, ela começa a tratar secretamente de todas as freiras e madres. Além disso, ela enfrenta também os julgamentos das próprias pacientes, que se sentem culpadas por terem violado o voto de castidade, e se recusam a ter o corpo tocado por quem quer que seja, mesmo uma enfermeira.
A película cumpre o papel de expor o drama de uma maneira muito realista. A trilha sonora é quase inexistente e só é presente em situações muito necessárias, onde o uso é pontual. A fotografia é pálida, trafegando pela pureza da cor branca do hábito (peça de vestimenta das freiras) e a neve, – sempre notável em tomadas externas – e cores frias, no caso de toda a ambientação do convento.
O longa tem uma característica notável: falar de violência, estupro e tragédia sem ser violento ou sensacionalista. Do início ao fim, do canto matinal do convento até o clímax da história, o espectador não é assustado por nada explícito e cruel ao olhar. A pureza feminina, a inocência de uma criança recém nascida até o respeito pela fé cristã são certamente assegurados.
Algo muito interessante aqui é o questionamento que a obra expõe perante ao cristianismo. Até onde vão os preceitos e as restrições da Igreja diante da realidade da humana na Terra? É algo que, certamente, qualquer espectador reflete após a sessão.
As atuações de Lou de Laâge e Agata Kulesza, que vivem a enfermeira francesa Mathilde e a Madre Superiora respectivamente, são das mais marcantes. A contraposição entre elas é crucial para o entendimento da trama e suas reflexões, e isso é feito impecavelmente.
Algo que poderia ser melhor explorado é o fator histórico. Maiores detalhes sobre o ocorrido, os soldados russos, a situação pós-guerra e suas consequências.
FICHA TÉCNICA