CRÍTICA | ‘Conexão Escobar’ possui um conjunto de ótimas atuações

Bruno Giacobbo

Tão certo quanto o fato de que o cinema ainda é bem mais prestigiado do que a televisão, é o fato de que a televisão, nas últimas décadas, tem produzido cada vez mais filmes e séries que pouco devem as principais produções cinematográficas. Esta evolução é muito bem retratada em “Homens Difíceis”, best seller do escritor Brett Martin. O que o autor não mostra no livro é que, assim como estrelas da grandeza de Al Pacino e Glenn Close não tem hesitado em aceitar trabalhos na telinha, um grupo de atores, antes restrito ao ambiente televisivo, justamente por causa desta evolução, tem, aos poucos, galgado seu espaço em Hollywood. O principal expoente desta turma, com certeza, é Bryan Cranston. Apesar de não ser nenhum novato, sua cinematografia inclui 24 longas, foi a partir da emblemática participação em “Breaking Bad” que ele passou a chamar atenção dos executivos dos grandes estúdios e, enfim, garantiu uma indicação ao Oscar.

Com Cranston de chamariz, Conexão Escobar, dirigido por Brad Furman, conta a história de uma das maiores operações de combate ao tráfico de drogas da Colômbia para os Estados Unidos, em meados dos anos 80. Robert Mazur (Bryan Cranston) e Emir Abreu (John Leguizamo) são dois agentes federais da alfândega que recebem a missão de se infiltrarem na ramificação norte-americana do Cartel de Medellin. Para isto, Mazur adota a identidade falsa de Bob Musella, um membro graduado da máfia ítalo-americana, e propõe uma parceria para lavar o dinheiro da máfia colombiana. O objetivo é ganhar a confiança do chefão Roberto Alcaino (Benjamim Bratt) e coletar provas para colocar todo o bando na cadeia. Com o passar do tempo, eles ganharão a companhia de uma agente que será fundamental para o sucesso da operação: Kathy Ertz (Diane Kruger).

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Histórias de policiais infiltrados no crime organizado são comuns. Quem, por exemplo, já assistiu “Donnie Brasco” (1997) vai notar as semelhanças. No clássico dos anos 90, à medida que se aprofunda na investigação que encarcerou vários membros da Família Gambino, de Nova Iorque, o agente Joe Pistone (Johnny Depp) vai se envolvendo sentimentalmente com o criminoso Benjamim “Left” Ruggiero (Al Pacino). Aqui, não é diferente. Mazur (Bryan Cranston) não consegue ficar indiferente a Alcaino (Benjamim Bratt) e sua família. No momento que ele é obrigado a cumprir seu dever, chega a dar pena da reação do chefão das drogas. Mais do que um thriller policial, o longa-metragem de Furman esmiuça as relações humanas forjadas em situações de exceção. A relação entre o protagonista e Ertz (Diane Kruger) segue caminho semelhante de gradual envolvimento sentimental, com a diferença que eles estão do mesmo lado e a chance de decepção é menor.

O grande destaque de Conexão Escobar é o seu conjunto de ótimas atuações. Cranston é o que mais brilha, mas não o faz sozinho. Bratt, Leguizamo e Kruger, esta de forma até surpreendente, oferecem desempenhos à altura do protagonista. Tal força coletiva compensa a direção conservadora de Furman e a edição que, certamente, poderia ter dado mais agilidade ao filme. Não que estes dois aspectos sejam um problema. A trama nos prende, é contada com capricho e há, pelo menos, duas cenas muito bem ensaiadas e interpretadas que estão entre as melhores do ano. Contudo, quando comparamos esta obra a outras do gênero, fica a pergunta: o que diretores como Martin Scorsese ou Brian De Palma, em seus ápices, poderiam fazer com o mesmíssimo material? Esta comparação inevitável acaba tirando um pouco do brilho final do longa.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Infiltrator
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 15/09/16
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2015
Duração: 127 minutos
Direção: Brad Furman
Elenco: Diane Kruger, John Leguizamo, Bryan Cranston

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN