REVIEW | ‘Xuan Yuan Sword: The Gate of Firmament’ e um pouco sobre a história da dinastia Shang
Stenlånd Leandro
Xuan Yuan Sword: The Gate of Firmament é aquele jogo que nossa equipe aguardava desde seu lançamento no primeiro semestre do ano. Apesar de destoar um bocado daquilo que já vimos em diversos J-RPGs, Xuan-Yuan consegue ser um bocado diferente ao adentrar em uma narrativa totalmente chinesa ao invés de japonesa, tentando mostrando o que há de melhor na cultura de um dos gigantes no globo.
Os países asiáticos são, em sua maioria, famosos pela rica qualidade em seus jogos. Para aqueles que não são japoneses, tipo a Singapura e a Coreia do Norte, sabemos que há uma infindável notoriedade nos seus games MMORPG, sejam eles para PC ou celular. Em boa parte deles são jogos que estão longe de requerer o máximo de seu hardware.
O título aqui não é um MMORPG, e ergue uma narrativa completamente diferenciada e baseada em fatos reais. Apesar de não parecer, estamos diante do sexto título da série (e o sétimo já está em desenvolvimento) de uma franquia que existe há pelo menos 25 anos. Não chega a ser tão antiga quanto muitos jogos por aí, mas o suficiente para provar o quanto houve esmero em desenvolver o título, ainda que haja muita coisa errada. Lançado SOMENTE na Ásia, Xuan Yuan tem como foco o público chinês e suas dependências, visto que a Softstar é uma empresa taiwanesa. Com isso, o jogo tem apenas opções de Inglês e Chinês como idioma. Contornando essa situação, sobrou a opção de focar no tão esperado C-RPG e ver se o mesmo provou ser digno de nossa espera de quase sete meses.
Indo para os gráficos, podemos dizer que estão longe, mas muito longe de serem os ideais para a atual geração. Mesmo que falemos que esse quesito raramente seria o foco, visto que há muita coisa boa por aí com gráficos aquém da última geração (Cuphead, Sundered, dentre outros), acredita-se que até mesmo um Playstation 2 conseguiria rodar o joguinho da Softstar sem maiores dificuldades. Certamente você jamais diria que temos um jogo de Playstation 4 se formos só analisar sprites, gráficos, cores e afins. Ainda que confessemos que os trailers tenham nos chamado muita a atenção pela parte visual do jogo, este detalhe é seu maior calcanhar de aquiles.
Alguns detalhes são muito arcaicos. A forma como o personagem se move é horrível e limitada, além de passar uma imagem totalmente fora do singularismo. O mapa fica em cima de toda o jogo caso necessite ampliá-lo. Você pode se perder se tiver que dar zoom no minimapa.
Se formos analisar bem, temos uma mescla entre o modo de movimento de Silkroad, Metin 2 e até mesmo Tíbia em diversos momentos, sendo algo travado e complexo até de explicar. Temos uma enorme variedade de ataques normais, mas muitos parecem ter vindo da era mesozoica de tão antigos e semi-funcionais. Cada personagem que se junta ao grupo tem seus movimentos e magias diferentes do usual, mas o modo de combate não requer muita habilidade, sendo uma coisa bem simples e direta. Temos calabouços entupidos de puzzles e isso talvez seja a melhor coisa no quesito jogabilidade. De qualquer modo, após algumas horas, o sistema de jogo fica bastante repetitivo e limitado, não mostrando nada de tão intenso assim quanto nossa equipe um dia chegou a pensar que seria. Conscientize-se de que não estamos falando de um jogo ruim, mas está longe de ser aquele game indutor da compra de um console. Entende, né? De qualquer forma, a inteligência artificial não funciona muito bem. Por diversos momentos ficávamos próximos dos inimigos e eles nada faziam.
Xuan-Yuan não vive só de momentos ruins. O game tem partes interessantes e até temos uma narrativa rica com cutscenes que lembrarão os filmes de Kung-Fu de Jackie Chan e Jet Li, e longa-metragens de fantasia chinesa onde a vestimenta e a arte faz o filme ao menos não se auto-esmerilhar com cenas patéticas.
Aqui temos muito chororô, drama mexicano, com boas atuações de seus protagonistas, mas tudo tem seu limite. Houve muito sofrimento envolvido na trama e esse drama eloquente precisava ganhar um certo destaque sim, afinal é o cavalo de troia do título. Temos um guerreiro jovem, bem estilo Jet Li em sua juventude, que precisa proteger seu vilarejo. As legendas estão legais e mostram (fora das cutscenes) o que precisamos saber sobre todo o bafafá que estaria acontecendo para trilharmos nossa progressão.
Somos na verdade introduzidos a um rei que existiu na vida real chamado Wu Ding (e que no jogo se chama Sikong Yu/Feng Yu). Esse ‘rei’ é o vigésimo segundo da dinastia Shang durante a China Imperial. De acordo com relatos, ele viajou por muitos anos enquanto era príncipe, então conheceu o sofrimento de seu povo mais que outros reis um dia conheceram. Ele cultivou o respeito e aliança das tribos vizinhas ao casar-se com cada mulher desses vilarejos. Zi Qiao (que na maioria do jogo aparece ao lado de Yu como uma espécie de parceira para todas as horas), foi a que mais se sobressaiu no coração de Feng. Esse garotão teve praticamente 64 esposas, mas Fu Hao (Zi Qiao) é sua favorita e amada.
Não é somente uma questão de amor entre homem e mulher, mas que vai além disso. Temos um carinho e afeto grandioso sem precedentes, um cuidado maior, e que, infelizmente, não durou tanto assim. De acordo com a história, Zi Qiao, a menina que deixou Feng Yu perdidamente apaixonado, veio a falecer em uma idade muito jovem e bem antes do rei.
A melhor parte do jogo, ao lado de sua narrativa, é a trilha sonora. Temos um emaranhado de instrumentos chineses na execução das faixas. O uso da Citara Gu Qin é perfeito. Em alguns momentos chega a ser tão magnífico que me sentia na China Imperial com diversas mulheres ao meu lado tocando esse tipo de instrumento, que é ancestral de Gu Zheng. Claro que não poderia ser por menos, afinal temos a competência de ninguém menos que o vencedor do Cavalo de Ouro, Rizet Tsen, famoso na China e Taiwan por suas belíssimas composições. Ele não estava sozinho nesse trabalho árduo de compor faixas tão exímias. Ao seu lado estava Shinray Woo, também muito conhecido por aquelas bandas por suas belas composições. Então havia uma dupla trabalhando em faixas muito bem feitas e com um apelo melódico muito grande. Acredito que todos vocês já chegaram a escutar esse tipo de instrumento em um filme ou outro, e certamente tivemos isso em O Tigre e o Dragão. As faixas são muito lindas e ajudam o jogador a imergir ainda mais na experiência final. Todos devem escutar essas músicas independente de gostarem do jogo ou não, pois é bem gratificante o resultado final. As batalhas contra os chefes de fase também possuem músicas interessantes.
O jogo foi testado tanto na versão do PS4 quanto no Xbox One e não apresentou nenhuma diferença entre elas, mesmo quando tivemos algumas experiências de queda de framerate.
O VEREDITO
Estamos diante de um RPG Chinês que tem uma duração de aproximadamente 20 horas de jogo caso deseje platinar/miletar. Não é aquele jogo no estilo God of War ou Cuphead que me forçaria a comprar um console, mas tem suas qualidades muito mais explícitas que seus defeitos. Lançado inicialmente para PC e, em seguida para PS4, o título agora ganha sua versão para o console da Microsoft com lançamento mundial (sem frescurite de sair somente para uma região), não sendo somente lançado na Ásia, o que é bom, afinal há um nicho ativo para este gênero e, certamente, as vendas funcionarão muito mais que no console da Sony.