REVIEW | ‘Assassin’s Creed: Origins’, além de uma obra-prima, é o melhor da franquia

Stenlånd Leandro

Assassin’s Creed é uma franquia que existe há uma longa data, e aqui  já se vão 10 anos de um game que foi muito bem recebido pela crítica em seu lançamento. Seu formato inseria uma linda narrativa com ótimas opções furtivas e uma história muito consistente. Apesar de uns jogos aqui e ali terem tropeçado, a série em si não deixou de ser um sucesso, oscilando entre seus mais belos títulos e até mesmo tentando inovar para um outro público, pois o game passou até mesmo a trilhar para o gênero plataforma, lançando títulos como: Assassin’s Creed Chronicles China e Chronicles Russia.

A série lançada pela Ubisoft provou que nem só de Hack N’ Slash ou Action RPG vive o homem. Era preciso algo mais. Sempre estivemos acostumados a encontrar um inimigo no meio do caminho e afundar o botão para espancá-lo à sua frente até a morte. Apesar de Tomb Raider e outros jogos por aí terem ensinado que furtividade pode ser um bom parâmetro de vitória, sabemos que Assassin’s Creed se solidificou por causa desse parâmetro.

E agora chega o novo título da Ubisoft: Assassin’s Creed: Origins. Este já vinha vinha anunciando uma certa promessa de reinventar a franquia tanto no quesito visual quanto no lado técnico. Era difícil para a Ubisoft dar sequência aos jogos sem uma espécie de recomeço. Ao tentarem mostrar que Syndicate poderia ser uma aposta e tanto, viram que não seria a melhor escolha e assim deram um passo atrás e decidiram deixar a trama do jogo mais no passado. Na verdade, não havia mais para onde ir e nem o que fazer senão tentar ‘novas’ veredas por caminhos ‘antigos’. É então nesse ponto que Assassin’s Creed: Origins, lembra – e muito – games sandbox (mapa aberto com mecânicas de RPG). Ao iniciarmos Origins, de cara, já da pra ver a grandiosidade que há neste que em outros não havia. Para começar, a amplitude do mapa é sem precedentes. Não haviam mapas dessa magnitude em jogos de outrora da série. Outro fator importante em relação a esse ‘reboot‘ é que Desmond Miles não retorna ao game. Vale lembrar que, Desmond foi morto em Assassin’s Creed III e, mesmo após a sua morte, a Abstergo deu continuidade ao Projeto Animus utilizando de seu DNA, dando assim origem à trama de Assassin’s Creed IV: Black Flag.

Sem Desmond Miles, agora estamos controlando uma nova protagonista cujo nome é Layla. Ela reviverá as memórias de Bayek, um descendente de uma pequena localidade ao Norte do Egito Antigo chamada Siuá. Bayek é um Medjai, que vive com total intuito de proteger os habitantes de Siuá, suas tarefas vão desde caçar animais selvagens, eliminar bandidos, além de outras tarefas investigativas. Sendo assim, ele, ao lado de sua mulher, Aya (jogável em determinado ponto do jogo), e de seu filho, Khemu, serão os personagens centrais da trama, além dos respectivos vilões, é claro. O que Bayek não esperava é que um dia se tornaria defensor de todo o Egito, dando início à caçada contra a chamada Ordem dos Anciãos, o que futuramente se tornaram nos Templários. O que encanta em Origins é como o título conseguiu reinventar a franquia se passando durante o Antigo Egito quando o mesmo ainda usava hieróglifos para o contato ao invés da língua árabe usada nos dias de hoje.

Apesar do game possuir uma trama principal, não existe um percurso específico a ser seguido pelo jogador, ou escolha certa ou errada. Para quem conhece o formato sandbox sabe muito bem que o mapa acaba sendo seu por completo, seja para tirar fotos em lindas paisagens – e foi o que aconteceu e muito pela internet afora – e, consequentemente com isso, aumentar seu tempo de jogatina, ou até mesmo transformar o jogador no responsável por suas idas e vindas à missões principais e/ou secundárias. Até a postura (furtiva ou mais violenta) ditará como será o desenrolar da trama em certos locais. As decisões tomadas vão muito além da praticidade, já que a forma como cada pessoa costuma jogar influenciará também a progressão em Assassin’s Creed: Origins, moldando assim, diretamente a sua experiência. Particularmente, optei por ser um real assassino, ao invés de usar mecânicas antigas da franquia, em especifico a furtividade – e confesso que me dei bem matando cada inimigo que via. Em um momento ou outro, era forçado a chegar na surdina, visto que esse gênero de jogo sempre foi muito mais complicado ir frente a frente contra alguém. Para criar uma maior longevidade de seu personagem, o game lhe fornecerá algumas alternativas além da furtividade, e que não funcionarão tão bem.

Para aqueles acostumados com um mapa indicando onde deve ir e a distância predeterminada, em Assassin’s Creed: Origins tem um detalhe um bocadinho chato. Pois, como os locais que ainda não foram explorados ficam pré-marcados com pontos de interrogação na bússola, você continua sendo forçando à total exploração, coisa que já existia na franquia, mas não nessa escala gigantesca. Mas há uma enorme vantagem nesse ponto em relação a outros títulos de AC, pois temos a presença de Senu, uma águia adestrada e controlada por Bayek. Com ela você poderá checar os locais antes de ir até eles, além de rastrear a localização e força dos soldados inimigos. Esse item  ajuda e muito na escolha da estratégia.

Saindo um pouco do enredo, a Ubisoft promoveu boas mudanças no sistema de combate e na maneira como seu personagem evolui. Origins possui  inúmeros elementos que se encaixam mais num tom de RPG e isso, de certa forma, me preocupou, visto que recentemente tentaram inovar com For Honor. Mesmo que saibamos que conseguiram acertar até um certo ponto,  pensei que todo modo de combate em Origins ficaria pesado, só que não ficou. Ainda assim, diferente do que acontece em For Honor, a câmera aqui é bastante livre e, nos combates, a opção de fixar a mira no adversário foi mantida, coisa que é muito comum neste formato de jogo sandbox. Contudo, este tipo de game nos dá a opção de personalizar um personagem mais furtivo ou, em certos momentos, uma máquina de combate. E assim como gastei exatas 47 horas totalmente dedicadas a terminar o modo campanha em Horizon Zero Dawn, em AC: Origins essa opção também é válida. Ao invés de sair por todo mapa vasculhando tudo (o que é muito legal de um certo ponto de vista), o jogo poderá se tornar cansativo se pensar que tem somente que cumprir essas missões e deixar de aumentar o level de seu personagem em embates interessantes e versáteis, consequentemente melhorando os atributos e sua forma de combate.

Origins é um título que muitos viram chegar com audácia e ambição de conquistar o público de cara. Isso acontece quase sempre em lançamentos onde a sua única opção é usufruir de um mapa tão enorme quanto em The Witcher 3, onde há total liberdade na exploração, sem restrições com inimigos com level muito acima do seu e  fazendo-o correr deles por inúmeras vezes até que tenha o exato level para combatê-los frente a frente. Foi assim em nossa experiência em Horizon Zero Dawn. Sequer tinha força ou equipamentos para matar um Tirânico ou aquela ave maldita em pleno deserto e tinha de recuar e esquecer aquele ‘boss’ por um momento. É nessa escapulida que toda a beleza de AC: Origins aparece, onde podem ser vistos cenários deslumbrantes para parar e tirar aquela selfie da sua progressão, com as surpreendentes chegada das tempestades de areia, com os efeitos de iluminação ou até mesmo no nível de detalhes em alguns personagens. E quando encontramos algumas tempestades de areia (comuns no Oriente Médio, em específico locais desérticos), tudo que pudemos dizer foi: FODA DEMAIS! Há uma espécie de fidelidade histórica para o país escolhido e sua construção em um jogo altamente diversificado e misterioso. Quando vem em mente o Egito, seja antigo ou não, logo imaginamos muitos mistérios à nossa frente.

Efetuamos o teste em um Xbox One Fat e os resultados foram bem satisfatórios no quesito desempenho. Não experimentamos nenhum tipo de travamento durante o gameplay e nem sequer quedas de framerate. O jogo apresentou alguns bugs e loadings  um pouco demorados, mas que não devem ser levados em conta visto a grandiosidade dos detalhes que o mesmo possui. Sempre teremos problemas em qualquer jogo. Um bug ali, outro aqui, mas, num geral, o título funcionou muito melhor do que o esperado e, assim, nossa equipe deixou de lado os defeitos irrisórios que não abalaram o poder dessa obra-prima.

A trilha sonora é outro diamante lapidado. A música árabe é uma arte integrada com outras áreas do conhecimento e da existência. Ela tem o poder de atingir profundamente os sentimentos, e as pessoas respondem a ela com seus corpos e mentes. Sempre foi dessa forma e se o jogador deseja se sentir oriente médio, então a música de ambiente em AC: Origins é o que há. Há o uso de Buzuk, a clássica Harpa Egípcia, assim como as famosas Darbukas, que rolam soltas fazendo com que lembremos de filmes como ‘As Mil e Uma Noites’, fora inúmeras apresentações da dança do ventre que vemos na TV ou no YouTube. Também percebemos o preenchimento de alguns momentos com a tessitura de sons mais graves, como a viola, o violoncelo e o contrabaixo.

O VEREDITO

Não há como deixar de comparar Assassin’s Creed: Origins com Horizon Zero Dawn e The Witcher 3. O grau de dificuldade não chega aos pés da série Dark Souls, mas há um balanceamento no mínimo convidativo. Se procuras por um jogo grandioso e acima do esperado, então este título é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores coisas que aconteceram em 2017. Simplesmente magnífico.

Assassin’s Creed: Origins foi analisado pela equipe do Blah Cultural no console Xbox One. O game foi gentilmente cedido pela Ubisoft.

Stenlånd Leandro

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
NAN