CRÍTICA | ‘Tomb Raider: A Origem’ tem Alicia Vikander brilhante como Lara Croft, mas ainda não é a adaptação dos sonhos
Claudio Dorigatti
Tomb Raider: A Origem é um reboot na história de Lara Croft, como aconteceu no jogo lançado em 2013, e, com isso, não tem conexão alguma com as histórias apresentadas em Lara Croft: Tomb Raider de 2001 e sua sequência Lara Croft – Tomb Raider: A Origem da Vida de 2003, ambos interpretados pela atriz Angelina Jolie.
Mais uma vez nos deparamos com uma adaptação da história de uma grande franquia dos games para o cinema (nesse caso a terceira). Esse “teletransporte da história” entre as duas mídias muito distintas, sempre (ou pelo menos em sua grande maioria) foi decepcionante, tantos para os fãs dos jogos que esperam mais elementos e referências, quanto para o mero espectador de um filme que, pode ficar sem entender nada além de algumas referências, e essas serem só uma cena sem sentido.
Pode parecer fácil simplesmente recriar as histórias de um game no cinema, mas talvez seja uma das mais difíceis e talvez até pior do que de um livro. Dada a dinâmica e interação que um jogo naturalmente tem para com o fã, até a quantidade de “capítulos e fases”, além da possibilidade do que geralmente fica bom em um jogo e não fica tão convincente em um filme. Não é difícil imaginar que algumas cenas presentes em jogos ficariam forçadas, sem graça ou demoradas em um filme. Portanto, ainda não é o filme que trás exatamente o jogo para a tela, até porque para que isso um dia aconteça, certamente será necessário desenvolver as duas mídias em paralelo e de forma que ambas tenham diversos elementos que possam ser utilizados mutuamente.
Tendo isso em mente, ao assistir, a primeira reação é que Tomb Raider: A Origem é um bom filme de aventura baseado no jogo, com várias cenas fazendo referência ao game, além da trama principal seguir praticamente a mesma história. Curiosamente, o filme se inicia um pouco antes do que seria o jogo, lançado em 2013, para explicar e demonstrar a personalidade da personagem Lara Croft e sua vida atual, e mais uma vez, desconsiderando totalmente os filmes anteriores. Essa “prequel” que o filme trás em relação ao game, é muito importante para a apresentação e construção dessa nova Lara. Certamente, se essa história não fosse apresentada e as cenas iniciais mostrassem a personagem direto no barco, assim como no jogo, seria um reboot mal explicado, e talvez faria com que quem assistiu os filmes anteriores, procurassem alguma ligação entre eles. Morosas, mas necessárias, são a cenas de flash back que contam a relação de Lara e seu pai, Richard Croft, e explicam um pouco das habilidades da personagem. Curiosamente quase não há cenas de alívio cômico, e advinha, não fez falta!
A escolha da atriz Alicia Vikander para esse novo filme, trás também uma Lara Croft sem o estereótipo exagerado como nos primeiros jogos e filmes (com a Angelina Jolie de seios maiores do que são, por exemplo). Dessa forma, Lara é mostrada como uma lutadora (literalmente) que, além de inteligente, é persistente e sem qualquer apelo com “cenas sexualizadas”, não que Alicia não seja linda e tenha um belo corpo (constantemente mostrado no filme), mas é a mulher atlética e forte, não a gostosona. Alicia Vikander, inclusive, interpreta Lara Croft de uma forma totalmente nova e muito bem realizada. O vilão Mathias Vogel, interpretado por Walter Goggis, poderia ser mais forte como personagem, que, apesar de seus atos, não é aquele rival que cativa com sua personalidade vilanesca. A direção fica a cargo do norueguês Roar Uthaug, que apesar de um furo na trama (obviamente isso também inclui escritores e roteiristas), consegue contar uma boa história de aventura e ação.
É interessante notar que, obviamente, inúmeras cenas são construídas em CGI ou receberam retoques e complementos. Contudo, é um filme onde é difícil distinguir a pós-produção das cenas reais, talvez porque o diretor preferiu não abusar demais da computação ou teve a sabedoria para que o longa não parecesse uma animação, como tantos outros que vemos. Engraçado que há alguns anos queríamos mais é ver muitos “efeitos especiais” em tudo, e na época, nem ligávamos para os aspectos de desenho animado que isso trazia, mas hoje, talvez pelo uso em larga escala do recurso, ficamos incomodados com exageros. Os cenários, locações e iluminação receberam também os mesmos cuidados e são bem convincentes. A trilha sonora me fez lembrar a do Planeta dos Macacos: A Guerra, composta por Michael Giacchino, durante quase todo o tempo em que Lara Croft está na ilha, mas a música, na verdade, ficou a cargo de Junkie XL e James Newton Howard. A trilha é interessante, encaixada de acordo com as cenas e bem executada, mas nada que possa ser lembrada com algumas notas depois de um tempo, como acontece com os grandes clássicos que bem conhecemos.
Claro que o enredo não é exatamente nos mínimos detalhes como o que se passa no jogo, mas traz diversos elementos, como cenas de referência e os objetivos de Lara e Richard Croft. Inclusive, em diversas cenas fica explícito até para quem não jogou o game, que é uma cena totalmente baseada em um jogo, seja pelos enigmas, armadilhas e obstáculos enfrentados por Lara. Algo na história que me surpreendeu, sem qualquer spoiler agora, até porque na sinopse e no jogo é descrito que tanto Lara, quanto seu pai, estão em busca da lenda de Himiko, é exatamente o final mais com “os pés no chão” do que algo sempre muito exagerado como costumamos ver. Da mesma forma, Lara não é apresentada como uma super heroína que possui poderes especiais e sobrenaturais (até porque no jogo também não é), mas sim com habilidades especiais por treinamentos exaustivos, é o que os flashbacks e as cenas iniciais do filme nos apresentam. É interessante, porque a película se afasta demais daquele exagero que estamos acostumados em produções de super-heróis.
Por fim, Tomb Raider: A Origem ainda não é o filme que iremos dizer: excelente adaptação de um game. Ainda assim é um bom entretenimento, além de ser bem produzido.
::: TRAILER
https://youtu.be/-PSM-kB3akI
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Tomb Raider
Direção: Roar Uthaug
Elenco: Alicia Vikander, Walton Goggins, Dominic West, Daniel Wu, Kristin Scott Thomas, Nick Frost, Hannah John-Kamen, Antonio Aakeel, Alexandre Willaume-Jantzen, Michael Obiora, Keenan Arrison, Milton Schorr, Duncan Airlie James, Sarah Sayuri Hare, Emily Carey, Maisy De Freitas
Distribuição: Warner Bros.
Data de estreia: qui, 15/03/18
País: EUA
Gênero: Ação, Aventura
Ano de produção: 2017
Duração: 118 minutos
Classificação: 14 anos