CRÍTICA | ‘Aniquilação’ entrega menos do que a expectativa, mas encerra de maneira perturbadora
Giovanna Landucci
O longa-metragem Aniquilação foi inspirado no livro de ficção científica escrito por Jeff VanderMeer. Dirigido por Alex Garland, promissor no gênero sci-fi, esse longa promete algo intenso, mas acaba se perdendo. Natalie Portman é a protagonista e interpreta Lena, uma bióloga conceituada que dá aula em um instituto onde defende uma tese sobre células cancerígenas e divisão celular. A excelente atriz, dessa vez, acabou sendo subaproveitada já que a personagem tem falas robóticas e não interage muito bem com os demais personagens, perdendo sua força.
Produzido pela Paramount, este filme conta com muitos efeitos especiais e momentos de tensão. Idealizado para os cinemas, mas com uma fraca composição, e provavelmente por ter históricos de baixas bilheterias no gênero, decidiu vender para a Netflix e apostar no fenômeno de streaming como veiculo.
Fica claro que incontáveis cenas com enquadramento, cor e foco foram pensadas para o cinema. Além da ousadia e impacto visual, características que ficam marcadas, atriz consagrada para protagonizar, entre outros pontos que perdem seu valor ao longo da história. A trama vai e volta entre passado e o que está acontecendo no momento presente, mas não fica muito claro esse viés. Somente a partir de segundo e terceiro ato se reparam alguns detalhes que dão vida a história, só que falta dinâmica.
Divida em capítulos, “O Brilho”, “O Farol”, “Área X”, essas divisões não estabelecem conexão nenhuma ao espectador e não funcionaram em fazer paralelos entre as cenas do longa como recurso de montagem, porém, fizeram referência aos atos no cinema mudo, que entre uma cena e outra, expuseram uma tela preta com o título do próximo capitulo na cor branca. Lena está em quarentena em algum lugar com cientistas que a enchem de perguntas. Fica claro que alguém foi o único sobrevivente de uma expedição.
Todas as cenas entre passado e presente têm iluminação diferenciada o que faz com que o espectador perceba claramente a diferença de ambiente e provavelmente épocas da vida da personagem. Enquanto está sendo interrogada, a sala é muito bem iluminada e com cores vivas. Já com seu marido ou no instituto, vemos um ambiente mais apagado e escuro, utilizando-se de um filtro acinzentado azulado.
Porém, muito facilmente se confunde o timing de cada cena, afinal, os cortes são rápidos de uma para outra. De início, já se sabia que seu marido havia sumido, pois é tratado entre um colega de trabalho em uma momento com Lena onde falam sobre pintar seu quarto e superar, já que está desaparecido faz muito tempo.
Lena vê no misterioso reaparecimento de seu marido Kane, que foi dado como morto, uma oportunidade de se juntar a missão com outras pesquisadoras (Jennifer Jason Lee, Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Tuva Novotny) – seus talentos como atrizes coadjuvantes são mal aproveitados devido às personagens serem pouco desenvolvidas na trama, se perdendo dentro de confusões e irritações.
Kane volta para casa estranho, sem memória e apático, o que motiva Lena a prosseguir com as demais. Uma das investigadoras que vai junto com elas na missão é quem ficou encarregada no começo do filme a fazer uma série de perguntas a ela e quem mostra para onde e por que seu marido foi. Lena pede a ela para que não conte às demais que seu marido era um dos soldados que regressou da missão com vida. A partir daí, a trama começa a ganhar movimento e corpo. Quando ingressam na Área X, vemos um mundo repleto de efeitos especiais, espécies estranhas que a bióloga se interessa em analisar, e elas começam a investigar os locais por onde os outros militares desaparecidos estiveram.
Os planos de câmera são parados, não dão movimento ou continuidade à cena, mantendo-se no mesmo foco. Nem quando alguém está correndo, fugindo ou coisas estranhas passam a acontecer. Seria necessário um trabalho de câmera mais desenrolado, enquadramento diferente para ser inspirador. Belas e coloridas paisagens dão o ar da graça mas tudo se perde no momento em que o filme passa a ser um terror científico com algum toque de “Anaconda” e “Alien” e que, nos momentos em que deveria ser dinâmico, assustador, dando vida ao suspense, se torna tedioso.
Na maioria dos aspectos, Aniquilação entregou menos do que a expectativa e bem menos ainda do que é capaz pelo enredo apresentado. Porém, o final é perturbador e faz com que se pense o que realmente aconteceu, onde o espectador pode criar seu desfecho e entendimento, algo do que foi feito em “A Origem”, filme com Leonardo DiCaprio que também mostra uma realidade paralela.
Aniquilação se enquadra em um terror cósmico, às vezes um pouco dramático que faz com que algumas cenas pareçam forçadas. O gênero sci-fi da trama traz certos aspectos da raça humana, de outras existências fora do padrão humano e despreparo da humanidade para enfrentar e confrontar o restante do universo e o que nele habita. A trama comete vários tropeços, ficando difícil de amarrar alguns contextos apresentados, mas encerra fazendo o espectador refletir a relação do ser humano com tudo que está a sua volta.
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Annihilation
Direção: Alex Garland
Elenco: Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Oscar Isaac, Tuva Novotny, David Gyasi, Benedict Wong
Distribuição: Netflix
Data de estreia: seg, 12/03/18
País: Estados Unidos
Gênero: Ficção científica, Suspense
Ano de produção: 2018
Classificação: a definir