CRÍTICA | Carisma de Amy Schumer é o grande destaque de ‘Sexy por Acidente’
Giovanna Landucci
Os palcos de comédia stand-up nos Estados Unidos têm Amy Schumer como uma grande sensação do humor. Considerada muito honesta, ela fala sobre a realidade da mulher e tem uma pegada bem feminista e super empoderada. Tudo isso a fez conquistar seu próprio programa Inside Amy Schumer, um seriado de esquetes que esteve no ar até 2016.
Escrito pelos especialistas Abby Kohn e Marc Silverstein, com filmografia sempre embalada por muito humor, como pode ser visto nas comédias românticas “Nunca Fui Beijada” (1999), “Ele Não Está Tão a Fim de Você” (2009) e “Como Ser Solteira” (2016), o trabalho realizado em Sexy por Acidente foi novamente muito bem-feito porque fugiu dos clichês e trouxe uma certa inovação em um roteiro que lembra “O Amor é Cego”, onde o mais importante – além da dose de risadas – é a combinação de uma bela mensagem.
A verdade é que se Schumer, com seu humor ácido e dinâmico, tivesse ficado a cargo do roteiro, o resultado poderia ser mais honesto e um pouco menos “auto-ajuda”. No entanto, a proposta aqui é pôr algo mais abrangente que atinja diversos tipos de público e, inclusive, consiga passar uma mensagem importante de forma alto astral. Por isso, o filme foi desenhado com o tipo de humor que consiga dialogar com o maior número possível de espectadores. Para que isso seja possível, a história se vê rodeada de doçura, ingenuidade, inocência, típicas produções das décadas de 80 e 90, como, por exemplo, “Quero ser Grande”, onde em determinado momento, a personagem se encontra assistindo em sua casa, ao estilo “Sessão da Tarde”.
Na trama, Amy é Renee Bennett, funcionária de uma famosa empresa de produtos cosméticos. Porém, sua função não tem esse glamour todo. Ela trabalha a partir de um porão, ao estilo “não quero gastar com um departamento que não é meu foco” e divide o pequeno espaço com um colega da área de TI que não demonstra ser seu amigo, talvez por timidez, já que todo mundo nesse filme deixa suas inseguranças e problemas de autoestima bem claros. Com sua baixa estima, com seu corpo, consigo mesma, com suas amigas que ela ama e valoriza e que são bem parecidas com ela, e com um trabalho que simplesmente adora, mas que almeja alcançar poder trabalhar mais próxima da linha de produtos que tanto idolatra, Renee tem uma vida OK e vive sonhando em ter ou ser algo que acredita que não seja: linda.
Em certo momento da trama – e não vou contar exatamente como, pra não estragar a surpresa com spoilers -, ela bate a cabeça e começa a se sentir mais do que bem consigo mesma, porque passa a se enxergar linda como sempre quis ser, como uma modelo de capa de revista. Acontece que ela não percebia que tinha suas qualidades, como, por exemplo, falar bem em público, tratar bem o cliente, se vestir de forma estilosa e graciosa, e que, mesmo com quilinhos a mais, poderia ser quem sempre almejou, alguém com um bom emprego, com um namorado, entre tantas outras coisas.
Pois bem, falando assim parece que Sexy por Acidente é aquele típico filme “Sessão da Tarde” que já vimos inúmeras outras vezes. E ele é. Porém, de uma forma repaginada e agradável, igual a uma das referências que faz a “Pequena Miss Sunshine” (quando assistirem à cena vão entender).
A ideia em querer focar na afirmação da autoestima de mulheres que não se sentem confortáveis em seus próprios corpos é louvável, mas, no fim das contas, toda a jornada da protagonista se dá num loop e entra em uma epifania na qual já deveria ter realizado há tempos, ainda mais em pleno 2018. A inversão de valores promovida pela personagem e pelo longa talvez não acerte totalmente em seu discurso, resvalando no politicamente incorreto, mas, ainda assim, vale as risadas e reflexão que traz. O grande acerto é, sem dúvidas, o carisma da atriz, que levou o público a refletir sobre suas próprias falhas e perceber que todos têm suas inseguranças, com muito alto astral dando veracidade e não deixando a trama pesada, como costumam ser histórias que beiram o complexo mundo da autoajuda. O peso do filme fica nas costas da protagonista e humorista, para que ela dê um baile, um show, tornando a ideia aceitável devido ao seu empenho e cara de pau (principalmente na cena em que faz uma coreografia em uma competição de biquíni), e sendo completamente o que o título em português diz: Sexy por Acidente.
Aliás, sobre isso, Sexy por Acidente funciona muito melhor como título do que o original da versão americana “I Feel Pretty”, porque, literalmente a partir de um acidente, ela começa a ter atitudes que a deixam sexy e atraente, não somente no quesito casal, mas também para o seu trabalho. O longa tem um objetivo certeiro e fala com alma e coração, mas com o intuito de atingir seu objetivo, caminha por estradas tortuosas, se perdendo em algumas partes do trajeto. No entanto, ele leva o espectador, mesmo em meio a partes forçadas, a rir, se divertir e repensar seus conflitos internos, saindo da sala de cinema com a alma lavada e uma nova visão de si mesmo.
::: TRAILER
::: FOTOS
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::: FICHA TÉCNICA
Título original: I Feel Pretty
Direção: Abby Kohn, Marc Silverstein
Elenco: Amy Schumer, Emily Ratajkowski, Michelle Williams
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 28/06/18
País: Estados Unidos
Gênero: comédia
Ano de produção: 2018
Classificação: 12 anos