CRÍTICA | ‘Virgens Acorrentadas’ é uma gororoba sem definição
Wilson Spiler
“Não é o tipo de filme que você está pensando”. Ao menos é o que diz o cartaz oficial de Virgens Acorrentadas (Virgin Cheerleaders in Chains), que estreia nesta quinta-feira, 9, em poucos cinemas do Brasil (mais especificamente, em 15 salas). A título de curiosidade, estas salas estão distribuídas em 12 cidades de 7 estados: RJ, SP, DF, PR, SC, GO, PI. A frase pode ser verdadeira, dado os acontecimentos da película e, principalmente, o seu final, mas é sim uma produção B, ou seja, de baixo orçamento, algo que já era bem indicado no próprio pôster, no trailer e, claro, na premissa da produção.
A trama tem até um argumento interessante. Ela é focada em Shane (Ezekiel Z. Swinford), um roteirista frustrado que tem em mãos um bom roteiro (na visão deles) jamais produzido e trabalha em um drive-thru para ganhar a vida; na namorada Chloe (Kelsey Pribilski), que sempre o apoiou, o acha brilhante e leva a vida com um emprego numa bombonière de cinema. Após tantas negativas de produtoras, mesmo sem dinheiro, eles mesmos resolvem produzir, dirigir e escrever o próprio filme. Com isso, começam a recrutar o elenco e levantar fundos para a produção. Essa parte é bacana porque mostra a dificuldade de se fazer cinema, ainda mais sem recursos. Quem é estudante ou apenas amante da sétima arte vai gostar de ver. Para isso, eles precisam depender da boa vontade dos amigos e de atores amadores. No casting, começam a aparecer pessoas como strippers, técnico de geladeira, músicos, e por aí vai. O pai de um dos amigos é rico e promete ajudar a financiar o longa-metragem, mas exige um roteiro pronto e que seja bom. É quando Shane começa a ter um bloqueio criativo e não consegue ter ideias para finalizar o texto.
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Os problemas começam aí. O que tinha tudo para ser uma paródia de terror trash das mais divertidas, acaba ficando arrastada, porque tudo acontece de forma rápida e essa falta de criatividade do roteirista vira o mote da história e situações absurdas e sem sentido começam a se desenvolver. Personagens que aparecem do nada, sem serem apresentados; explicações desconexas com os fatos; reações inacreditáveis para situações estarrecedores. Chocante. O filme se perde num todo. Há uma parte, por exemplo, que parece começar a virar uma espécie de documentário sobre a produção do longa, o que seria até elogioso. Mas, de repente, o “documentarista” aborda o casal principal sobre uma morte ocorrida no set. É quando eles finalizam a entrevista, dizendo que não poderiam falar sobre isso, como se aquela tivesse sido a ÚNICA morte! Só aquela abateu eles? Como assim?! E PELAMORDOSMEUSFILHINHOS! Não me venha dizer que isso é um spoiler porque estamos falando do gênero terror, ou seja, óbito é o atestado mais comum nesse produto da sétima arte. Vamos combinar, né?
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Aliás, foi bom tocar nesse assunto de terror. Aqui, ao que tudo indica, deveríamos estar à frente de um subgênero chamado slasher, aquele à moda antiga, onde pobres moças são perseguidas por algum assassino com armas penetrantes e cortantes, onde o sangue jorra por todos os lados. Agora, internauta, se você está pensando que veria algo para saciar sua nostalgia em pleno século XXI, só posso parafrasear o “poeta”: ERROU! Olha, é quase uma ofensa consideramos Virgens Acorrentadas como terror também. Não é sequer um jump scare, saca? Aquele que você toma uns sustos de vez em quando? Aí está: tanto o filme quanto os jovens que tentam fazer um longa estão perdidos. Ele não sabe se é terror, comédia, enfim, é uma gororoba sem definição alguma.
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Para piorar, Virgens Acorrentadas tenta surpreender o público com diversos plot twists que só serviram para uma reação: “sério?”. Não preciso nem dizer que as atuações… bem, não preciso dizer. Mas isso tudo não é exigir demais de um filme desse gênero? Talvez seja. Quem sabe eu esteja pegando pesado demais com o longa? No entanto, posso afirmar que está longe das melhores produções trash, B, cult, seja lá o que for que ela seja, que verá na vida. Para não dizer que tudo é ruim, o desfecho me tirou um sorrisinho. Não, garanto que não é sarcasmo com o encerramento da película. Além disso, os atores pareciam – de verdade – estar se divertindo com o que faziam, o que é um grande ponto positivo.
Obs.: embora todo falado em inglês e com atores norte-americanos, parte produção e o diretor Paulo Biscaia Filho são brasileiros, o que vale a espiada pela curiosidade. Com baixo orçamento, apesar de uma crítica negativa deste que vos escreve, só o esforço de produzir um filme do gênero já é digno de reconhecimento.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Virgin Cheerleaders in Chains
Direção: Paulo Biscaia Filho
Elenco: Elizabeth Maxwell, Kelsey Pribilski, Ezekiel Swinford
Distribuição: Moro Filmes
Data de estreia: qui, 09/08/18
País: Estados Unidos, Brasil
Gênero: horror
Ano de produção: 2017
Duração: 94 minutos
Classificação: 16 anos