CRÍTICA | 2ª Temporada | ‘Atypical’ mostra que merece vida longa

Wilson Spiler

Após um longo hiato de mais de um ano, Atypical voltou para a sua segunda temporada um pouco maior, com dois episódios a mais e problemas a resolver entre os familiares. Quem assistiu ao primeiro ano dessa ótima série, sabe que as coisas na casa da família Gardner não terminaram bem, ou melhor, em pura ebulição. Se você não viu, faça isso, porque antes de ler essa análise, porque ela terá SPOILERS do que aconteceu anteriormente. Mas vale a pena, pois os episódios são bem curtos (menos de meia hora, no geral), muito divertidos, emocionantes e construtivos. É possível assistir – sem exageros – numa tarde. O ruim é a “viuvez” que fica ao esperar pela “next season” (espero que tenha, né? Não faça isso comigo, Netflix!).

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Continuando a resenha, ao fim da temporada, o caso de Elsa (Jennifer Jason Leigh) com o barman é descoberto após sua filha Casey (Brigette Lundy-Paine) fazer a revelação ao pai Doug (Michael Rapaport). Agora, a relação entre os três, claro, fica estremecida e a mãe acaba saindo como grande vilã da história. Sam (Kier Gilchrist), por sua vez, que interpreta brilhantemente o rapaz com espectro de autismo, tenta lidar com a frustração de ter perdido sua terapeuta Julia (Amy Okuda) após ter se declarado para ela. Casey, por sua vez, além do problema com a mãe, ainda tem que lidar com a mudança de escola, onde passa a conviver com alunos de classe social bem mais alta e comportamento completamente diferente do que ela está acostumada. Elsa e Doug tentam resolver a situação dos dois, que querem estar ao lado dos filhos, mas têm a relação afetada por conta de um erro grave da parte dela e que ele não consegue superar. Já Julia descobre que está grávida, mas possui um parceiro que pouco se importa com a situação.

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Isso tudo faz de Atypical uma das séries mais interessantes do catálogo atual da Netflix. Além de conseguir integrar várias histórias e dar importância a diversas tramas diferentes, ela aborda o autismo de uma maneira inteligente, sem torná-lo o centro das atenções do seriado. É claro que é através dessa temática que o programa gira, mas o transtorno é integrado à sociedade e o personagem principal não é visto como um coitado pelo espectador. Sam, por exemplo, namora, estuda, trabalha, faz tudo o que um jovem é capaz. Obviamente, a série também não deixa de fora a questão do bullying, porque ele existe. Não raras são as vezes em o protagonista é chamado de “aberração”, é isolado, enfim, atitudes que todos conhecemos de adolescentes em época de escola.

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Foto: Netflix / Divulgação

Mas é muito interessante como o seriado mostra a evolução do personagem e os exemplos que uma pessoa com esse distúrbio pode dar. Sam, sempre muito fechado, com dificuldades em conseguir outra psicóloga, consegue fazer terapia em grupo com outras pessoas que também têm Transtorno do Espectro do Autismo. Nisso, ele também é incentivado a fazer faculdade pela instrutora Ms. Whitaker (Casey Wilson). No início, ele reluta por ter que se mudar para longe e alterar a rotina,  mas ao descobrir um curso perto de casa e de seu interesse, é motivadora – e emocionante – a sua reação diante dela. É de arrepiar.

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Os personagens Paige (Jenna Boyd) e Zahid (Nik Dodani) continuam muito importantes para a vida de Sam, e ambos colaboram imensamente para o amadurecimento do jovem (além de garantir momentos bem cômicos também) Ele “aprende” a mentir, a ter um relacionamento sem compromisso, se declara apaixonado e consegue até falar em público. Um crescimento adorável para um personagem muito bem escrito.

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Foto: Netflix / Divulgação

Outro nome que tem uma evolução gigante nesta temporada é o de Casey. Ao mudar para a nova escola, ela tem dificuldades para fazer novos amigos no início, até uma confusão com Izzie (Fivel Stewart), líder da equipe de corrida. A partir dali, ela faz algumas amizades que não agradam ao seu namorado Evan (Graham Rogers), o que gera um pequeno conflito na relação. Ele, aliás, está bem mais importante e presente neste segundo ano também.

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Assim como no ano anterior, a segunda temporada de Atypical tem um desfecho que nos deixa ansiosos para saber o que vai acontecer, indicando também uma possível sequência, embora ainda não confirmada oficialmente pela Netflix. Torçamos para que sim. Nos tempos atuais, onde temos tanto desfile de ódio e roteiros sem criatividade, uma série com tanto amor, tanta sensibilidade, lição de vida, que entrega tanta verdade e nos faz rir (sim, é muito engraçada), precisa de vida longa. Amém. ASSISTA NA NETFLIX.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Gênero: Drama
Produção: Netflix
Estreia: 07/09/2018
Criadores: Robia Rashid, Seth Gordon
Produtores executivos: Robia Rashid, Seth Gordon, Mary Rohlich
Elenco: Jennifer Jason Leigh, Keir Gilchrist, Brigette Lundy-Paine, Amy Okuda, Michael Rapaport, Raúl Castillo, Nik Dodani, Graham Rogers, Jenna Boyd, Fivel Stewart, Graham Phillips

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN