Pennywise comprova porque é uma lenda viva do punk hardcore
Danilo Firmino
É sempre difícil falar sobre lendas e o Pennywise é uma lenda do hardcore punk rock norte-americano. Fundada em 1988, em Los Angeles, a banda desembarcou no Rio de Janeiro com sua turnê comemorativa de 30 anos de existência, na última sexta-feira (30/11). Além disso, não vieram sozinhos: trouxeram a canadense Comeback Kid e ainda o Jimmy London e RATS, que conta com o Jimmy London, ex-Matanza, nos vocais.
Se você curte hardcore e nunca ouviu Comeback Kid (também conhecida como CBK) melhor parar o que está fazendo e consertar esse erro. Definir o som da banda é uma tarefa árdua: com musicalidade única, executa um hardcore punk com influências de new metal e crossover. Formada em 2002, chamou atenção logo no seu debut Turn It Around (2003), mas foi com Wake the Dead (2005) que obteve destaque na cena hardcore mundial.
Quando o CBK entrou no palco já existia um bom público presente no HUB RJ. A energia e a performance do CBK foram impressionantes e em nenhum momento o público ficou parado, ainda mais músicas como Do Yourself a Favor e Lower the Line e Surrender Control. Porém, o auge do show foi com Wake the Dead, onde o HUB RJ veio abaixo, com uma imensa roda e com intensa participação da plateia. E assim o CBK deixou o palco, com o público elétrico, causando uma ótima impressão entre os presentes que não conheciam a banda e entre os que já conheciam.
Depois da ótima apresentação do CBK, os norte-americanos do Pennywise entraram no palco sob o grito ensurdecedor dos fãs. Nesse momento, o HUB RJ já estava tomado, com uma ótima presença do público. Como destacar uma música ou momento do show do Pennywise? Poderíamos exaltar a roda que permaneceu “herdeira” do show do CBK, que aumentou de tamanho e insistia em tomar a frente do palco em toda a apresentação dos norte-americanos; ou seria possível também destacar, claro, a participação intensa do público em clássicos como Homesick e Fight Till You Die. Como todo show de uma boa banda de hardcore punk, os fãs fazem parte do show e dessa vez não foi diferente. Além de cantar a maior parte das músicas, os gritos de protesto contra Jair Bolsonaro ecoaram em diversos momentos. Não houve nenhuma disputa entre “ele sim” ou “ele não”: o público em peso não foi nada elogioso, gritando palavras impublicáveis para o futuro presidente do Brasil.
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A aula de hardcore punk seguiu, tanto com o Pennywise quanto com o público. Em Society, a maior roda de todo evento se formou: o público dividido em duas partes se chocou durante parte do refrão, em um ritual punk rock que emocionou todos os participantes nessa celebração. A banda interagia com o público, comentando sobre o show do Morrissey que acontecia no mesmo momento no Rio de Janeiro, incentivando para que a roda aumentasse e executando o cover de Do What you Want? da também lendária Bad Religion. Fuck Autority foi cantada em conjunto com o público que não deixou de gritar em nenhum segundo sequer. Também esteve presente o conhecido cover de Stand By Me, levando grande parte dos presentes a cantar e dançar. Porém, o auge do show ainda estava por vir.
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O ano de 1995 tinha sido especial para a banda depois do lançamento de About Time (1995), trabalho que popularizou o Pennywise na cena internacional. Isso fez com que a banda realizasse cada vez mais shows, tanto dentro quanto fora dos EUA. Embora estivessem no caminho do sucesso comercial ao lado de nomes como The Offspring e Rancid, Jason Matthew Thirsk, fundador, letrista e baixista, ao menos de acordo com o que noticiava a mídia, não estava satisfeito em realizar tantos shows e ainda tinha problemas com álcool e drogas. Em 1996, Jason resolveu “dar um tempo” com a banda, embora oficialmente não tenha saído do Pennywise. Ainda no mesmo ano, a tragédia aconteceu: o baixista foi encontrado morto com um tiro na cabeça – as investigações concluíram que Jason havia se suicidado. Bro Hymn Tribute foi lançada no álbum Full Circle (1997), sendo uma grande homenagem a esse grande nome. A canção é um grande hino sobre amizade, companheirismo e como não desistir e sempre seguir em frente. Quando a música começou a ser executada, o público não sabia se cantava, gritava ou continuava a roda que tomou o HUB RJ, então resolveu fazer tudo ao mesmo tempo! Houve uma literal invasão, com dezenas de pessoas subindo no palco, cantando junto com a banda esse hino do punk hardcore. E assim o show acabou, com o público e o Pennywise juntos, unidos, como diz a homenagem para Jason.
Depois do show do Pennywise, Jimmy London e RATS foram os responsáveis pela continuidade do evento. O RATS foi formado em 2011, executando um punk rock com influências de música irlandesa, som esse conhecido como irish punk. Pioneiros nesse tipo de música no Rio de Janeiro, o RATS pode ser considerado um dos grandes expoentes do Brasil nesse estilo ao lado de bandas como Lugh, Puching Namard, Ketamina e Mcminers. Com o nome consolidado na cena nacional irish punk, um reforço de peso foi adicionado ao grupo: Jimmy London, ex-Matanza, fazendo com que o RATS, agora rebatizado Jimmy London e RATS, possa alcançar voos cada vez maiores.
Infelizmente, alguns atrasos ocorreram antes da entrada dos mesmos no palco que, aliado com o adiantado da hora (quase 02 da manhã), fizeram o que o público aos poucos fosse abandonando o local. Quando a banda entrou, cerca de meia hora depois do fim do show do Pennywise, o HUB RJ estava com um público consideravelmente menor. Porém, quem permaneceu viu uma ótima apresentação e provavelmente não se arrependeu de ficar até tarde no evento. O show demonstrou como a influência de Jimmy se fez sentir no som do RATS, com o mesmo ficando mais agressivo.
O setlist executado no evento foi composto de músicas do Matanza e do RATS, sendo possível notar que boa parte dos fãs apreciavam tanto a antiga banda de Jimmy quanto a nova. Músicas da banda irish punk “pré-Jimmy” foram acompanhados e cantadas por boa parte do público presente, podendo destacar Lobo do Mar, Somos Nós e a ótima Naufrágio. Muitas das canções do Matanza foram também executadas, como a Arte do Insulto, Escárnio, Sabendo que Posso Morrer, Jack Buffalo Head e Ela Roubou meu Caminhão, ficando muito interessantes com as adições de instrumentos como gaita, bandolim, banjo e acordeom. Uma união que pode render uma grande projeção para a sempre competente RATS, bem como perfeita para os vocais de Jimmy, que parece estar bem à vontade no palco, como nos tempos áureos do Matanza. Por fim, a noite foi encerrada com um cover competente de War Pigs, do Black Sabbath, fechando o evento em alto nível.
Algumas pessoas insistem em dizer que o punk rock morreu, um som que ficou no passado e que não tem mais apelo atualmente. O público presente, porém, parecia não concordar com essa afirmação, enchendo o HUB RJ em um festival que não celebrou apenas os 30 anos do Pennywise, mas também a energia e competência do Comeback Kid, a parceria entre Jimmy e RATS e o próprio público carioca que compareceu em peso. Se o punk morreu, alguém esqueceu de avisar para os presentes, pois ele parecia bem vivo!