CRÍTICA | ‘Caixa de Pássaros’ (Bird Box) é um filme sobre sacrifícios, além de um suspense alucinante
Giovanna Landucci
O que você faria se ao invés de viver tivesse que sobreviver? Caixa de Pássaros (Bird Box), a nova produção da Netflix, inicia com narração em off de uma mãe (Sandra Bullock) conversando com seus filhos com voz firme e determinada como uma capitã do Exército ensinando-os a dura realidade da vida e como devem se portar para poder andar nas ruas. Com plano de câmera visto de cima, a imagem é de um grande rio com grandes corredeiras cercado de montanhas e desfiladeiros. Em volta, uma grande floresta. Em tom de ameaça, uma voz começa a falar com as crianças para que nunca tirem as vendas dos olhos, não importando o que sentissem na água ou o que ouvissem na floresta. Era importante também que não conversassem no rio. Ela diz obstinadamente. “Se olharem, vão morrer. Me entenderam?”
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A cena acontece em uma casa, com os três de vendas nos olhos e Malorie (personagem de Sandra Bullock) começa a contar os passos para acertar o caminho entre degraus da velha casa na colina e a ida à floresta, seguindo por fios como seu fossem o velho conto de João e Maria a procurar o caminho de volta do labirinto em que se meteram. O letreiro mostra: Cinco anos antes e, a partir dali a história começa a ser contada em flashforwards, onde a ida e volta aos fatos entre passado e presente se misturam de maneira que o espectador possa entender o que está se passando. A cidade está em caos. Malorie está gravida e vive com a irmã (Sara Paulsen) e na televisão veem notícias do que se passa lá fora. As duas vão ao hospital e, após fazerem exame de ultrassom, veem no corredor uma mulher batendo a cabeça contra a parede sem pestanejar. Elas vão embora e percebem todo o caos que se assola pelas ruas.
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Caixa de Pássaros remete a “Um Ensaio Sobre a Cegueira”, mas que, lançado no mesmo ano de “Um Lugar Silencioso”, irá perder espaço por ter enredo parecido e que fez o mesmo com melhor imaginação. Em muitos momentos o espectador se sentirá aflito junto com os personagens. Sim, é uma produção bem feita. Susanne Bier deixou sua assinatura ao submeter os personagens da trama a constantes provações de resistência emocional e moral e isso fica nítido do começo ao fim. Há presença de alívio cômico em certos momentos quando a personagem de Sandra Bullock consegue respirar e dar uma aliviada por todos estarem dentro de casa, mas também há momentos em que ela tem que se mostrar extremamente forte e autoritária como líder da comunidade que eles criam para sobreviverem diante do caos.
O longa-metragem tem uma trama impactante e eletrizante que envolvem o espectador, mas que, diante de dois filmes muito bons como os que mencionei acima, acaba podendo ser entendido como “mais do mesmo”. A mixagem de som, sons externos, trilha sonora e ambientação contribuem para levar o espectador a sentir a história. Malorie aprende da maneira mais difícil que deve olhar para baixo, fechar os olhos ou venda-los para sobreviver.
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O enredo vai aos poucos contando porque ela teve que ir ao rio com as crianças e como foi parar por lá sozinha. As cenas são todas bem realistas, repletas de sangue. Imagine a sensação de ter que atacar ou até matar outro ser humano por questão de sobrevivência? Caixa de Pássaros faz você se sentir assim e encarnar os personagens. A produção traz excelentes atuações e um elenco de peso, além de uma impecável direção, que se preocupou com todos os detalhes. Se em “Um Lugar Silencioso” os personagens não podiam falar, aqui, eles não podem enxergar e a película transpassa toda essa aflição.
Uma das cenas mais interessantes se passa dentro de um veículo com as janelas pintadas e, por isso, os protagonistas são guiados somente pelo GPS e pelo sensor de movimento, que é quem avisa que as criaturas estão se aproximando. Da mesma maneira como foi feito em “Um Lugar Silencioso”, não temos muitas imagens do que seriam esses “monstros”. Os sons parecem de pássaros, mas o filme tem esse título por outro motivo que não cabe revelar aqui.
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O que mais chama atenção em Caixa de Pássaros não é a destreza de como foi feito e elaborado, mas sim as mensagens que o filme transmite, já que é carregado de cenas que invadem os princípios de ética e moral, como, por exemplo, quando eles têm que decidir se deixam ou não alguém entrar na casa. Malorie também oscila entre uma mulher solidária e amável mulher a uma carrasca general quando precisa tomar decisões que podem vir a prejudicar outros, entrando assim nos embates de discussões morais.
A película carrega uma mensagem de esperança, de se correr atrás dos sonhos. Caixa de Pássaros é um filme sobre sacrifícios, mas, acima de tudo, sobre o valor da família e dos laços que fazemos na vida de mãos dadas com um suspense alucinante.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Bird Box
Direção: Susanne Bier
Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, John Malkovich
Distribuição: Netflix
Data de estreia: sex, 21/12/18
País: Estados Unidos
Gênero: Terror, Suspense
Ano de produção: 2018
Duração: 123 minutos
Classificação: 16 anos