Femina: Veja como foi a sessão de abertura no Cine-Maison

Colaboração

***Colaboração de Marília Cabral***

O FEMINA- Festival Internacional de Cinema Feminino, faz 10 anos e estreou, no dia 15 de julho, em sessão de abertura no Cine-Maison, com 3 filmes: O curta-metragem surpresa, “Quando ela espicha os olhinhos” da diretora Alice Furtado, o clássico e atual “Resposta das mulheres: Nosso corpo, nosso sexo”, da cineasta francesa Agnes Varda, curta-metragem de 1975, e “Marussia”, que estreia sua exibição em terras latino-americanas, 1º longa-metragem da diretora romena Eva Pervolovici.

resposta das mulheres da agnes varda

O filme de Alice Furtado foi um filme “surpresa”, divulgado apenas na hora da sessão. Filmado na França, retrata de maneira delicada e muito intimista a relação de um jovem casal que passa por uma situação extrema da vida a dois, mas que segue junto, colocando questões interessantes acerca da materialidade do corpo. Alice levou à competição universitária Cinéfondation, realizada em Cannes em 2011, seu filme “Duelo Antes da Noite”, produzido na UFF.

Em seguida vimos o curta-metragem da Agnes Varda, “Resposta das mulheres”, que pode muito bem se mostrar como um protesto irônico à data 15 de julho, que é “comemorada” em alguns países como o Dia do homem.

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A exibição deste curta em um festival como o Femina mostrando que, 38 anos após seu lançamento, as questões colocadas pela cineasta precursora da Nouvelle Vague em seu cine-panfleto continuam pertinentes – só exemplifica quão patética é a celebração de uma data que enaltece um gênero que sempre esteve em posição de poder.

As perguntas simples que são colocadas e respondidas por diferentes mulheres ainda são extremamente atuais: O que é ter um corpo de mulher? Como viver em um paradoxal corpo feminino, que é exaltado, mas também execrado? Os homens que não viveram a paternidade são menos homens? Vale lembrar que as plaquinhas de vidro que levantam essas questões no filme de Varda, foram a inspiração para a criação da identidade visual do Festival este ano. (Assista ao filme ao fim da matéria).

Por fim dessa sessão cheia de sensações e questionamentos acerca do corpo feminino, tivemos o longa metragem “Marussia”, que narra as histórias de Lúcia e sua pequena filha de 6 anos, vivendo “em um canto e no outro” de uma cinzenta Paris. O filme, co-produção da França e Rússia, é o primeiro longa de Eva Pervolovici, que já é conhecida em um circuito europeu por uma linguagem inovadora em trabalhos de curtas-metragens, artes visuais e escritos.

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Lucia e Marussia perambulam e dialogam com uma cidade diversa culturalmente, enquanto tentam achar um teto para dormir. Dos abrigos da cidade, à casa de parceiros da mãe, Marussia enche de cor a vida das duas, buscando em qualquer lugar, um pouco de sonho e poesia, da forma mais intuitiva que uma criança poderia fazer.

A Rússia se faz presente na pequena comunidade religiosa que frequentam, talvez em busca de um sentimento de reconhecer-se. As mulheres russas se mostram preocupadas com o destino das duas e tentam levá-las de volta para seu país, pensando que ali elas teriam melhores possibilidades.

Marussia não consegue ser matriculada na escola por não ter documentos franceses. Sua mãe, Lucia, tem a ilusão de que vai conseguir asilo político por ter se relacionado com um homem importante. Não vemos vestígios dessa história, no entanto, apenas uma forma de grito de uma mulher que parece não pertencer a lugar nenhum, percorrendo junto com sua pequena criança e duas malas, ruas de uma Paris que não costumamos ver muito em um circuito comercial, sem cafés charmosos, luzes ou pontos turísticos.

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O cotidiano das ruas, abrigos e do concreto parisiense faz um contraponto com a bela relação criada entre mãe e filha, onde vemos transbordar cor e a fantasia. Marussia pergunta, quando entram em um hotel, se elas podem ter um quarto cor de rosa, e talvez aí consigamos entender as razões de uma mãe que não deixa de viver com intensidade as suas questões, sem conseguir, no entanto, um espaço digno para si e sua pequena. Todas as suas atitudes parecem ser de uma criança que, no fundo, assim como Marussia, também pergunta para uma sociedade que parece não a entender por que também ela não tem direito a um quarto cor de rosa.
O Femina acontece até dia 28 de julho na Caixa Cultural.
A programação completa pode ser conferida no site do festival.
Abaixo, assista o curta-metragem “Resposta das mulheres: Nosso corpo, nosso sexo”, que inspirou a arte desta edição do festival.

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