CRÍTICA | ‘Boi de Lágrimas’

Renata Teófilo

Glauber Rocha costumava dizer que o cinema para o espectador deveria ser uma experiência audiovisual profunda. O filme Boi de Lágrimas, que estreia dia 24 de janeiro e foi dirigido por Frederico Machado, faz exatamente isso: cria uma experiência de imersão audiovisual para quem está assistindo.

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Não espere ver uma trama coerente como estamos acostumados a ver em longas tradicionais. Aqui, o diretor nos apresenta quatro personagens principais e nos dá vislumbres de seus cotidianos, usando vários recursos de linguagem cinematográfica. Os personagens vivem num casarão meio abandonado no Maranhão, dormem em redes e assistem a TV com notícias sobre os protestos contra o governo brasileiro em 2017. Ali, então, se misturam sons de discursos com personagens históricos como Hitler, Fidel Castro, Lula, Churchill, com o som de percussionistas se preparando para uma apresentação de bumba meu boi.

A mulher da história tanto se envolve nos protestos, para choque do que imaginamos ser seu pai e um amigo deste, como também é um dos principais destaques do grupo de bumba meu boi em que o pai toca. Não há diálogos, apenas ações. Com uma edição ágil, Boi de Lágrimas intercala momentos das vidas dos personagens com imagens de filmes do cineasta russo Serguei Eisenstein, matérias de jornal da TV, imagens de um ultrassom e até um formigueiro caótico que pode ser uma alusão ao momento político que é retratado no filme. A fotografia em preto e branco feita também pelo diretor é bela e inserida em momentos oportunos, já que o longa-metragem intercala muitas cores saturadas e chapadas.

Foto: Lume Filmes / Divulgação

Os contrapontos de cenas são um destaque, quando como vemos o suor no rosto do homem que ampara a mulher parindo com o suor do homem tocando seu instrumento, o êxtase calmo no rosto do homem olhando a moça dançando e o êxtase calmo dela durante uma relação sexual com o namorado ou até mesmo a religiosidade dando um alento perante as notícias de violência na TV.

Boi de Lágrimas foi filmado em apenas três dias, com um orçamento de R$ 10 mil e acerta em suas experimentações com áudio, vídeo e narrativa, se tornando um exemplo que o cinema não precisa oferecer somente histórias convencionais.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Frederico Machado
Elenco: Auro Juriciê, Hilther Frazão, Rosa Ewerton Jara, Guilherme Verde, Júlia Martins
Distribuição: Lume Filmes
Data de estreia: qui, 24/01/19
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 55 minutos
Classificação: 14 anos

Renata Teófilo

Nascida no dia do Natal, a paulista Renata Teófilo se formou em Rádio & TV na Universidade São Judas e é uma apaixonada por Cinema.
NAN