CRÍTICA | ‘O Gênio e o Louco’

Alvaro Tallarico

Um gênio e um louco se encontram, sem saber quem é quem, esbarrando no amor e na dor.

Dirigido por Farhad Safinia, O Gênio e o Louco (The Professor and the Madman) começa levemente claustrofóbico. Em seguida, vemos uma perseguição nas ruas escuras de Londres em 1872. Um crime que muda a trajetória de um capitão.

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A película traz diversas reflexões como: quem é o gênio? Quem é o louco? O trabalho surge tanto como uma tábua de salvação como uma obsessão, tendo por trás a língua mãe que une aquelas pessoas. É emocionante e pude ouvir algumas pessoas comentando que tinham chorado muito. Os mais sensíveis sentirão. Não há vergonha em deixar os olhos marejarem, isso somente aumenta o valor do filme, sem jamais apelar para pieguice.

Parece até um longa de tribunal no início, mas, na verdade, é uma surpreendente história real, baseada no livro de Simon Winchester sobre dois homens que acabam tornando-se amigos e participam de um projeto hercúleo: a criação do Dicionário Oxford. O professor James Murray – vivido por Mel Gibson, numa atuação boa e segura – iniciou a compilação, dando de cara com as vaidades e os egos do mundo acadêmico, e com a imensa dificuldade de realizar uma tarefa que beirava o impossível. As consequências que tal esforço traz para a esposa Ada Murray (Jennifer Ehle) e os filhos é bem explorada. James é um escocês autodidata iniciando uma empreitada desacreditada, cavando espaço no meio acadêmico contra (quase) todos. Um gênio?

Foto: Imagem Filmes / Divulgação

Na outra ponta temos o Doutor W.C. Minor, feito por Sean Penn de forma emocionante. Que baita ator. Devo dizer que já valeria assistir só para apreciar sua arte. Minor contribuiu com mais de 10 mil verbetes para o dicionário Oxford, mesmo estando internado em um hospício, ou talvez por isso mesmo. Engraçado que, em 2018, Sean Penn, vencedor de dois Oscars, declarou que não tem mais paixão por atuar. Mas aí está dando show, trazendo um personagem tão difícil e traumatizado, fazendo o público se confundir e ao mesmo tempo criando empatia. William Minor é atacado por fantasmas do passado, sem perspectiva de futuro, sem razões para viver e que acaba por matar. Um louco?

O Gênio e o Louco faz pensar sobre o amor, muitas vezes presente na ausência. A cumplicidade e os sacrifícios de companheiros, a luta entre trabalho e casamento. Um gostar proibido, por quem? A consciência pesada.  Amar de verdade não é fácil. Quem ama? Cuida, sofre, resiste, aceita, cede. O tal amor surge de onde menos se espera, mexe com a cabeça, com as entranhas, com a sanidade. Exige muito e implora para que a porta trancada se abra. Quer olhar nos olhos, tocar mãos e encostar lábios; vence muros e dá liberdade. Faz sangrar também.

Foto: Imagem Filmes / Divulgação

As mulheres têm papel fundamental na trama, como Eliza Merrett (Natalie Dormer), que tem seu marido brutalmente assassinado e tenta criar seus filhos enquanto encara as reviravoltas da vida. É mais uma boa atuação do filme. Ademais, o elenco inteiro não deixa a desejar, guiado com competência pela direção segura e constante de Farhad Safinia, que facilita o desenvolvimento do enredo e dos personagens, sem deixar a peteca cair, mantendo o ritmo. Ficou redondo.

A obstinação de Murray o faz parecer um louco. A capacidade de Minor lhe mostra como um gênio.

No momento de desesperança, senti-me desesperançado. No desespero de William Minor, desesperei-me. Sabendo o que aconteceria, torci para que não acontecesse. Aquela vontade de entrar no filme e impedir aquilo… A sensação de impotência, a torcida para tudo dar certo. A magia do cinema.

Quer ver um bom filme? Pode ir com tranquilidade, dificilmente se arrependerá. Talvez seja bom levar um lenço, mas pode crer que também sorrirá. O Gênio e o Louco estreia no dia 18 de abril nos cinemas brasileiros.

Ah, mas se não amor, então o quê?

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: The Professor and the Madman
Direção: Farhad Safinia
Elenco: Mel Gibson, Natalie Dormer, Sean Penn
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 18/04/19
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 120 minutos
Classificação: 14 anos

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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