Batman 80 anos | O Homem-Morcego no cinema ‘de Tim a Zack’ (e Joss…)
Jorge Feitosa
No dia 30 de março deste ano, Batman comemorou 80 anos desde a sua primeira aparição na revista Detective Comics nº 27. De lá para cá, foram um sem número de histórias em todas as mídias.
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Como a grande maioria, tive contato com o personagem pelos quadrinhos, desenhos e da clássica série de TV dos anos 60 reprisada até os dias de hoje. Mas nada acendeu mais meu interesse que os filmes do personagem, que evoluíram apesar de todos os percalços. Aqui, aprecio as produções mais recentes.
Batman (1989)
O longa estrelado por Michael Keaton foi o marco inicial de um novo tratamento do personagem nas telas, capitaneado pelo diretor Tim Burton.
O uso de luzes e sombras, a trilha sonora de Danny Elfman, a arquitetura de Gotham City, o uniforme do protagonista e sua postura ameaçadora, a interpretação de Jack Nicholson para o Coringa, tudo radicalmente oposto ao que fora estabelecido até então nas telas e que sedimentou o tom sombrio dado ao personagem e suas histórias.
O filme foi um sucesso para a época, arrecadando mais de US$ 400 milhões mundialmente, sendo que custou apenas US$ 35 milhões.
Batman – O Retorno (1992)
Catapultado pelo sucesso do primeiro filme, Tim Burton entrega uma conto de natal soturno, em que um Pinguim grotesco (Danny DeVito), uma Mulher Gato sádica (Michelle Pfeiffer) e um empresário ganancioso (Christopher Walken) atingem o atormentado herói em todos os flancos, seja na persona mascarada, na vida empresarial e no coração.
Michelle Pfeiffer inicia como uma mocinha indefesa, mas saca as garras e brande o chicote para literalmente domar o Morcego, enciumado com a aclamação popular a Oswald Cobblepot em uma trama meio sem pé nem cabeça que gerou controvérsias por cenas um tanto indecorosas e capangas saídos de um circo. Resultado: fracasso de bilheteria, gerando pouco mais de US$ 266 milhões, bem abaixo das expectativas geradas pelo antecessor.
Batman Eternamente (1995)
Batman Forever (no original) foi o início da queda do personagem nos cinemas. Ao invés de retornar às origens, a Warner interpretou de forma equivocada que o problema no personagem estava em seu tom sombrio e resolveu adotar uma abordagem mais família, contratando o diretor Joel Schumacher, responsável (acredite se quiser) pelos cultuados “Linha Mortal” (que ganhou recentemente um remake com Ellen Page) e “Um Dia de Fúria”.
Apesar do time de atores estrelados, o que se viu em tela foi uma série de interpretações rasas, começando por um Val Kilmer que não consegue dar o tom ao protagonista, seguido por um Chris O’Donnell razoável como Robin/Dick Grayson, uma Nicole Kidman que só estava ali para sensualizar, e a dupla de vilões Charada (Jim Carrey) e Duas Caras (Tommy Lee Jones) cheia de caras e bocas.
Mas no fim, entre mamilos aparentes e closes nas nádegas dos heróis, o que se salva mesmo é só a música-tema de Seal, “Kiss From a Rose”.
Batman & Robin (1997)
Ô abre alas, que o Batman quer passar! Nada define melhor essa produção que um desfile de escola de samba.
Empolgado com o relativo sucesso do filme anterior (que rendeu surpreendentes US$ 336 milhões), Joel Schumacher escala George Clooney para viver um Batman/Bruce Wayne sem qualquer diferença entre um e outro e Chris O’Donnell retorna como um Robin cheio de mimimi. Como vilões da vez, Arnold Schwarzenegger e Uma Thurman encarnam um Sr. Frio e Hera Venenosa, respectivamente, mais do que adequados à essa folia de cor e purpurina que, com certeza, inspirou vários carnavalescos.
Para completar, Alicia Silverstone encarna uma Batgirl patricinha e o desconhecido Jeep Swanson vem como um Bane demente e cheio de esteroides só pra vazar como um boneco inflável. No fim, a fria mesmo foi para o próprio Morcegão, que ficou na geladeira até ser ressuscitado de maneira digna nos anos 2000.
Batman Begins (2005)
Após o sucesso de X-Men e Homem-Aranha, Christopher Nolan assumiu as rédeas dessa produção séria e compenetrada, muito mais preocupada em desenvolver os personagens do que ganhar louros com ação e efeitos.
Christian Bale, o Batman definitivo, leva não apenas seu talento dramático como também seu vigor físico para compor o personagem em uma clássica jornada do herói, seu treinamento e retorno para salvar a cidade de Gotham da decadência, com o auxílio do paternal Alfred (Michael Caine), personagem que nunca havia recebido tamanha relevância.
Ao invés do visual, Gotham é retratada por seus cidadãos, representados pelas incorruptíveis figuras do Comissário Gordon (Gary Oldman) e da assistente da promotoria Rachel Dawes (Katie Holmes), por um lado e, por outro, dos maléficos Carmine Falcone (Tom Wilkinson) e Earle (Rutger Hauer). Como vilões clássicos, temos o Espantalho (Cillian Murphy), amedrontador, e o terrorista Ra’s Al Ghul (Liam Neeson), além da primeira aparição do Asilo Arkham nas telonas.
Também vale mencionar o realismo dado pelas cenas de ação com efeitos práticos e a abordagem tática dada ao uniforme do herói, com o auxílio de seu Q pessoal, Lucius Fox (Morgan Freeman).
Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008)
Ápice da trilogia de Nolan, essa produção eleva a narrativa ao mostrar um Batman exaurido de sua luta contra o crime e à procura de um novo símbolo na figura do cavaleiro branco Harvey Dent (Aaron Eckart), o Duas Caras.
Mas a ameaça do Coringa reina em Gotham, em uma interpretação do falecido Heath Ledger que ainda hoje não foi igualada. Sem origem definida, anárquico, aterrorizante e louco a ponto de queimar dinheiro, o “palhaço” é a antítese do Batman, capaz de instalar o caos, deixar uma cidade de joelhos e mostrar que qualquer um pode ser levado à loucura, pondo por terra os planos do herói.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)
A trilogia de Nolan chega ao fim nessa obra onde a ameaça da Liga das Sombras de Ra’s Al Ghul retorna na pele do imponente Bane (Tom Hardy), que tira Bruce Wayne de sua reclusão para mais uma vez salvar Gotham, ao lado da charmosa e perigosa Mulher Gato (Anne Hathaway) e do policial órfão John Blake (Joseph-Gordon Levitt), com um fan service empolgante ao final da película.
Ao invés de transformar o filme numa salada de personagens, Nolan & cia amarram todas as pontas em um filme extenso, mas que fecha com brilhantismo o arco iniciado em Batman Begins.
::: PARTICIPAÇÕES E APARIÇÕES :::
Desde 2012, Batman não ganha um filme solo pela Warner Bros. Pictures, algo que pode mudar em breve com o diretor Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra). Enquanto isso, o personagem apareceu em outros filmes de personagens da DC Comics. Confira:
Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016)
Depois de trazer o Superman de volta para as telas em O Homem de Aço, o diretor Zack Snyder inicia a construção do universo cinematográfico da DC ao inserir um Batman mais calejado com o ator Ben Affleck.
Decisão acertada, uma vez que a proposta de confronto entre ambos os heróis só poderia ser comprada com um Batman mais astuto e experiente, capaz de confrontar e até mesmo derrotar o Superman, com a ajuda do Alfred mais cínico de Jeremy Irons.
Apesar da história um tanto truncada, o talento de Snyder se sobressai ao relembrar a origem do herói em flashbacks sinistros e pela cena de luta no armazém, tão memorável quanto a cena do corredor da 1ª temporada da série do Demolidor. Affleck, por sua vez, não faz feio e rechaça as críticas feitas à sua escalação para o papel, ainda que não se iguale a Christian Bale.
Esquadrão Suicida (2016)
Em uma ponta de luxo, nosso “herói pra toda obra” surge para ligar a equipe de desajustados ao Universo DC juntamente com o Flash de Ezra Miller e, de quebra, dar-lhes uns sopapos.
E em uma cena adicionada aos créditos, Bruce Wayne confronta Amanda Waller e exige que ela desfaça a equipe ou ele o fará com seus amigos. O que me leva a perguntar: se Batman conseguiu derrotar o Superman, como a Arlequina derrotaria a Mulher-Maravilha?
https://www.youtube.com/watch?v=4PdK2WT7XLA
Liga da Justiça (2017)
Aqui, Batman é o elo que une os heróis da Liga para enfrentar a ameaça surgida em Batman vs Superman: A Origem da Justiça e representada pelo vilão Steppenwolf, assecla de Darkside, o Ômega, ainda sem dar as caras.
Zack Snyder deixa a direção por problemas pessoais e Joss Whedon (Vingadores) assume sua cadeira, refilmando várias cenas e dando uma abordagem à la Marvel para a produção.
Affleck, por sua vez, continua com bom desempenho e mostra a importância do homem metódico e sem poderes que vislumbra a ameaça no horizonte, contornando todos os egos em prol de um bem maior. Mas confesso que a mudança de uniforme no ato final me deixou com um certo temor de retorno dos anos noventa. Espero que os produtores tenham aprendido a lição.