CRÍTICA | ‘Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal’

Paulo Cardoso Jr.

Se tem algo que gosto de ver nos cinemas são os chamados “filmes baseados em fatos reais”. Simplesmente por dois motivos: primeiro porque, se conheço a história, traz toda uma memória de tempo e espaço que dão para medir com mais exatidão tudo aquilo que está sendo mostrado; segundo, se não conheço, não procuro me aprofundar muito no assunto para justamente sentir se o final é realmente bom. Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked Shockingly Evil and Vile) é exatamente um exemplo disso. Vi que o enredo se tratava de uma pessoa que estava sendo acusada de crimes horríveis e cruéis e alegava inocência. Então, parei por aí e não quis mais saber de nada.

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História real

Confesso que quando comecei a ver, achava que não fazia ideia do que se tratava. Mas depois as memórias de infância vieram lentamente à tona. Os crimes aconteceram no início da década de 70, mas somente em 89 que eles foram finalmente desvendados. Na época, com somente 13 anos, lembrei aos poucos de toda aquela agitação pelo dia do julgamento. Como não havia internet e a informação não era passada em tempo real como é hoje, então, todas as chamadas ao vivo tinham uma audiência e repercussão bem maior que o normal. Foi assim no julgamento de Ted Bundy (Zac Efron), o primeiro a ser transmitido pela televisão. Como foi com O. J. Simpson. Esse talvez mais presente na memória dos brasileiros pelo fato do assassino também ser astro de Hollywood.

O longa narra de forma bem minuciosa tudo que aconteceu desde o início. E é fácil perceber que uma cena ou outra poderiam simplesmente sair para encurtar os quase 120 minutos. Mas acredito que o diretor Joe Berlinger tenha feito isso de propósito para mostrar as várias perspectivas de cada um dos personagens. É quase um documentário mesmo. Cada personagem tem seu tempo de fala e sua importância, para deixar bem claro que o que está por vir não cause nenhuma surpresa ou indignação.

Ted Bundy filme

A saber, todo o longa é baseado no livro “The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy”, escrito pela ex-namorada de Bundy, Elizabeth Kendall, interpretada por Lily Collins, que conseguiu fazer bem o papel de mãe solteira com ar melancólico e de baixa autoestima. Apesar do ótimo trabalho – como sempre – de John Malkovich (juiz Edward Cowart), Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal se mantém graças à atuação de Zac Afron no papel principal.

Atuação brilhante de Zac Efron e participações especiais

Com aquele rosto que ficou eternizado de “High School Musical” e “17 Outra Vez”, parecia não ser muito boa a escolha ao se tratar de um personagem tão complexo e de atitudes tão extremas, mas ao mesmo tempo calmas como foi Bundy da vida real. Entretanto, Zac Efron cumpriu com louvor essa missão. Bundy adorava audiência. Sua empreitada para provar sua inocência batia de frente com seu narcisismo claro diante de toda atenção dada pela mídia. E o ator conseguiu captar cada um desses movimentos.

Ted Bundy filme (3)

O clima pesado do filme é quebrado em três momentos, na apresentação de três personagens coadjuvantes: primeiro, quando vemos Haley Joel “Eu vejo pessoas mortas” Osment no papel de Jerry, um amigo do trabalho de Elizabeth. Depois, em sua estreia como ator, aparece o vocalista da banda Metallica, James Hetfield, na pele do policial Bob Hayward. Por fim, o ator Jim “Sheldon Cooper” Parsons interpretando o advogado de acusação. Ele chegou a arrancar algumas risadas dos jornalistas presentes, apesar de aparecer em um momento tenso.

Entre mortos e feridos, fica somente o lamento de que uma história tão trágica tenha realmente acontecido. Além disso, há um final emocionante com cenas reais de entrevistas e imagens do próprio Bundy. Nesse momento, podemos perceber que Zac Efron conseguiu imitar até alguns olhares e tiques do acusado. Uma atuação que beirou à perfeição.

Ted Bundy filme (1)

Reflexão

Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal não é um filme light, mas serve para reflexão. Refletir no que leva uma pessoa jovem, bonita, com um futuro tão promissor a cometer atos tão desumanos; refletir na forma como vemos e tratamos aqueles que estão ao nosso redor; refletir se nossos atos podem influenciar o comportamento de outras pessoas e refletir naquilo que vemos na televisão e, mais recentemente, nas redes sociais. Até a próxima.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile
Direção: Joe Berlinger
Elenco: Zac Efron, Angela Sarafyan, Lily Collins
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 25/07/19
País: Estados Unidos
Gênero: suspense
Ano de produção: 2019
Duração: 108 minutos
Classificação: 16 anos

Paulo Cardoso Jr.

Jornalista formado pela PUC-RJ e Pós Graduação em "Comunicação com o Mercado" pela ESPM-RJ.
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