‘Euphoria’ (HBO) – Primeira Temporada | CRÍTICA
Alvaro Tallarico
A série Euphoria começa mostrando o mundo das drogas lícitas e ilícitas. Na verdade, como uma menina que cresce diagnosticada por alguns transtornos passa de umas para as outras e acaba indo parar na reabilitação.
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Experiências do próprio escritor
A atriz Zendaya manda bem como Rue. Talvez sua narração não seja uma das melhores coisas, mas quando ela pode ser apenas Rue, há algo inegavelmente atraente. E, a principal relação, a mais interessante de assistir é a que acontece entre ela e Jules (Hunter Schafer, muito bem). É um casal para o qual o espectador torce, como numa novela. Dois seres humanos traumatizados e problemáticos que se encontram e se seguram.
O estilo da série, o mote em cima adolescentes “perdidos” lembra o filme de “Kids”, dos anos 90. Euphoria, a saber, é um trabalho baseado nas experiências específicas do escritor Sam Levinson a parir de sua dependência química, ansiedade e recuperação. Em seus melhores momentos, é uma história caprichadinha, cuidadosa e aberta sobre adolescentes tentando fluir pela vida como a primeira geração totalmente on-line, em uma paisagem de fotos de pênis, predadores sexuais e alucinógenos.
‘Submundo’ dos adolescentes
Acompanhamos adolescentes sem noção dos perigos onde metem. Um submundo de insegurança, pais preocupados que procuram fazer o seu melhor, enquanto seus filhos parecem buscar o pior. Aplicativos de encontro para cá, nudes para lá. Exibicionismo. Uma procura por significado. O primeiro episódio chega forte, explícito, até perturbador em diversos momentos. Visando chocar e criar expectativa para os próximos.
O segundo vem mais tranquilo, começamos a conhecer melhor os personagens, amizades vão surgindo e crescendo. Contudo, temos uma noção da maldade por trás das drogas, os monstros sem escrúpulos. Há uma cena bem tensa com Rue na casa de um traficante. O mundo virtual e o mundo virtual correm em paralelo, formando conexões impensáveis.
No terceiro episódio, nos aprofundamos em Kat, é bem legal, percorrendo sua infância e talentos artísticos. A sequência em anime é bela e divertida. E, mais uma vez, vemos o paralelismo entre vida real e vida virtual. Depressão em uma; felicidade na outra. Há cenas fantasiosas divertidíssimas que culminam no nascimento de uma “estrela” ao som do hip-hop. A personagem vivida com muito carisma por Barbie Ferreira começa a se fortalecer e se transformar. Mas será que é para melhor?
Enquanto isso, Rue parece começar a acordar. Sua luta contra a dependência química é um dos pontos fortes da série. Outro ponto marcante é a busca por conexão real e significado. Em um mundo de falsas conexões, com a banalização do sexo, das drogas legais e legais que anestesiam, fazendo com que a realidade fique distorcida.
Montanha-russa cheia de emoções
Adolescência é complicada. Afinal, é fácil se perder, é difícil se achar. Você não sabe o que fazer, quem vai lhe dizer o que fazer? E tantas situações nova. Como lidar com tudo isso? E, calma aí, será que a vida adulta é assim tão diferente? O episódio quatro chega com grandes viradas. Encontros esperados acontecem, revelações, decepções. Uma montanha-russa cheia de emoções incendeia a série.
A tensão é crescente e angustiante, começamos a aguardar ansiosos o que vai acontecer, enquanto fogos estouram. E, sem moralismo, mas com a dose apropriada de realismo, entendemos algo sobre a falsa euforia que as drogas proporcionam, e que lançam num espiral de sensações ilusórias, acarretando em más decisões. Apesar de tudo, esse episódio tem a qualidade de terminar de uma forma romântica, um afago de esperança, após tanto pesar.
Elenco excelente
Todo o elenco manda bem. É saboroso ter um personagem tendo sua história contada com maior destaque no início de cada episódio, ao mesmo tempo que o desenvolvimento geral continua ocorrendo.
Relevante ver de perto a suposta família americana dos sonhos. O pai que se fez com muito esforço, machão (?), em um casamento duradouro, com dois filhos, sendo um deles uma jovem promessa do futebol americano. Mas quais as camadas por baixo dessa família perfeita?
Nada de Nicholas Sparks
A série não é um romance de Nicholas Sparks. Não espere por isso. Afinal, a vida também não. Assuntos delicados são abordados – como relacionamentos abusivos – com a seriedade que deve ser. Até didaticamente. Senti tensão e receio muitas vezes. O episódio seis vem como uma preparação para o início do fim. O sete chega muito divertido e criativo como um filme de detetive – brincando disso com bastante desenvoltura.
O final é satisfatório, arrasador, poético, trágico e enigmático.
Aliás, Euphoria apresenta uma boa história no geral e a possibilidade de se identificar com os personagens, suas questões psicológicas, suas máscaras. A adolescência é a fase onde o ser humano está preso entre o desenvolvimento emocional e físico unido com o fato de que seus cérebros estão em ebulição junto com os hormônios.
As emoções e pensamentos desenfreados os transformam em protagonistas ideais, pois muitas vezes empreendem ações completamente destrutivas, quase com a certeza de que estão fazendo exatamente o que precisam fazer.
Lucro inescrupuloso a partir do sofrimento alheio
Sem ser moralista, Euphoria deixa o recado sobre como as drogas são perigosas. Sejam as legais ou ilegais. No caso aqui a ênfase é nas ilegais. Na maldade que financia, na destruição de lares e vidas, através de vícios que não trazem nenhum ganho.
O lucro inescrupuloso a partir do sofrimento alheio.
Enfim, a triste dependência química. Por fim, quando o editor do BLAH!ZINGA, Everton Duarte, me pediu para fazer uma crítica sobre Euphoria, não sabia o que esperar e assisti sem expectativas. Devo dizer que foi uma boa viagem por uma novela legal e bem produzida que pode proporcionar muitas emoções e um bom aprendizado psicológico.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Euphoria
Temporada: 1
Episódios: 9
Direção: Sam Levinson, Pippa Bianco, Augustine Frizzell, Jennifer Morrison
Roteiro: Ron Leshem, Daphna Levin, Sam Levinson
Elenco: Zendaya, Maude Apatow, Angus Cloud, Eric Dane, Alexa Demie, Jacob Elordi, Barbie Ferreira, Nika King, Storm Reid, Hunter Schafer, Algee Smith, Sydney Sweeney
Distribuição: HBO
Data de estreia: dom, 16/06/19
Gênero: ação / ficcção / drama
Ano de produção: 2018 / 2019
Classificação: 14 anos