ESPECIAL ‘CORINGA’ | O palhaço nas mais diversas mídias
Pedro Marco
Na Parte 2 do Especial Coringa em aquecimento para o novo filme, iremos relembrar 5 de suas aparições mais marcantes nas telonas, bem como algumas de suas mais memoráveis aparições em séries e animações. Vamos lá?
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1966 e o Bigode de Cesar Romero
Tudo começou no ano de 1966. Tanto o Batman quanto o Coringa sofriam por causa do livro A Sedução do Inocente. A obra acusava a alta taxa de violência e mensagens de duplo sentido nas revistas. Isso acabou gerando um selo de autocensura para nivelar as histórias de super-heróis. Dessa forma, uma infantilização nas histórias deixava a guerra do cavaleiro das trevas contra o palhaço do crime mais boba e colorida. Assim, surgia na TV a série Batman e Robin (1966 a 1968). Nela, durante 120 episódios, acompanhávamos o homem-morcego e seu garoto prodígio na luta contra o crime de Gotham. No mesmo ano da aclamada estreia da série, um filme chegava aos cinemas. Era o ano de Batman, O Homem Morcego.
Com Adam West como Batman e Burt Ward como Robin, o filme – assim como a série – era eternamente lembrado por seu maior vilão. Interpretado pelo grande Cesar Romero, a versão mais circense e risonha do príncipe do crime em Gotham, acabou sendo um retrato datado da época, mas sem deixar de influenciar as próximas gerações. Romero havia tido um grande auge em sua carreira, participando do seleto grupo de amigos de Frank Sinatra no clássico 11 homens e Um Segredo. Contudo, o eterno antagonista do morcegão na série de TV acabou sendo seu último papel de destaque.
Curiosidades sobre o Coringa de Romero
Com toda a pompa do visual clássico, uma das maiores marcas do Coringa de Romero estava em sua insistência em não tirar o bigode para as gravações. Tomando-o como sua marca registrada, Romero descaradamente fazia a maquiagem sobre o bigode, em uma época que a resolução dos televisores e projetores de cinema era tão baixa, que, de fato, passava despercebido.
O filme, em si, acaba dando uma ênfase maior ao personagem do Pinguim, apesar de Romero roubar a cena toda vez que aparecia. No entanto, a fama maior dos personagens para a geração seguinte acabou vindo com uma redublagem satírica caseira chamada Batman – Feira da Fruta, que vale muito a pena ser revisitada, e lembrada como o dia em que o Coringa queria pegar a tia do Batman.
Tim Burton e a Loucura de Jack Nicholson
O tempo das cores e bobeiras havia passado. O código de autocensura não mais existia e tanto Neal Adams quanto Frank Miller cuidaram para que o Batman se tornasse um detetive sério e sombrio dos becos de Gotham. O grande retrato disto viria no longa metragem “Batman”, dirigido por Tim Burton em 1989.
Assim como havia ocorrido com Romero – e viria a se repetir unanimemente nos demais casos – era requisitado um ator de peso para interpretar o palhaço do crime nos cinemas. Vindo de um Oscar de melhor ator, bem como um grande histórico de interpretar personagens com alto nível de insanidade nos cinemas, Jack Nicholson foi escolhido para pôr a maquiagem do Arlequim do crime, após suas performances loucas em Um Estranho no Ninho e O Iluminado.
Origem e quase imbatível
Inspirado em A Piada Mortal, do ano anterior, o filme de Burton decidiu dar uma origem e um nome para o Coringa. Jack Napier era um jovem criminoso do beco do crime, que, em uma tentativa de assalto, acabou assassinando o casal Thomas e Martha Wayne, o que ocasionou que seu filho Bruce se tornasse o Batman. Ao ser atingido por uma bala, Napier cai em um tanque de substâncias químicas e, após passar por procedimentos médicos, torna-se o psicótico vilão com seu rosto deformado na forma de um grande sorriso.
O Coringa de Nicholson é tido, por muitos, como definitivo. Por muito tempo foi considerado imbatível. Sua roupagem estava em um meio termo entre o sombrio e o cômico, com uma infinidade de gadgets circenses, como revólveres gigantes que soltam a palavra BANG. Ainda assim, era um Coringa que veio das ruas e que não hesitava em matar, bem como demonstrar sua psique negativamente afetada. Assim, foram necessários quase 20 anos até que um novo ator aparecesse nas telas com a missão de reencarnar o antagonista. Contudo, houve outro no meio do caminho que vale a pena ser comentado.
Mark Hammil e o Coringa Pudinzinho
Após a reformulação causada tanto pelas HQs quanto pelo filme de Tim Burton, um Coringa mais sombrio surgiria também nas animações. Como nos demais casos, um nome de peso interpretaria o vilão na animação Batman: A Série Animada. Mark Hammil, o eterno Luke Skywalker de “Star Wars”, atuava a mais icônica risada do personagem de 1992 a 1995. Ele retornaria para As Novas Aventuras do Batman, entre 1997 e 1999.
Ainda na perfeita mescla entre divertido e sombrio, o Coringa de Hammil trouxe o visual clássico dos quadrinhos e revolucionou o personagem. visto que, nesta mesma animação, fora criada Arlequina, seu eterno par romântico. Indo ao ar em setembro de 1992 no episódio “Um favor para o Coringa”, Bruce Timm e Paul Dini apresentavam a Dra. Psiquiatra Harleen Frances Quinzel, que havia sido seduzida pelo palhaço até tornar-se sua alma gêmea do crime.
Batman do Futuro
No ano de 2000, a aclamada animação Batman do Futuro ganha um longa-metragem intitulado “O Retorno do Coringa”. Terry McGinnis, um jovem treinado pelo velho Bruce Wayne em um futuro distópico, tem de lidar com o retorno do arqui-inimigo de seu mentor, junto de Arlequina e uma gangue de subordinados. O filme teve diversas censuras, repercussões nos quadrinhos e foi considerado por muitos como o melhor filme do Batman até então. A voz e personalidade do Coringa, seguia ainda nas mãos de Mark Hammil, como na série animada dos anos 90.
O Coringa voltaria a surgir em diversos filmes animados do Batman ao longo dos anos, em um grande rodízio de inúmeros dubladores. Em destaque, Hammil retornou em 2016 para encarnar o vilão na adaptação de A Piada Mortal, lançada no mundo inteiro. Era a definição deste como, de fato, um dos grandes intérpretes do personagem no cinema.
Heath Ledger e… ‘por que tão sério?’
Chega o ano de 2008. Com o grande estouro mundial da internet, as coisas passam a ser mais complicadas, até para o grande palhaço do crime. Após reinventar o homem-morcego nos cinemas com Batman Begins, Christopher Nolan se prepara para o embate com o maior vilão de Bruce Wayne em O Cavaleiro das Trevas. Para interpretar o palhaço do crime, Heath Ledger foi escalado perante uma enorme cachoeira de críticas e desaprovações.
O jovem, lembrado por sua feição galante em 10 Coisas que Eu Odeio em Você e Coração de Cavaleiro, era tido como um ator medíocre, ainda mais pelo recente Os Irmãos Grimm. No entanto, desde suas atuações em O Segredo de Brokeback Mountain e Não Estou Lá, os olhos de Hollywood passaram a acompanhá-lo ainda mais de perto. O resultado foi uma das atuações mais cultuadas e lembradas do século 21, com uma merecida premiação de melhor ator no Oscar. Todavia, Ledger veio a falecer em uma overdose de tranquilizantes pouco após as gravações, fazendo com que suas premiações póstumas nunca o deixassem aproveitar os louros de seu sucesso.
Pura psicopatia
O Coringa de Ledger trouxe um completo distanciamento da veia cômica, se entregando inteiramente à psicopatia sádica mais crua. Apesar de uma risada característica, sua roupagem estava mais voltada para o lado insano distanciado da realidade comum, sem propósitos definidos ou medição de consequências. Em seu processo de atuação, rodeado de histórias sobre como ele se trancou por dias até entrar no personagem, Ledger recebeu uma visita especial de Jack Nicholson, que o alertou para tomar cuidado. Isso porque a insanidade de interpretar o personagem é bastante perigosa. Sua atuação influenciou diversos atores, a indústria de quadrinhos e a forma como os filmes de super-heróis são vistos.
Jared Leto e como machucar bastante… os fãs
Nem tudo são flores e risadas na pantomima do Arlequim do crime de Gotham. Em 2016, no aguardado Esquadrão Suicida, teríamos um Coringa finalmente intrínseco ao universo DC dos cinemas, podendo aparecer em mais de um filme e interagindo com outros heróis e vilões. Era um caminho brilhante, com a escolha de um excelente ator. Este sim bastante aplaudido quando escolhido. Jared Leto, da banda 30 Seconds to Mars, teve grande repercussão ao interpretar o assassino de John Lennon em Capítulo 27, por sua participação em Clube da Luta e Psicopata Americano, bem como pelo incrível Réquiem para um Sonho, onde foi protagonista. Seu momento de maior destaque, contudo, ocorreu em 2013 em Clube de Compras Dallas, que, inclusive, o rendeu um merecido Oscar por sua atuação com Mattew McConaughey.
Mas…. nem a direção do experiente David Ayer nem as companhias de Will Smith e Viola Davis o ajudaram a brilhar como o icônico palhaço do crime. Em uma atuação rasa, que beira o título de ser forçada, Leto tentou criar um Coringa para a nova geração. Com uma abordagem gangster sem camisa, ou com casacos luxuosos, o vilão tatuado e com dentes falsos não agradou crítica, bilheteria ou mesmo os fãs de quadrinhos. Sua participação segue como uma grande mancha no histórico do personagem que a própria DC tenta esquecer. Com novos filmes da Arlequina e Esquadrão Suicida se aproximando, Leto foi afastado de ambos os projetos, deixando vago o príncipe do crime de Gotham neste novo universo.
Joaquin Phoenix, os Incel e a síndrome de Pagliacci
Até aqui, pudemos montar a fórmula para o Coringa. Um ator com bom histórico, um histórico de loucura nas gravações e muitas polêmicas. Desta vez, o diretor Todd Phillips (Se Beber, Não Case) abraçou a ousada ideia de dar ao vilão um filme solo como protagonista. Esta investida acabou acontecendo na Sony com Venom, que apesar das críticas ruins, faturou uma boa bilheteria. No entanto, o Coringa de Todd Phillips não seria um anti-herói como foi Tom Hardy. Teríamos sim um vilão violento e criminoso, em um filme com censura 18 anos.
Para encarnar as tatuagens e o cabelo verde, um dos maiores atores já escalados para o palhaço. Joaquim Phoenix, que tinha ganhado as graças de Hollywood em Gladiador (que o rendeu uma indicação ao Oscar), vinha em uma estrada de aplausos e premiações sobre a direção dos maiores diretores da atualidade. Sendo o novo queridinho de Paul Thomas Anderson, Phoenix trazia em sua bagagem a experiência de interpretar de Johnny Cash a Jesus Cristo.
A enorme entrega, digna de um grande ator, ganhava os olhos do público desde os primeiros trailers. Entretanto, assim que ocorreram as primeiras exibições em festivais e premières, o novo Coringa sofreu uma certa militância por sua agressividade e pela glamourização da violência e dos incel (celibatários involuntários, pessoas que por falta de empatia social não conseguem consumar relações sexuais e descontam isto na sociedade). Até o momento da escrita deste texto, o filme ainda não foi apresentado ao público geral.
De consoles a controles de TV: o Coringa em outras mídias
Quase tão antiga quanto a abordagem do Coringa nos cinemas são suas aparições nos desenhos animados. Desde 1968, na animação As Novas Aventuras do Batman, Larry Storch dava voz ao grande príncipe do crime de Gotham, em uma versão mais infantil. O dublador voltaria ainda em 1972, em um especial do Batman com o Scooby-Doo. Lennie Weinrib e Frank Welker seguiram dando voz ao palhaço em As Novas Aventuras do Batman e na animação Superamigos nos anos seguintes, mantendo ainda a visão infantil e colorida da série de 1966. Após a atuação de Hammil nos anos 90, o Coringa dos desenhos animados passou a sambar entre roupagens cômicas e sombrias, participando de 4 séries animadas (Liga da Justiça, Justiça Jovem, Superman e Super Choque), bem como de 6 filmes animados com dubladores distintos (incluindo Zach Galifianakis em LEGO Batman).
Coringa na série ‘Gotham’
Além das animações, o Coringa chegou a aparecer uma única vez em live-action nas séries de TV. Cameron Monaghan interpreta Jeremiah Valeska, em uma polêmica encarnação do grande palhaço do crime na série Gotham. Apesar das aparições do ator desde a primeira temporada, somente no sétimo episódio da temporada final que o vilão teve seu visual revelado. Mantendo a história do tanque de produtos químicos, esta é a roupagem que mais se distancia do material original por sua cruzada contra um Bruce Wayne antes de se tornar Batman.
Coringa nos games
Por fim, um cenário onde o Coringa esteve sempre presente é o universo dos jogos. Desde 1988, em Batman: O Cruzado Encapuzado para PC, era possível escolher um modo de história para o Batman contra o Coringa, ou o Pinguim. Em seguida, seria lançado para Atari um jogo em propaganda do filme de Tim Burton chamado de Batman: O Filme e, para Nintendinho, Batman: O Videogame. Os dois títulos com o Coringa de Nicholson como vilão. Ainda na onda do longa-metragem, Batman, de 1990, trazia para o Atari um jogo com os áudios originais do filme.
Em 2009, Batman Arkham Asylum trazia uma grande fuga dos vilões de Gotham contra o homem-morcego. Com direito a Coringa mega monstruoso, o jogo contou com a volta de Mark Hammil para o personagem. Em 2011, Arkham City trazia uma versão doente do vilão, também encarnada por Hammil. Dois anos depois, Troy Baker dublaria uma versão mais jovem do palhaço em Arkham Origens. Baker migraria para os filmes de animação, como Assalto ao Arkham, enquanto Hammil retorna mais uma vez para o recente Arkham Knight.
E os próximos Coringas?
E assim, após toda esta longeva carreira, aguardamos o segundo Oscar ao Coringa, que, em caso de vitória, será o segundo personagem a levar 2 estatuetas para casa (empatado com Don Vito Corleone). Quem vai interpretar o Coringa na trilogia de Matt Reeves? E na série Titans? Haverá um novo Coringa para a Arlequina nos novos Esquadrão Suicida? Não deixe de acompanhar aqui e no Especial Coringa em aquecimento para o novo filme.