‘As Loucuras de Rose’ | CRÍTICA
Alvaro Tallarico
As Loucuras de Rose. O título original, Wild Rose, talvez combine mais. Afinal, não é uma louca; mas, indubitavelmente, Rose-Lynn não cabe nas características aprisionantes da normalidade. Normal? Normal é manteiga no pão.
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Aliás, Rose-Lynn Harlan (Jessie Buckley) é uma mãe solteira recém-saída da prisão, com dois filhos para sustentar. “Três acordes e a verdade” é a tatuagem que a cantora de Glasgow tem no braço. Uma entusiasta da música country. O roteiro de Nicole Taylor apresenta essa jovem anti-heroína meio perdida, tentando se reencontrar dentro de si, da sua arte e da família. Ainda por cima, debaixo das botas de caubói, tem que usar uma tornozeleira de presidiária que lhe obriga a estar em casa em determinado horário. Complicado para quem quer cantar de noite, não? Contudo, é isso que Rose deseja: viver de música e conseguir isso em Nashville (grande centro do estilo country).
Ademais, muitas vezes no filme, quando Rose-Lynn está cantando, a fotografia amplia o poder da bela voz, clareando tudo celestialmente como um raio de luz do sol iluminando seus cabelos, transformando uma grosseira em anjo. Rose não resiste a um microfone. Embora seja excessivamente franca e deselegante, se torna tímida e doce em certos momentos. Ou seja, a música tem a capacidade de trazer à tona um lado emocional, uma sensibilidade, que ela se esforça para esconder.
Os nulos homens de Rose
As cenas de Nashville tem um tom operário, às vezes avermelhado, acinzentado, o oposto da vivacidade de Glasgow. Enquanto o interlúdio de Londres não tem grande relevância na trama. A direção de Tom Harper parece pouco ousada, mas funciona para o que se propõe.
Os homens de As Loucuras de Rose são praticamente nulos e, em verdade, não fazem falta alguma. O namorado dela entra e sai da história como um bibelô. O pai de Rose-Lynn mal é citado. Sobre os membros masculinos de sua banda de apoio, ficamos sem saber de nada, aparecem somente quando requeridos musicalmente. A figura masculina mais forte do filme é o profissional da BBC, Bob Harris (o original) e faz participação rápida. Segundo Rose-Lynn, Bob é o único na Grã-Bretanha que entende de música country mais que ela. Inclusive, há também o marido desconfiado de Susannah, a ambígua benfeitora de Rose vivida por Sophie Okonodo, uma personagem que pode ser encarada como ingênua.
Responsabilidade e sonho
Em especial, a lúdica cena em que Rose passa o aspirador na casa onde trabalha como diarista e ouve música no fone de ouvido, ao mesmo tempo que canta como se nada mais houvesse no mundo é muito divertida e emblemática. Rose fica na encruzilhada entre seu sonho e a realidade composta pelas responsabilidades que deve assumir, mas não quer. Sua mãe tem que terminar de criá-la e ainda cuidar dos netos. Julie Walters faz essa senhora com firmeza, em atuação mais do que convincente. Uma mulher trabalhadora que ainda precisa ensinar algumas lições para a filha.
Sem dúvidas, o maior destaque é o furacão Jessie Buckley interpretando uma Rose-Lynn com tamanho charme, destreza e carisma que a simplória trama fica somente como pano de fundo para a atriz-cantora ser arrebatadora. A ótima trilha sonora chama atenção, conduzindo essa mulher obstinada (teimosa?) no caminho que quer seguir. Cada aventura e dose de sofrimento encherá o copo que pode vir a transbordar em um misto de amadurecimento e inspiração advinda da jornada. Afinal, um artista é dotado de um dom inexplicável ou é fruto de esforço, prática e contexto?
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Wild Rose
Direção: Tom Harper
Roteiro: Nicole Taylor
Elenco: Jessie Buckley, Julie Walters, Sophie Okonedo
Distribuição: Diamons Films
Data de estreia: 03/10/2019
País: Reino Unido
Gênero: Musical, Drama, Comédia
Ano de produção: 2018
Classificação: Livre