Quais foram os piores filmes de 2019? Descubra!
Olga Zunino
O final de 2019 chegou e, com ele, encerrou-se mais um ano de estreias. Os filmes bons conseguem ficar na nossa memória, assim como nos garantem a dose perfeita entre entretenimento e técnica.
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Infelizmente, esse não é bem o caso dos longa-metragens dessa lista. Muitos deles podem ficar na nossa memória, mas especificamente pelo inverso. Ausência de um bom roteiro, de uma boa direção, fotografia e outras técnicas que conseguem surpreender positivamente tanto a crítica quanto o público.
Regras
Os filmes dessa lista possuem uma característica em comum: foram pessimamente avaliados pela crítica, de acordo com a plataforma Rotten Tomatoes. Alguns deles conseguiram ser também pessimamente avaliados pelo público.
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Ademais, são filmes que não foram capazes de entregar as expectativas que criaram, seja na publicidade compartilhada nas redes sociais seja no próprio trailer. Por isso, esses filmes entraram no ‘’hall da desgraça’’.
A saber, as produções não estão, necessariamente, na ordem do pior e melhor. Estão organizadas de forma a ressaltar o pontos que o fizeram entrar para a lista.
Cats
Esse filme conseguiu se consagrar como uma das grandes decepções do final de 2019. Em toda a sequência é difícil não se perguntar: “O que foi que aconteceu de tão errado em Cats?”
Cats tinha toda a grife necessária para superar ou estar à altura do grande musical da Broadway. Todavia, nem a presença de grandes nomes do cinema como Idris Elba, Judi Dench e Ian McKellen, bem como a direção do renomado diretor Tom Hooper, responsável pelo musical Os Miseráveis, conseguiu evitar a tragédia.
O filme foi certeiramente criticado pelos efeitos visuais e CGIs questionáveis. Estudos da psicologia já comprovam a existência do “vale da estranheza”, quando se trata de figuras antropomórficas. O público inclusive demonstrou descontentamento anteriormente por esse mesmo motivo com o primeiro trailer de Sonic: o Filme, de Jeff Fowler.
Entretanto, a Universal decidiu ignorar todos os sinais vermelhos e seguiu com uma versão difícil de assistir, com a expectativa, talvez, de lançar o filme em dezembro para que furor das atenções possa ser positivamente julgado no Oscar. Afinal, publicidade ruim também é publicidade. Infelizmente, esse não foi o caso de Cats: O filme trouxe um prejuízo de mais de 70 milhões para o estúdio.
No entanto, apesar de o filme ter efeitos visuais bizarros, é possível que ele tenha uma história bem escrita e dirigida certo? Bom, nesse caso, a estranheza dos gatos antropomorfos parece se espalhar para o roteiro e a direção. Isso porque o filme parece ser uma construção de sucessivas cenas sem conexão com uma construção pífia dos personagens.
Cats provou que a estranheza só é bem recebida quando devidamente embasada. E só é possível embasá-la ouvindo o que o público tem a dizer, já que, infelizmente, um bom elenco não é o suficiente para persuadir críticas negativas.
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– ‘CATS’ | CRÍTICA
As Trapaceiras
O filme se trata da parceria entre duas golpistas, uma de “baixo nível” (algo que o filme faz questão de estereotipar ao máximo) e outra de “alto nível”, com todos os seus ares de elegância ou high society.
Não é necessário me debruçar muito sobre a construção de personagem, porque, claramente, não há nenhuma. Afinal, repetição de estereótipos forçados não é construir um personagem.
Com uma história um pouco mais suportável de assistir. As Trapaceiras é, no melhor dos casos, um longa com enredo pobre e com diálogos ainda mais superficiais.
A saber, o filme é uma remake de Os Safados (1988) mais moderno e com protagonismo feminino. Contudo,tirando a modernidade e a mudança de sexo dos personagens principais, é difícil encontrar algo de novo pelo qual justifica a produção da refilmagem.
Anne Hathaway tem uma brilhante atuação e o filme, de fato, é bem interessante visualmente. Entretanto, tudo isso contrasta com uma história, com ares feministas, que chega a ser cafona: narrativa binária de homens monoliticamente machistas e misóginos junto com uma comédia bem bobinha e óbvia.
As Trapaceiras esta nessa lista, pois acredito que já é o momento de refletirmos sobre as produções com ideais progressistas. Ao que parece, o único capital inovador que o filme pode oferecer a seu público é uma versão da “guerra dos sexos” ultrapassada, quando produções aspirantes a produções feministas deveriam ser muito mais responsáveis.
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– ‘AS TRAPACEIRAS’ | CRÍTICA
Calmaria
A história se trata de um pescador que está em uma cruzada atrás de um peixe em específico. Todos na ilha o consideram maluco justamente por essa fixação. A rotina do pescador é quebrada quando sua ex aparece na ilha e pede para que ele mate o seu atual marido.
Calmaria começa com um passo monótono, mas os diálogos começam a entregar a tensão e o suspense que consegue te manter assistindo. Você começa a se fixar pela história dos personagens e até a tentar desvendar a trama mórbida de cada um que forma o triângulo.
Entretanto, se a história tivesse parado por aí teríamos um film noir excelente e cativante. Mas parece que, ao invés de manter as coisas agradáveis e simples para todo mundo, o diretor e roteirista decidiram levar a trama para um “Matrix esculhambado”, onde os personagens nada mais são que invenções da mente de um menino que sofre psicologicamente e fisicamente com a violência doméstica.
Calmaria perde seu rumo, decidindo introduzir personagens pouco trabalhados e, a partir da “virada” de narrativa, é como se os diálogos também decaíssem de qualidade. Chega um ponto de que você está exausto de toda a narrativa “estilo Matrix” altamente corrida.
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– ‘CALMARIA’ | CRÍTICA
O Professor
Um professor universitário descobre que sofre com um câncer terminal e só tem seis meses de vida.
É sempre bom ver atores experimentarem papéis exóticos em sua carreira. Então, o filme consegue trazer esse outro lado de Johnny Depp, que, finalmente, parece estar se desvencilhando de papéis constituídos por personagens caricatos. Isso não significa que O Professor é necessariamente bom. E muito menos que o ator conseguiu trazer um novo brilho para a sua carreira devido à sua participação no longa.
Há uma sensação similar a Sociedade dos Poetas Mortos, especialmente quando o personagem de Depp interage com os seus alunos. No entanto, o filme claramente demonstra que não pretende colocar essa relação aluno-professor com grande importância, o que acaba resultando em uma obra sobre “crise de meia idade” junto com diagnóstico de uma doença terminal.
O diretor e o roteirista podem, é claro, escolher o que de fato será o ponto de relevância para uma narrativa. Mas quando isso ocorre, é importante garantir que esse ponto será embasado com outras tramas secundárias que tragam forma e profundidade.
Infelizmente, O Professor falhou nisso: um professor universitário desesperado para perder o controle imposto pela rotina em sociedade para poder vivenciar a felicidade de uma liberdade de curto prazo, o que implica, no caso desse filme, sexo, drogas e álcool.
O filme poderia até centralizar a narrativa no personagem principal da forma que fez, mas isso implica como retorno, maior cuidado com a construção do personagem para não acabar apresentando ao público uma versão superficial de um homem que foi por muito tempo convencional demais e agora precisa desesperadamente pagar pelo tempo perdido.
A possessão de Mary
Este é mais um desses filmes sobre barcos que naufragaram muito antes de zarparem. A história é, literalmente, sobre uma família que compra um barco assombrado por um fantasma, este fantasma começa a “possuir” ou “influenciar” os navegantes. O que no final acaba muito mal.
Eu poderia chamar o filme de um clichê absoluto, mas acredito que isso seria na realidade um elogio.
O filme de terror não traz absolutamente nada de criativo ou inovador e também não parece se esforçar para isso. A Possessão de Mary é um filme básico e genérico, em que os momentos de terror são oferecidos ao público em pitadas de “jumpscares”. Infelizmente, não há construção de tensão, suspense ou até de mistério, elementos essenciais para garantir um filme de terror digno de ser assistido.
Esse é o típico filme tão passado do “figura sobrenatural X me fez fazer rir”. Uma pena. Afinal, a premissa poderia ser muito bem trabalhada observando todos os objetos em cena. O diretor e o roteirista, se quisessem, poderiam brincar com as histórias de terror relacionadas ao mar e até com a tensão de viver com o desconhecido em um espaço tão claustrofóbico quanto um barco.
Entretanto, A Possessão de Mary não parece ir para direção alguma, preferindo ficar em um ritmo monótono, capaz somente de acordar o público com sustos baratos.
Conclusão
Os filmes aqui apresentados possuem um traço negativo em comum: a ausência de criatividade ou o investimento massivo em explorar fórmulas já gastadas para os olhos da audiência.
O que falta para esses longas é um olhar mais plural sobre sua própria trama. Há um esforço – ou falta dele, quem sabe – em tentar apresentar uma visão já dada para garantir a presença do público, mas muitos poucos elementos para garantir a permanência do mesmo.
Essas produções comprovam que atores bem conhecidos não fazem milagres com filmes com narrativas preguiçosas ou insensivelmente trabalhados. Ou o filme apresenta uma narrativa extremamente monótona ou uma narrativa poluída com efeitos e “viradas narrativas” que só servem para desconcertar o público negativamente.