‘A Jornada’ | CRÍTICA
Paulo Cardoso Jr.
Qual jornada é maior: a que leva ao espaço ou da mulher até chegar ao posto de astronauta?
A desigualdade entre homens e mulheres já foi muito mais forte. Hoje em dia podemos dizer que a diferença diminuiu bastante, mas essa suposta quase igualdade de condições de trabalho só é vista quando a mulher opta por não ter filhos.
Afinal, quando as mulheres têm esse “chamado materno”, têm quase que escolher entre ser mãe e ter uma realização profissional. Aliá, isso independe da complexidade do trabalho, seja no comércio como engenheira de foguetes e robótica, a dificuldade parece ser a mesma.
Em pleno século XXI, as mulheres ainda são subestimadas e vítimas de comentários machistas e sexistas que muitas vezes passam desapercebidos (não por elas!).
A trama
A saber, A Jornada (Proxima), escrito e dirigido por Alice Winocour, mostra a luta da astronauta Sarah Loreau (Eva Green), que é designada para uma missão espacial e tem que deixar a sua filha Stella (Zélie Boulant-Lemesle) aos cuidados do pai na Terra.
Diferente do hollywoodiano Gravidade, estrelado por Sandra Bullock, A Jornada preocupa-se em mostrar justamente a preparação para o lançamento do que uma aventura no espaço, utilizando pouquíssimos efeitos especiais e deixando com um ritmo bem mais lento e com muito mais diálogos.
Divorciada e com uma filha que precisa de cuidados por causa de dislexia e problemas de concentração, a notícia da sua aprovação para o programa espacial é acompanhada não de uma felicidade imediata, mas da preocupação de como sua filha vai ficar sem ela e de poder contar com o ex-marido Thomas (Lars Eidinger), que é astrofísico e que também trabalha diretamente com viagens espaciais, mas não como astronauta.
O primeiro desafio de Sarah é justamente a despedida com a filha Stella (Zélie Boulant-Lemesle) e a primeira fase do programa, quando ela tem que ficar confinada por três semanas em Star City (a Cidade dos Astronautas) para só depois seguirem para Baikonur, no Cazaquistão, onde será lançado o foguete.
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Machismo enraizado
Vale destacar a participação do Matt Dillon, como capitão e comandante da missão espacial Mike Shannon. Responsável por alguns comentários politicamente incorretos, Mike, junto com o astronauta russo Anton Ochievski (Aleksey Fateev), levam Sarah quase à exaustão julgando que ela não os acompanharia nos exercícios preparatórios.
A primeira coisa que Mike se preocupa em fazer logo na chegada de Sarah ao complexo onde ocorrerá o treinamento é apresentá-la ao oficial substituto, praxe muito comum nas missões espaciais caso algum astronauta titular tenha algum problema de saúde. Todos eles possuem um “espelho” caso ocorra alguma coisa nas semanas que antecedem o lançamento.
Roteiro conciso e interpretação certeira de Eva Green
Entre mortos e feridos, destaque total para a interpretação de Eva Green e pelo roteiro escrito por Alice Winocour.
São várias as situações que a personagem passa e tem que fingir ser engraçada para não criar mal-estar entre seus companheiros de equipe homens. Como, por exemplo, o comentário durante uma entrevista em que o comandante Mike diz estar feliz por ter uma mulher a bordo porque agora eles terão alguém na cozinha; ou de ser gentilmente sugerido a revisão dos seus exercícios físicos para não constranger os outros membros da equipe; bem como do estranhamento de manter a menstruação durante toda a missão.
Aliás, o roteiro prioriza muito mais a vivência da preparação do que a missão propriamente dita, fazendo de A Jornada um drama psicológico ao invés de um filme de ação comum. Apesar de alguns furos, estes não comprometem o resultado final.
Enfim, é só se ajeitar na cadeira e aguardar a contagem regressiva! Sete estrelas para A Jornada. Então, até a próxima.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Proxima
Direção: Alice Winocour
Elenco: Eva Green, Matt Dillon
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 19/03/20
País: França, Alemanha
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Classificação: a definir