‘O Banheiro do Papa’ mostra a realidade dos excluídos

Fábio

Baseado em uma história real, o belíssimo ‘O Banheiro do Papa’ (El Baño del Papa, 2007) é, acima de tudo, outra preciosidade de um vizinho nosso sul-americano que, infelizmente, passou despercebido pelo grande público. Aliás, o filme uruguaio teria motivos de sobra para ter uma melhor sorte no Brasil. A história se passa em nossa fronteira e um dos diretores, Cesar Charlone, é responsável pela maravilhosa fotografia de Cidade de Deus.

Fronteira

Charlone divide da mesma forma a direção e o roteiro de O Banheiro do Papa com Enrique Fernández para contar a história de Beto (César Troncoso), um pequeno e humilde contrabandista que passa horas pedalando em sua bicicleta entre sua cidade, Melo (Uruguai), e as cidades gaúchas Herval e Pedras Altas, no Brasil. Entre suas idas e vindas, ele traz consigo pequenas bugigangas e comidas, assim como bebidas para vender a troco de um pequeno lucro para sobreviver junto com a esposa Carmen (Virginia Méndez) e a filha Silvia (Virginia Ruiz).

Miséria

Ambas, assim como a maioria dos seus vizinhos, cansadas de viver no meio da miséria em um cenário desolado, sem nenhuma perspectiva de melhora. Essa triste realidade não é novidade para o povo brasileiro. Esses ‘esquecidos’ pela sociedade, pelo governo e demais autoridades, infelizmente é um retrato que se assemelha igualmente tanto no Brasil quanto em outros países da América do Sul que tem suas ‘Melos’ engolidas pelas grandes metrópoles.

O Banheiro do Papa

Mas, se tem uma força que motiva esses esquecidos é a esperança. E em O Banheiro do Papa, ela aparece logo depois que a população recebe a notícia de que o santo pontífice visitará a esquecida Melo. Esperando milhares de visitantes brasileiros, os moradores da cidade começam, nesse ínterim, a investir o que tem e o que não tem para lucrar com o mega evento. Ou seja, barracas de comidas, bebidas, souvenires, medalhinhas, santinhos, bandeirinhas e outros badulaques turísticos serão construídos para atrair os turistas brasileiros.

A Grande Ideia

E é aí que Beto tem, nesse meio tempo, a sua brilhante ideia: com a chegada de todos esses turistas, onde eles irão fazer suas necessidades básicas? Sim, Beto, a princípio, não quer vender nada. Ele quer construir, nesse ínterim, um pequeno banheiro para alugar aos novos consumidores.

O Banheiro do Papa é, a princípio, uma tragicomédia deliciosa que trata com extrema delicadeza essa triste realidade dos esquecidos. Uma crítica ao capitalismo selvagem e à sociedade como um todo, sem soar panfletária. Ou seja, ela está presente no texto brilhante do roteiro e flui na história sem forçar um discurso ou soar como didática ao espectador.

Atuações

O filme ainda tem uma outra enorme força: a escalação do seu elenco, principalmente o casal formado por Troncoso e Méndez. Ninguém consegue ficar indiferente a paixão e a fé que Beto deposita em seu banheiro turístico. Impossível não torcer pelo protagonista quando ele está sendo perseguido pelos fiscais aduaneiros com seus contrabandos insignificantes. Beto é o retrato do povo sofrido do Uruguai, Brasil, bem como de todo país sul americano.

Por fim, o Banheiro do Papa é uma produção brilhante, triste, alegre e, acima de tudo, esperançosa e otimista. Um filme que lava a nossa alma.

Ficha técnica

Título original: El Baño del Papa
Estreia: 3 de agosto de 2007
Direção e roteiro: César Charlone, Enrique Fernández
Elenco:  César Troncoso, Virginia Méndez, Mario Silva, Virginia Ruiz, Nelson Lence, Henry De Leon, Jose Arce
País: Uruguai, França e Brasil
Idioma: Espanhol

Fábio

Santista de Nascimento, flamenguista de coração, paulistano por opção. Jornalista, assessor de imprensa viciado em cinema, série, HQ, música, games e cultura em geral.
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