‘Vikings’ tropeça feio em sua sexta e última temporada
Stenlånd Leandro
A série Vikings, que se encerra nesta sexta temporada, por muito será lembrada como algo atemporal tanto quanto Game of Thrones é. Não somente isso. Foi uma série que praticamente deu origem a muitas outras similares. Tut, Bárbaros, Palácio Wanxi e muitas outras épicas e que seus diretores tiveram coragem de contar sobre sua origem.
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Não estamos falando de algo precursor. Ainda assim, vai ficar por muito tempo na mente dos espectadores. No entanto, o maior problema em Game of Thrones foi o final. E, A sexta temporada de Vikings, podemos afirmar que o produtor tropeça em tentar passar uma imagem de que há muito estávamos entediados de ver.
Cristianismo exacerbado e sem efeito
Desde a era Ecbert, quando tudo que tinha vínculo com outro local que não fosse o norte europeu, tudo era Jesus Cristo e, para os vikings, Odin. Só que, anteriormente era funcional, afinal tínhamos Athelstan como uma espécie de protagonista católico e carismático. Não era muito diferente com Ragnar, que, no fim de sua vida, por amar Athelstan, também envergou-se para o cristianismo. Andava com uma cruz e, com isso, muitos começaram a duvidar de sua lealdade a seu povo.
Esse cristianismo notório funcionou lindamente com Ecbert, por exemplo. Era preciso suprir essa ausência de personagens funcionais. Sabemos que cristianismo em seriados é algo pesado e difícil de se assistir. Não é uma série sobre Jesus ou Deus, mas sobre vikings e seus deuses nórdicos.
Há muito mais cristianismo na tela do que vezes onde Odin é mencionado. A cultura dos vikings não se permitia a todo momento mencionar, por exemplo, que Thor os ajudaria, como Jesus ajuda seus fieis em batalha para trilhar uma possível vitória. A Páscoa, por exemplo, é citada. E isso maximiza a necessidade de mostrar que os deuses nórdicos, apesar de muito poderosos, não vão vencer. Afinal, em tese, só existe um Deus e ele não se chama Odin.
Hoje, na reta final da sexta temporada de Vikings, esse cristianismo exacerbado não funciona. Não há personagens carismáticos e, como os atuais protagonistas bem dizem, “a era dos heróis vikings acabou”. Com a morte de Lagertha e Ragnar, além do sumiço de Floki, era óbvio que a série deixaria o esplendor de outrora pra tentar seguir um rumo obscuro e sem coerência.
Haraldr: o rei que não conseguia ser amado
Ficou claro que Haraldr teria mais visão e tempo de tela na temporada. Sempre sofrendo por amor, o monarca tornou-se um dos personagens mais influentes da série. Sempre em busca de poder e conquistas, ele existiu de fato na história e é responsável por grandes feitos. Mas, interessantemente, não consegue quase nada durante o seriado. Traições, tentativas frustradas de casamento, idas e vindas ao poder. O astro finlandês Peter Franzén é responsável por dar vida ao icônico viking.
Haraldr foi o fundador da dinastia Hårfagreætta, que não é mostrada no seriado, além de ser o viking que uniu a Noruega. Isso também não é bem retratado nesta última temporada. Há uma votação em que o elegem como rei do País, mas essa união torna-se questionável, visto que todos querem destroná-lo. Ainda assim, graças ao bárbaro, a temporada consegue, de certo modo, ganhar tons pastelões e cômicos tanto quanto funcionais.
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E o seriado praticamente encerra-se com Haraldr tentando ser um viking importante na história. Ele mesmo frisa que quer ser lembrado, que quer ser herói como Ragnar e Bjorn foram outrora. Sempre em busca de uma esposa digna de sua importância, sempre encontrando resto de outros reis. Assim foi ao tentar casar-se com Lagertha e Gunhild. Nobre, forasteiro e bárbaro. Ele subiu ao trono, reinou por 20 anos e sua morte marcou o fim da era viking. Esse período de 20 anos de reinado também não é bem temporizado. A história diz que ele teve filhos, mas no seriado vemos apenas um.
Oleg: o profeta e sua importância em ‘Vikings’
Sabemos que os vikings sempre quiseram dominar, trilhar os mares e conquistar. Contudo, com essas birras internas, muita coisa aconteceu. Ademais, os filhos do herói sequer paravam de embater-se entre si, enquanto Oleg, o profeta focava em, ao lado de Ivar, atacar Kattegat. Assim, para quem assistiu à série até aqui, não importa sua idade. Certamente você tem alguma referência do filho de Odin na cultura pop. Seja quando ver qualquer seriado épico, tentará compará-lo de algum modo. E a chegada de Oleg à sexta temporada de Vikings pode ter engendrado isso.
Como todos sabem, o Príncipe Igor é o herdeiro legítimo do trono dos Ru’s. Ele é o único filho do falecido Rei Rurik. Por ele ser muito jovem, Oleg assumiu o seu lugar até que o personagem atinja a sua maioridade. No entanto, o Príncipe Oleg demonstra não ter nenhuma intenção em passar o trono para o sobrinho. Ivar percebeu isso e tem alertado Igor sobre o seu grande poder no reino.
Durante o período em que permaneceu no reinado, Oleg organizou pelo menos um ataque à capital do Império Bizantino, Constantinopla. Isso é apenas salientado no seriado. Não foi mostrada tamanha invasão, mas supõe-se que ocorreu. Ele é descrito como um “guerreiro formidável”, responsável por comandar vários ataques bem-sucedidos a regiões próximas ao seu reino. O interprete russo Danila Kozlovsky dá vida ao antagonista de maneira formidável.
Os erros de roteiro
Cada filho de Ragnar teve sua própria narrativa. Apesar de irmãos, uns querem matar aos outros. Desde que Lagertha matou Auslaug, o ódio de Ivar e Hvitserk por Bjorn e Lagertha era alto. Com o passar do tempo, Ubbe conseguiu trilhar um caminho afável, enquanto os outros dois irmãos de Bjorn, tentavam destronar a rainha de Kattegat e seu filho, que também tornou-se rei por um tempo. Todos queriam contemplar um final justo na sexta temporada de Vikings.
A chegada à Groenlândia, os ensinamentos de Floki e o que Oleg faria para permanecer no poder, bem como saber o que se desenrolaria com Igor poderiam ser isso. Mas, graças à incapacidade e, de certo modo, incompetência de seus roteiristas, a sexta temporada de Vikings teve um final bem aquém do esperado. Primeiro houve invasões sem lógica. Mortes desproporcionais que poderiam ter acontecido no último episódio para maximizar o drama e ficarmos com gostinho de quero mais.
A saber, as ações de alguns monarcas eram questionáveis. Já não havia mais remorso entre as atitudes, coisa muito impregnada em Ragnar. Ele poderia ser um rei intolerante para alguns, mas não se tornou um herói à toa. Ademais, muitos o amavam porque queria trilhar o caminho da paz. Queria conquistar, mas baseado em negociações. Isso já não acontecia desde a era Bjorn. Mesmo Lagertha não conseguiu fazer com que o legado do mito continuasse.
Mais problemas
Aliás, com isso, o tempo desnecessário em tela de outros personagens aumentou sem nenhuma justificativa, com bruxismo que não lembramos de ter acontecido em temporadas anteriores. Aquela coisa de amor e sexo também não há mais, salvo por Gunhild e Bjorn que parecem se locupletar até na doença. Assim, também fica claro que o diretor quer deixar pontas soltas para o spin-off Vikings: Valhalla, que chega após esses acontecimentos. Isso também é algo conflitante. Se teoricamente a era dos heróis foi pro espaço, por que haverá uma continuação? Em que novos protagonistas haverá base para criação de uma nova dinastia se Haraldr foi o último?
Os skogarmaors, conhecidos como piratas banidos dos reinos, chegam no seriado, mas apenas servem para encher linguiça. São pessoas em que não há como confiar. Salvam Bjorn na primeira parte da temporada, mas nada além disso.
Tentam dar ênfase a novos personagens, mas que não passam de pessoas do dia a dia. Seja você um governante, sempre haverá um skogarmaors ao seu lado. Ou seja, aquele que não se pode confiar de maneira nenhuma. De fato, há isso nos dias de hoje.
Durante um bom tempo, Vikings foi o sinônimo absoluto de qualidade. A série era recheada de bons momentos e esperava-se uma longa semana para termos acesso a novos episódios. Também havia um tom bem-humorado e aventureiro. Em relação aos efeitos visuais e especiais a qualidade se mantém. A excelente montagem nas batalhas, onde há inúmeros exércitos, mostra a capacidade de quem trabalha com a computação gráfica. Neste quesito, ainda temos o que elogiar.
Lagertha: ícone do empoderamento feminino
E quem disse que Mulher-Maravilha e Capitã Marvel são ícones do empoderamento feminino, esquece-se de que existiu uma heroína sem poderes chamada Lagertha. Em Vikings, o símbolo maior está na personagem vivida por Katheryn Winnick, a respeitada escudeira esposa do famoso Ragnar Lothbrok. Apesar de a grande líder viking ao longo da série ter tomado diversas atitudes feministas, a sexta temporada nos fez questionar algumas de suas ações.
O grande mérito na abordagem deste grupo é o próprio fato da série naturalizar sua representação, sendo vista por meio de cenas de mulheres lutando ao lado de homens em pura igualdade sem a necessidade de um discurso explicativo. Isso ficou claro nesta temporada final.
Restrita à história de Ragnar na primeira temporada, Lagertha alcança outros objetivos no decorrer da série. Assim, ela não se limita apenas a ser companheira do protagonista, assumindo decisões que contrariam os clichês sobre a fragilidade propriamente feminina.
Assim, até mesmo Gunhild, esposa de Bjorn, também é bem quista pelos nórdicos e vista como heroína. Sempre disposta a estar no campo de batalha, mesmo sendo uma mulher alta e imponente, mostra doçura e coerência em suas atitudes.
Lagertha é um exemplo de mulher empoderada, que possui um exército composto majoritariamente por mulheres e que tem conselheiras do sexo feminino. Neste contexto, parece inconsistente que ela apoiaria a escravidão de outras mulheres. Seria mais interessante para ela libertar as escravas e designar funções a cada uma, para que trabalhassem como mulheres livres.
Resumo da ópera
Não temos o final que muitos desejaram. A sexta temporada de Vikings chegou ao catálogo da Netflix e, com o passar dos tempos, o elenco mudou bastante com adições, mortes, envelhecimentos. Para relembrar personagens lendários, sobreviventes, rostos inéditos e conhecer os atores por trás de tudo, era algo bem complicado.
Ademais, há erros imperdoáveis do showrunner Michael Hirst ao tentar dar um final que nada tem a ver com a proposta do nome do seriado, tampouco com o que o protagonista e herói sempre quis. Principalmente pelo que fizeram com Hvitserk, que é ainda mais ultrajante. Parece que muitos diretores estão propensos a ‘cagarem’ com o final de seus seriados e dane-se. Afinal, não correm mais o risco de perderem seus cargos. Infelizmente vai ficar por isso mesmo e ponto final. A cena final pode até lhe comover, mas não irá, de maneira alguma, convencer.
TRAILER
Ficha Técnica
Título original: Vikings
Temporada: 6
Data de estreia: sex, 30/12/2020
Criação: Michael Hirst
Elenco: Peter Franzen, Eric Johnson, Adam Copeland, Steven Berkoff, Danila Kozlovsky,
Onde assistir: Netflix
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Gênero: Ação, Ficção, Épico
Ano de produção: 2020
Classificação: 16 anos