‘Misha e os Lobos’ e a ganância em cima do Holocausto
Fábio
A princípio, ‘Misha e os Lobos’ é mais uma história sobre uma sobrevivente do Holocausto. Aliás, uma grande saga, na verdade. Uma vez que a protagonista não apenas conseguiu escapar dos horrores que os nazistas cometeram contra os judeus, como também foi “adotada” e criada por lobos enquanto tentava encontrar seus pais verdadeiros.
A história de Misha e os Lobos é daquelas que de tão incrível daria um bom livro e, consequentemente, um bom filme. E foi exatamente isso o que aconteceu. Mas o que era uma linda história de sobrevivência se transformou na verdade em uma história sobre ganância. E, para piorar, uma mentira para tirar proveito de um dos capítulos mais terríveis da nossa história. Tudo isso pode ser visto no documentário que está em cartaz na Netflix.
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Misha e os Lobos
A incrível história de Misha Defonseca começa quando na sinagoga da pequena comunidade em que vive. Lá, ela – já idosa – resolve contar a sua história e os horrores que destruíram sua família. Os pais foram extraditados da Bélgica para a Alemanha nazista, enquanto a pequena Misha foi enviada para novos pais adotivos. Com saudade dos pais verdadeiros, ela foge de casa, se aventura no meio do mato para atravessar o país e tentar encontrar seus pais. No meio do caminho, encontra um lobo, faz amizade com ele e acaba sendo “criada” pela alcateia.
Comoção e justiça
A história comove a pequena comunidade, principalmente seus vizinhos e a editora Jane Daniel, que a convence a escrever um livro a respeito de sua vida. Misha aceita o acordo inicial, no meio do caminho resolve mudar de ideia sobre os royalties. A relação com Jane estremece e o imbróglio para na justiça.
Claro que a Jane perde o processo e vê sua vida acabar. Afinal de contas, como não dar ganho de causa para uma sobrevivente do Holocausto e que ainda por cima foi arrancada dos seus pais e criada por lobos?
A busca pela verdade
Enquanto Misha firmava um novo acordo com outra editora, lançava seu livro em diversos idiomas e via sua história se transformar em filme, Jane lutava para sair da lama. Inconformada com o golpe sofrido, buscou provar que não era uma mera aproveitadora querendo lucrar com o sofrimento de Misha. Ela, a princípio, queria apenas limpar seu nome. Porém descobriu algo pior.
Ao checar os detalhes do processo e de todo o material reunido por Misha, percebeu que a sobrevivente descontou o pagamento com um sobrenome diferente. Esse nome, aliás, também estava diferente em versões de língua francesa para outros idiomas. O fato intrigou a editora, que resolveu buscar a verdade.
O resultado
Com a ajuda de uma especialista em árvore genealógica e outra pesquisadora belga que também era sobrevivente do Holocausto, ela enfim, consegue provar a verdade. Para a surpresa geral de todos, Misha nem judia era.
O documentário
Além de entrevistar as duas personagens principais dessa história, Misha e os Lobos acerta em colher depoimentos dos seus vizinhos, bem como das duas pessoas mais importantes nessa linha de investigação. A pá de cal é o depoimento de um jornalista que ao saber desse caso, resolve ir atrás da verdadeira família de Misha e conversa com a tia da “sobrevivente”. Ela não apenas corrobora com os depoimentos das investigadoras, como também fala sobre os devaneios da sobrinha.
Surpreendente, Misha e os Lobos é, por fim, um documentário que mostra como a ganância é capaz de motivar uma pessoa a fazer qualquer coisa pelo dinheiro. Inclusive tentar lucrar sobre algo tão cruel que culminou com o assassinato de mais de seis milhões de judeus.
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Ficha técnica – Misha e os Lobos
Título original: Misha and the Wolves
Direção e roteiro: Sam Hobkinson
Elenco: Misha Defonseca, Jane Daniel
Data de estreia: qua, 11/08/21
Onde assistir: Netflix
País: Bélgica, Reino Unido
Gênero: documentário
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 2021
Classificação: 13 anos