Morrison Café crítica do filme 16 festival de cinema italiano 2021

‘Café Morrison’: quando o drama se sobrepõe

Gabriel Luna

É orientado pelos planos utilizados por Martin Scorsese – como em Os Bons Companheiros (1990) no Copacabana Nightclub – que Morrison Café (Morrison) estabelece o bar homônimo de modo a ser o objeto catalizador dos desdobramentos do filme. Lodo (Lorenzo Zurzolo), enquanto vocalista da banda Mob, puxa a atenção da câmera para centralizar-se em meio aos outros membros, deixando decorrer em sua aparência as inseguranças e a indiferença, ao passo que esconde uma certa fragilidade.

É perceptível a intenção de Frederico Zampaglione de representar uma juventude perdida em meio aos avanços inevitáveis da vida. Mas esses conflitos internos e pessoais acabam por se espalhar para outros núcleos, de forma a intensificar as consequências dramáticas. Ou seja, desviando a proposta inicial de discutir um período de amadurecimento.

Boa apresentação dos elementos

O começo retilíneo mostrando todas as questões envolvendo Lodo e suas vontades não alcançadas surgem como uma boa apresentação dos elementos que serão trabalhados ao longo da narrativa. São questões simples como sua paixão não tão correspondida pela vizinha Giulia (Carlotta Antonelli), a não aceitação da separação dos pais e as dificuldades de sobreviver no meio musical enquanto banda independente.

Tudo parte de uma perspectiva melancólica do personagem, mas que a direção transpõe toda essa sensação de ser maior do que aparenta. Quando intervém para exibir tais inconformidades como algo proveniente de um pessimismo, as situações aparecem mais simples do que se esperaria em algum cenário hollywoodiano. Uma conversa singela e só isso basta para significar mais do que um momento premeditado.

Quebra do tom

Essa simplicidade parece entrar ainda mais em choque quando a parte dramática resolve tomar conta e guiar a narrativa em uma queda abrupta de tom. O que antes era um coming of age com uma pequena identidade musical – mas nada perto do ótimo Sing Street – torna-se um drama pouco sugestivo e apressado sobre crise de identidade.

Não apenas como reflexo da um conflito entre eras musicais causada pelo personagem Libero Ferri (Giovanni Calcagno), que vive recluso após estagnar sua carreira musical com a falta de novos sucessos, mas toda a direção tomada pelo longa para justificar a aparente potência dramática dos efeitos caudados. Tudo surge de uma maneira desencadeada para que se chegue ao tão cogitado clímax. Entretanto, a sensação que cabe é de estar sendo manipulado para dar tanta importância quanto o filme está dando. Pena que não funciona nem como ameaça, muito menos como ponto de virada.

De volta ao início

A queda de desempenho do filme Morrison Café é mais perceptível nos momentos em que aposta em soluções visuais para dar fechamento aos dramas apresentados. De certa forma, a ideia é muito bem-vinda quando existe o balanço entre desenvolvimento e suas representações. Caso contrário, as imagens se tornam apelas alicerces contemplativos sem a menor importância, como no caso do sofrível Duna (2021). Apesar de ser menos incômodo nesse aspecto do que o épico sem sal de Denis Villeneuve, ainda assim, tais momentos carecem de uma maior significação e não apenas se sustentar na imagem pela imagem.

Por fim, seu início promissor fica esquecido por causa dessa urgência acelerada de dramatizar tudo enquanto ainda tem rolo no filme. O tempo respeitado tem suas delimitações atravessadas sem o menor pudor e chega a ser desconexo o caminho tortuoso que toma para provar um ponto que nem precisava. Pelo menos, no final, assim como Lodo, Morrison Café se encontra e volta para um estado inicial, onde tudo era mais interessante e menos problemático.

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Trailer do filme Morrison Café

Morrison Café: elenco do filme

Lorenzo Zurzolo
Giovanni Calcagno
Carlotta Antonelli
Giglia Marra
Riccardo De Filippis

Ficha Técnica

Título original do filme: Morrison
Direção:
Frederico Zampaglione
Roteiro: Giacomo Gensini, Federico Zampaglione
Data de estreia: a partir do dia 02 de novembro de 2021 na 16ª edição do Festival de Cinema Italiano
País: Itália
Duração: 99 minutos
Gênero: drama
Ano de produção: 2021

Gabriel Luna

Formado em jornalismo, gosta de filme em preto e branco e café sem açúcar.
NAN