‘A Garota e a Aranha’: uma mudança e seus efeitos
Ana Rita
Uma simples mudança pode desencadear em diversas consequências em nossas vidas. Uma mudança de cidade, de casa ou de rota. A vida é feita de ciclos, que são repletos de transformações, e isso deixa marcas, positivas ou não.
No filme A Garota e a Aranha (Das Mädchen und die Spinne), Lisa (Liliane Amuat) está mudando de apartamento, o qual dividia com Mara (Henriette Confurius). Essa partida é a história. Acompanhamos o empacotamento dos pertences de Lisa, móveis sendo montados e desmontados. E nisso, todos convivem e se relacionam no preparativo dessa mudança, sendo eles Lisa, Mara, mãe de Lisa, amigos, vizinhos e mais. Essa convivência desencadeia anseios, emoções e mais mudanças. O longa foi o vencedor do Prêmio da Crítica e de melhor direção na seção Encontros do Festival de Berlim.
As marcas da mudança
Com direção conjunta de Ramon Zürcher e Silvan Zürcher, A Garota e a Aranha inicia com um PDF de uma planta baixa sendo plotado. Mas algo estranho acontece, o arquivo abre uma vez com um erro desconhecido. E isso já é motivo para deixar Mara pensativa.
Pia pingando, marcas no chão, um estilete usado, uma bucha. Vários objetos com marcas de uso sendo focados. Esse uso é a marca do ser humano presente naquele habitat, assim como mudanças nos objetos e no tempo.
Uma britadeira na vizinhança marca sempre um novo dia, mais um pequeno ciclo dentro do grande ciclo da vida. Montar e desmontar o armário, o passado parece ser remexido, bem como o futuro ainda incerto é pensado. Mesmo que não seja mencionado diretamente. Algumas coisas são montadas, outras desmontadas e quebradas. O filme é cheio de simbolismo que ficam totalmente abertos para interpretação do espectador.
O período da mudança de Lisa é pelo dia. A noite é quando os personagens seguem suas vidas fora daquele espaço limitado de interação. Mas nem a distância do antigo apartamento dela é o suficiente para evitar mudanças na vida dessas pessoas em decorrência do que acontece nesse processo da vida da garota.
Conexões
Mara tem um olhar penetrante, mas tímido. Consegue prender a atenção de quem assiste e ainda causar efeito nos demais personagens. Por mais que Lisa seja quem está se mudando, é ela quem parece ser o elo mais forte das conexões.
Há coisas não ditas nessas relações, principalmente entre Mara e Lisa. Tudo é muito velado e nada é explícito. Os questionamentos ficam na cabeça do espectador, que, como observador distante, capta apenas um superficial desses até então desconhecidos. Cenas que dizem tudo (ou pelo menos tentam dizer) sem usar diálogos, somente com muita sutileza.
Voyage
Mesmo presente na vida da filha, Astrid (Ursina Lardi) já parece não conhecer tão bem Lisa. Afinal, a filha já está independente, vive com outras pessoas e se mostra muito controlada e reservada em relação a todos.
De fundo, seja por alguém cantarolando, um piano sendo tocado ou da própria trilha sonora inserida na montagem do filme, a música “Voyage, Voyage”, gravada em 1986 pela cantora francesa Desireless, se faz muito presente no decorrer da obra.
Em suma, A Garota e a Aranha traz, de forma sutil, os efeitos de mudanças, mesmo que pequenas. Em consequência, possíveis partidas, como diz a letra traduzida de “Voyage, Voyage”, ‘Viaje, viaje, mais longe que o dia ou a noite […] Viaje, viaje, e jamais retorne’.
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Trailer do filme A Garota e a Aranha
A Garota e a Aranha: elenco do filme
Henriette Confurius
Liliane Amuat
Ursina Lardi
Flurin Giger
André M. Hennicke
Ivan Georgiev
Ficha Técnica
Título original do filme: Das Mädchen und die Spinne
Direção: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Roteiro: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Onde assistir ao filme A Garota e a Aranha: Mostra de SP 2021
País: Alemanha
Duração: 99 minutos
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Classificação: 18 anos