‘Profecia do Inferno’ | série sul-coreana da Netflix é visceral
Jhone Silva
‘Profecia do Inferno’ começa com um monstro de fumaça arrastando pessoas para o inferno. Dessa forma, ao longo da nova série sul-coreana da Netflix, os criadores Choi Gyu-seok e o diretor de ‘Invasão Zumbi’ (Train to Busan), Yeon Sang-ho, avançam por meio das tramas e das partes de corpo humano com a mesma atitude despreocupada da abertura, equilibrando o comentário social com o de sempre – tensão crescente que vem com um mundo onde você pode ser brutalmente enviado para o inferno sem mais, nem menos. Milagrosamente, a produção consegue fazer tudo isso durante apenas seis episódios.
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Já no primeiro episódio a série nos mostra pra que veio. Conforme o relógio marca 13h20, um homem despretensioso é terrivelmente dilacerado por monstros demoníacos semelhantes a macacos que deixam apenas restos carbonizados em seu rastro. A partir daí, a série move-se metodicamente para interrogar este evento. Dessa forma, o detetive Jin Kyung-hoon (Yang Ik-june) é designado para investigar o “assassinato”, bem como a Nova Verdade, uma seita religiosa baseada no YouTube que afirma que as criaturas são, na verdade, anjos agindo de acordo com a vontade divina de Deus. Portanto, aos olhos do presidente da Nova Verdade, Jung Jin-soo (Yoo Ah-in), esses pecadores receberam o que estava destinado a eles, e o resto do mundo seria sábio se acordasse para a nova estratégia de Deus.
Narrativa caótica
Apesar disso, nem o presidente, nem o detetive, nem mesmo Min Hyejin (Kim Hyun-joo), uma advogada dos pecadores acusados, mantém o foco da série por muito tempo. Em vez disso, Profecia do Inferno muda de investigação policial para solilóquio religioso e tragédia grega. Isso poderia deixar a série sem foco, mas em vez disso, parece apenas um caos intencional, evitando qualquer coisa que deixe a história ser muito clara. Na mesma linha de ‘Akira‘, a narrativa simplesmente salta entre os personagens enquanto eles estão respondendo aos eventos centrais, fornecendo o que for mais interessante para a história no momento.
No entanto, a combinação inicial de líder religioso e policial é a dinâmica mais interessante desta primeira temporada. Ambos acreditam em um poder superior, seja Deus ou o Estado, e talvez supervalorizem a autonomia que uma pessoa média tem dentro desses sistemas. Além disso, ambos desejam uma justiça aceitável para os transgressores. Eles apenas discordam sobre quem deve distribuir essa punição. No final, a oposição deles é o resultado de ambos observando a ordem social estabelecida como a conhecem desmoronar em cima deles.
Pontos cegos
Dessa forma, nenhum dos outros personagens é tão cativante quanto a dupla de detetive e demagogo. Além disso, se Profecia do Inferno tem grandes pontos cegos, isso se deve ao problema de que os poderes por trás da Nova Verdade e o conceito mais amplo de crença – particularmente fervorosa e violenta – não valem a pena interrogar, ou, pelo menos, não são complexos o suficiente. Resumidamente, uma turba sem rosto ávida por violência em nome do Senhor acaba de se manifestar como pura maldade.
Os locais industriais cinzentos e a atmosfera temperamental criam uma Seul quase noir, encorajando o escrutínio das narrativas apresentadas. Na verdade, não é por acaso que Yeon e Choi enquadram cada pequeno perigo como um filme de monstro. Os ataques parecem animalescos e brutais, muito mais tangivelmente violentos do que, digamos, a marca de sangue lúdica de Sam Raimi. Além disso, as escolhas somam um tom que nunca permite que o público se sinta em paz com seu lugar na narrativa, não importa o que a Nova Verdade diga.
Boas escolhas
Yoo Ah-in é um casting particularmente inspirado, permitindo que seu presidente seja tão virtuoso quanto evasivo, imóvel em seu fanatismo discreto. Dessa forma, é sobre seus ombros que o resto dos personagens podem construir seus respectivos papéis – o policial ferido, a advogada obstinada, os pais questionadores.
Esse é o maior truque de Profecia do Inferno. Ao adaptar sete episódios de sua própria história em quadrinhos, Choi foi capaz de construir um mundo dinâmico, constantemente e habilmente estabelecendo as bases para a próxima etapa.
A série, em suma, ataca religiões com fins lucrativos, o apetite do público por violência e redenção e como os crimes costumam ser apenas a ponta do iceberg social. No fim da primeira temporada, as muitas narrativas de Profecia do Inferno se fundem em uma nova realidade surpreendente, mais uma vez substituindo, assim, as regras pelas quais o mundo parece estar funcionando.
Enfim, poderá haver mais mistério nesta história nas temporadas futuras, e eu irei devorá-los com toda a intensidade de um macaco de fumaça sobrenatural.
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Trailer de Profecia do Inferno
Ficha Técnica – Profecia do Inferno
Título original da série: Jiok
Direção: Sang-ho Yeon
Roteiro: Sang-ho Yeon e Kyu-Seok Choi
Elenco: Yoo Ah-in, Kim Hyun-joo, Jeong Min Park, Chase Yi, Jin-ah Won, Harrison Xu, Ik-joon Yang, Ryu Kyung-Soo, Do-yoon Kim
Onde assistir: Netflix
País: Coreia do Sul
Gênero: Policial, mistério, drama e sobrenatural
Ano de produção: 2021
Classificação indicativa: 18 anos