Novidades e antigos sucessos marcam reencontro de Humberto Gessinger e fãs do RJ
Fabricio Teixeira
Na última vez em que o líder dos Engenheiros do Hawaii pisou nos palcos cariocas, o mundo era outro. Não havia pandemia, ele rodava o Brasil com sua (ousada) turnê “Dois Trios” (que o ULTRAVERSO cobriu, e você pode ler clicando aqui), e seu último disco, Não Vejo a Hora, ainda não havia sido lançado. Por isso, a volta de Humberto Gessinger ao Vivo Rio no último sábado (11) teve não só aquela sensação de reencontro, como também ares de novidade.
Gessinger, que, ao longo da carreira, foi incorporando instrumentos ao seu rol de habilidades musicais, parece ter achado o equilíbrio e a melhor forma. Encontra sem dificuldades os timbres de que necessita em seus contrabaixos (tanto no Warwick de 6 cordas, quanto o Squier, que integra a sua já clássica double neck), bem como nos pads, sintetizadores, na gaita e na viola caipira. Dessa vez, o acordeon e o piano, que o seguiram em algumas apresentações, ficaram guardados.
E se afirmo que ele alcançou a melhor forma, não posso me abster de comentar que muito se deve aos companheiros de palco. Felipe Rotta fez uma apresentação impecável, dedicando-se a manter a pegada mais roqueira dos hits dos Engenheiros do Hawaii. Mas sabendo a hora de tirar o pé do acelerador nas canções que lhe exigiram mais suavidade – e um violão elétrico. Rafa Bisogno, figurinha carimbada nas bandas mais recentes de Humberto, mistura velocidade e precisão tanto na bateria, quanto no bombo leguero. Assim se destaca como um dos melhores bateristas que temos na música brasileira hoje.
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Setlist mais aberto e os “novos sucessos”
Embora essa fosse a turnê do Não Vejo a Hora, era lógico que os grandes sucessos da época dos Engenheiros do Hawaii não poderiam ficar de fora. Mesmo o Insular, primeiro trabalho solo de Gessinger, emplacou algumas músicas que caíram no gosto dos fãs. Desse último, porém, apenas “Tudo Está Parado” figurou no setlist do show. Isso só indicava que o artista priorizou, de fato, trabalhos consagrados e o disco novo.
Foram seis músicas do NVaH. “Partiu”, “Um dia de cada vez”, “Maioral”, “Estranho Fetiche”, “Bem a fim” e “Calmo em Estocolmo”. Mas também houve espaço para o single “Pra Caramba”, lançado no intervalo entre os dois trabalhos mais recentes. A plateia, sempre fanática, comprou a ideia e cantou todas as músicas do novo trabalho como se fossem um daqueles sucessos que acompanham Gessinger desde o início da carreira, nos anos 1980.
Impossível, no entanto, é aglutinar tantos sucessos, além de novos trabalhos. Se por um lado, o set com 24 músicas incluiu “Infinita Highway” (escolhida para abrir o show), “Armas Químicas e Poemas”, “Surfando Karmas e DNA”, “3×4”, “Pra Ser Sincero”, “Terra de Gigantes”, “Eu que não amo você”; assim como músicas mais lado B como “A Perigo” e “De Fé”; outros clássicos como “Era Um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”, “O Papa é Pop” e “Perfeita Simetria” acabaram ficando de fora. Nada que prejudicasse a apresentação.
Humberto menos tímido e a homenagem a Plant
Costumeiramente tímido, Humberto Gessinger estava mais falante durante o show no Vivo Rio. Talvez por estar matando a saudade da cidade em que morou por alguns anos e onde sua filha “deu os primeiros passos”, como o mesmo lembrou. Após tocar “Vida Real”, acompanhado pela casa inteira, o artista aproveitou para contar uma curiosidade sobre a música. O trecho “na hora da canção em que eles dizem baby” é uma homenagem/referência a Robert Plant, lendário vocalista do Led Zeppelin. “Acho que ele é o artista que cantou a maior quantidade de baby que eu já vi”, afirmou o cantor.
Humberto Gessinger voltou a conversar com os fãs presentes no Vivo Rio antes de tocar “Estranho Fetiche”, uma faixa do disco novo. Gessinger falou sobre a tendência que temos de fetichizar e romantizar o passado – como aborda a letra da música – e de como nos preocupamos com o futuro, mas esquecemos de viver o presente. Se não das coisas mais originais que o público pode ter ouvido, significa muito vindo de um artista que tinha tudo para se apoiar na história já escrita, mas que ainda se arrisca em novas produções.
Reencontro com Glauco Ayala
No bis, o trio voltou para tocar dos hits gigantes da época dos Engenheiros do Hawaii: “Somos Quem Podemos Ser” e “Toda Forma de Poder”. Na última música, uma surpresa: Glauco Ayala, baterista da última formação da banda, assumiu as baquetas e refez, por alguns minutos, a parceria com Humberto Gessinger, que durou quatro anos e rendeu cinco discos.
Humberto Gessinger é um artista metódico, que não é dado a muitos improvisos e coelhos tirados da cartola. Seus shows parecem ser friamente calculados para entregar o que ele e seus companheiros fazem de melhor em seus respectivos instrumentos. E, de fato, entregaram. Claro que, no final, sempre fica aquela sensação de “quero mais”, afinal, são muitos anos de estrada e muitas canções que fazem parte da história de muitos fãs.
Com uma mente sempre produtiva – e um tanto inquieta -, não me espantaria se entrássemos em 2022 com a notícia de que ele estaria produzindo um próximo disco; ou pensando em uma nova turnê para, mais uma vez, zerar a vida na viola.
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