‘Como pesquisar Cultura de Fãs?’ – com Adriana Amaral
Ultraverso Acadêmico
Adriana Amaral coordena o CULTPOP – Laboratório de Pesquisa em Cultura Pop, Comunicação e Tecnologias. A também professora do Programa de Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS); assim como pesquisadora do CNPq com Bolsa de Produtividade Nível 2, conversou com o ULTRAVERSO ACADÊMICO sobre como pesquisar Cultura de Fãs.
Com pós-doutorado em Comunicação, Mídia e Cultura pela University of Surrey (Reino Unido) através do Estágio Sênior CAPES, a também doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) com Estágio de Doutorado em Sociologia da Comunicação no Boston College (EUA) pelo CNPq, é autora de vários artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, capítulos e livros.
Nos últimos anos, as pesquisas de Adriana Amaral têm se voltado para as mediações entre materialidades tecnológicas e sociabilidades de fãs no contexto da cultura pop digital brasileira. É fã de sci-fi, cat lady, bem como apaixonada por temáticas ligadas à cultura gótica.
Enfim, confira o bate-papo de Adriana Amaral com o ULTRAVERSO ACADÊMICO sobre como pesquisar Cultura de Fãs.
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ULTRAVERSO: Nos conte um pouquinho quem você é: formação, onde trabalha, o que pesquisa…
Adriana Amaral: Meu nome é Adriana Amaral. Sou professora da Escola da Indústria Criativa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) no Rio Grande do Sul, pesquisadora do CNPq e coordenadora do Laboratório CULTPOP – Cultura Pop, Tecnologias e Comunicação. Fiz graduação em Jornalismo, mestrado e doutorado em Comunicação Social na PUCRS. Também fiz Doutorado Sanduíche no Boston College nos EUA e meu pós-doutorado foi realizado na University of Surrey no Reino Unido.
Durante o meu mestrado estudei fãs do U2 no Rio Grande do Sul e a relação com diferentes identidades nacionais/regionais. No doutorado, dei uma guinada rumo à cultura digital e pesquisei como a cultura cyberpunk e a ficção-científica impregnaram o imaginário das origens do que entendemos como cultura digital.
No momento, estou encerrando um projeto de pesquisa sobre o desenvolvimento dos estudos de fãs no Brasil e sua relação com o desenvolvimento da cultura digital no país, além claro de estar envolvida em outros projetos, como a questão das subculturas e nichos no TikTok e outro que foca nas narrativas da vacinação nas mídias sociais no Brasil e na Alemanha.
O que significa e qual a importância de se estudar fãs?
Adriana Amaral: Acho que atualmente a questão de identidade de fã está melhor delineada então a gente consegue observar de forma mais nítida como as práticas e culturas de fãs têm influenciado os mais variados aspectos da sociedade atual como política e ativismo, por exemplo.
Além disso, a questão das formas de consumo se torna central uma vez que a cultura pop tem dimensões afetivas, mas também está no epicentro da questão econômica das indústrias culturais/criativas. Nesse sentido, fãs e audiências acabam sendo elementos importantes nessas relações e para a fruição e o entendimento da cultura midiática
Como se começa a pesquisar Cultura de Fãs? E como esses estudos são abordados atualmente?
Adriana Amaral: Os estudos de fãs se desenvolvem a partir dos estudos culturais (recepção/audiência) e dos estudos de mídia, mas tornam-se um campo mais definido a partir dos anos 1990. São várias fases dessas pesquisas e atualmente há muitas questões em torno da interseccionalidade, questões de gênero, raça etc.
Outro ponto importante tem sido pesquisar os fãs fora do eixo anglo-saxão, bem como perspectivas que articulam o tema com outras áreas como a ciência da informação, a divulgação científica e as materialidades e humanidades digitais. Existem várias possibilidades de como pesquisar cultura de fãs, fandoms. Não há uma abordagem ou um método único. Pelo contrário, há uma miríade de possibilidades metodológicas e objetos.
Há também uma vertente de pesquisadores que estão abandonando a Academia e trabalhando em pesquisa aplicada nessa área nas indústrias. Essa é uma outra tendência, sobretudo no exterior. Aqui no Brasil algumas iniciativas nesse sentido já apareceram através de consultorias, por exemplo.
Qual o maior desafio dos estudos de fãs? Conte-nos alguns obstáculos pelos quais você já se deparou.
Adriana Amaral: Acredito que sejam vários desafios: as diferentes mídias e métodos; a questão transcultural e fandoms não ocidentais, não-brancos. E, claro, a questão dos métodos digitais combinados à tradição mais qualitativa desse tipo de pesquisa.
Acredito que a área avançou bastante nos últimos anos, tanto que a quantidade de publicações sobre o tema aumentou consideravelmente. Basta acessar o Acervo de Estudos de fãs, que o laboratório CULTPOP lançou nesse ano, sistematizando e organizando boa parte da bibliografia nacional.
De qualquer forma, acho que o primeiro obstáculo foi provar que minha pesquisa era relevante e que merecia financiamento. O outro foi um certo ranço e preconceito de alguns colegas. Cheguei a ouvir que “eu não teria onde trabalhar com esses temas”. De qualquer forma, o tempo provou que eu estava correta e que a cultura pop em sua relação com a cultura digital teria muitos desdobramentos para pesquisas futuras.
Acho que eu estava exatamente no lugar onde eu deveria estar e vi todo um campo de pesquisa emergir, aprendendo com quem já estava antes. Sou muito grata por ter sido acolhida por exemplo no GT Cibercultura da COMPÓS quando era ainda doutoranda. Ali eu entendi o meu caminho.
Quais textos e/ou autores você indica para quem quer seguir a carreira acadêmica e pesquisar fãs, mas teve pouco contato com a teoria durante a graduação?
Adriana Amaral: Acho que começar pelos clássicos como Fiske e Jenkins, mas, ao mesmo tempo, ficar ligado nas publicações atuais de periódicos como Transformative Works, Participations e de quem faz parte da Fan Studies Network, assim como dos autores e autoras nacionais que são bastante prolíficos. Para essas questões mais introdutórias, recomendo visitar o Acervo de Estudos de Fãs.
Se você pudesse dar dicas para quem tem interesse no assunto, mas não sabe como começar, com quem falar, como entrar no mestrado, o que diria?
Adriana Amaral: Eu diria para procurar participar de algum evento e ficar ligado nos grupos de pesquisa. Hoje em dia a maioria dos grupos tem perfis em plataformas como Instagram, por exemplo, onde se tem um bom acesso e troca. Se for possível cursar uma disciplina como aluno especial de alguma pós, é outra ajuda. Pesquisar o lattes e conversar com quem está pesquisando temas correlatos com os seus.
Se você leu um artigo e curtiu, mande um e-mail pro pesquisador(a), faça perguntas. A pesquisa avança de forma coletiva. Tente frequentar os eventos (devido a pandemia tivemos muitas iniciativas online) de vários laboratórios e grupos. Certamente teremos mais ações nesse sentido. O importante é começar mapeando os textos centrais ao seu interesse, bem como informações e materiais sobre o seu objeto de pesquisa. Não tem receita de bolo. Tem que ir aos poucos construindo o lugar da sua contribuição no mundo acadêmico.
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