‘Não Olhe para Cima’ e a privacidade
Wilson Spiler
Nos últimos dias, o filme Não Olhe para Cima, da Netflix, tem dado o que falar. Afinal, é um dos assuntos mais comentado em todas as mídias sociais. Com um elenco repleto de estrelas como Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett e Jonah Hill, o longa-metragem conta ainda com a participação da cantora Ariana Grande.
O filme causa controvérsia pois vê-se nele um retrato de nossa realidade. Sem dar spoilers, a história apresenta um mundo polarizado; assim como uma imprensa de ética questionável; políticos sem escrúpulos; e negacionistas de verdades científicas. A produção apresenta aspectos jurídicos relevantes de nossos dias. A começar por um mundo onde todos são monitorados, vigiados por redes e celulares desenvolvidos para esse fim.
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Big techs
Na trama de Não Olhe para Cima, da Netflix, uma gigante de tecnologia controla o mundo digital, diminuindo a capacidade opinativa crítica de seus usuários e o CEO da empresa é considerado um guru tecnológico, um visionário do futuro. É, certamente, uma mistura de Steve Jobs, Zuckemberg e Elon Musk.
O que se retrata é como as big techs capturam milhões de nossos dados sem que percebamos quando navegamos pelas redes sociais, aplicativos de conversação ou programas para fins específicos como treinos ou dietas. Elas possuem nossos dados pessoais, inclusive os sensíveis, sabem o que você curte, o que comenta, o que compra, enfim, sabem mais de você que você mesmo.
Leonardo Di Caprio interpreta o cientista que, juntamente como sua assistente Jennifer Lawrence quer comunicar ao mundo uma importante descoberta. Com o desenvolvimento da trama, as dificuldades para efetivar a comunicação vai crescendo, culminando com a parte final da obra, bastante tensa.
LGPD
Não Olhe para Cima, da Netflix, traz uma reflexão para nós brasileiros: se todos os nossos dados estão disponíveis nas mídias sociais; se sabemos inclusive que são vendidos na dark web; e se os sistemas públicos e privados são com frequência alvo de invasões, será que a LGPD (Lei Geral de Proteção dos Dados) será suficiente para conter os abusos? Ou será que, como na película, as big techs irão capturar inclusive os poderes públicos?
De fato, no filme nenhum de nós de forma individual tem muita autonomia na gestão de seus dados pessoais. E somos estimulados a consumir novos aplicativos que as gigantes da tecnologia nos disponibiliza, sempre com novos avanços tecnológicos e novas funcionalidades. Se é inevitável em um mundo cada vez mais digital esse domínio crescente pelas mídias sociais e pelas empresas que as administram, como evitar um futuro catastrófico, sem nenhuma privacidade ou escolha sobre quais dados concordamos em disponibilizar?
ANPD
Se muitos dizem que o filme é um retrato e até uma visão de nosso futuro, devemos torcer para que o final de nosso mundo não seja o mesmo da trama. E estamos em um momento chave, pois invasões de hackers estão ocorrendo e expondo dados de usuários, inclusive retirando aplicativos públicos por muitos dias do ar. Se a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) demonstrar que sancionará com equidade empresas públicas e privadas e atuar para que tenhamos uma cultura de cibersegurança, iremos evoluir, aguardemos.
Se você ainda não assistiu Não Olhe para Cima na Netflix, assista e participe do debate que vem tomando nossas mídias nos últimos dias. E reflita sobre a importância de ser cada vez mais cuidadoso com seus dados pessoais.
*Francisco Gomes Júnior é Advogado Especialista em Direito Digital e Crimes Cibernéticos; bem como presidente da Associação de Defesa de Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP).
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