Almodóvar foge do lugar comum com ‘Mães Paralelas’

Wilson Spiler

Pedro Almodóvar, definitivamente, não é um diretor comum. Um cineasta com A Pele que Habito’, ‘Tudo sobre Minha Mãe’, ‘Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos’, ‘Fale com Ela’, ‘Má Educação’, ‘Ata-me’, entre outras obras de tanta relevância, é, certamente, alguém de quem muito se espera. Por isso, todo novo filme dele é aguardado com tamanha expectativa. Não foi diferente com Mães Paralelas (Madres Paralelas), que estreou na última sexta-feira (18) no catálogo da Netflix.

O longa-metragem tem uma história que podemos até chamar de clichê, onde duas mães de diferentes idades dão à luz no mesmo dia e acabam se tornando amigas. Janis (Penélope Cruz), já está à beira dos 40 anos e vê a oportunidade com talvez a última de sua vida para ter um filho. Por outro lado, Ana (Milena Smit) ainda se encontra no esplendor da juventude, na casa dos 20 anos e se arrepende da gravidez, mas optou por não abortar a criança.

Mães Paralelas

Muitas camadas

A partir daqui, qualquer detalhe a mais da trama passa a ser spoiler. Mas já posso adiantar que, como sempre, Almodóvar foge do lugar-comum e transforma o que poderia ser um drama cotidiano em quase uma história de terror e resistência.

Como pano de fundo dessa história, Janis é uma fotógrafa que busca encontrar os seus antepassados “desaparecidos” durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39) e a subsequente ditadura de Francisco Franco (1939-1975), que foram enterrados em fossas espalhadas por todo o país.

E é aí que o filme Mães Paralelas ganha ainda mais camadas. Ao mesmo tempo em que acompanhamos o drama das mulheres, abordando temáticas como mães solteiras, pais ausentes, aborto, homossexualismo, entre tantas outras questões relevantes, Almodóvar deixa um recado muito para claro para o fascismo crescente da extrema-direita no mundo, mostrando a importância da arte para ressurgirmos dessas cinzas.

Mães Paralelas

Trilha e fotografia impecáveis

Como se não bastasse tudo isso, Almodóvar se mostra genial ao utilizar uma trilha impecável em conjunto com uma fotografia de encher os olhos, trabalha também com closes e tomadas que tornam o longa ainda mais tenso – e denso. Tudo isso somado a uma atuação soberba de Penélope Cruz, em um dos melhores trabalhos de sua carreira. Não à toa, a atriz está indicada ao Oscar 2022.

Por fim, fica apenas uma ressalva para algumas soluções fáceis no roteiro, que, com uma trabalhada mais paciente no texto, poderiam ser melhor desenvolvidas. Mas nada que impeça Mães Paralelas de ser um filme memorável e mostrar que a boa forma de Almodóvar veio para ficar de vez após o também excelente Dor e Glória.

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Mães Paralelas

Ficha técnica – Mães Paralelas

Título original: Madres Paralelas
Direção e roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Milena Smit, Israel Elejalde, Aitana Sánchez-Gijón, Rossy de Palma, Julieta Serrano, Auria Contreras, Carmen Flores, Alice Davies, Ainhoa Santamaría
Data de estreia: sex, 18/02/2022
Onde assistir: Netflix
País:  Espanha
Gênero: Drama
Duração: 122 minutos
Ano de produção: 2021
Classificação:
 14 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN