‘Não Me Mate’, mas mate, por favor
Wilson Spiler
É sempre bom ver outros países além dos Estados Unidos se arriscando no terror. A própria Itália, vez ou outra lança boas produções do gênero, como Pelo Amor e Pela Morte (1994) e o mais recente Um Clássico Filme de Terror, de 2021. Infelizmente, esse êxito dos italianos não acontece no mais recente filme Não Me Mate (Non Mi Uccidere), lançado na última semana pela Netflix.
Baseado no romance homônimo de Chiara Palazzolo, Não Me Mate não parece saber o que quer e muito menos para onde vai. Dirigido por Andrea De Sica, que trabalhou na produção do incrível Os Sonhadores, o cineasta, pelo visto, não aprendeu nada com o cultuado Bernardo Bertolucci.
Zumbi, vampira, morta-viva…
Na trama, Mirta (Alice Pagani), uma jovem patricinha, e Robin (Rocco Fasano), um rebelde sem causa, morrem após terem uma overdose de drogas. Mais tarde, ela revive e descobre que, para continuar vivendo, deve comer seres humanos vivos.
Ou seja, não sabemos se a personagem é zumbi ou vampira – e o filme faz questão de não deixar isso claro. Mas se esse fosse o único problema de Não Me Mate, tudo bem. Poderíamos estar diante de uma possível renovação do gênero. Pena que as falhas não param por aí.
O longa, que tenta ser sério, cai para o trash com atuações – no mínimo – questionáveis, um roteiro sem pé nem cabeça, uma fotografia terrível, utilizando-se de uma iluminação branca, que deixa tudo muito claro para o tipo de atmosfera que pretendia passar.
Além disso, o terror passa para drama, que acaba virando um romance e, quando percebe, o espectador não faz ideia do que está acontecendo. É personagem que se apaixona de repente, é luta de mortos-vivos contra uma seita de caçadores, que sabe-se lá como e porque funcionam, é gente se matando à toa.
Cafajestice pura
Nada casa com nada. É um roteiro completamente absurdo e pobre, cheio de diálogos ridículos, que parece vir de um adolescente amante de produções de baixo orçamento, mas que acredita que está fazendo um trabalho nível Hollywood. A diferença é que o trash tem graça e Não Me Mate é pura cafajestice a lá Crepúsculo.
O ritmo lento ajuda a tornar a experiência ainda mais terrível. O espectador não consegue se conectar com nenhum dos personagens. Pelo contrário: me peguei muitas vezes torcendo para os caçadores de mortos-vivos acabarem logo com isso.
Confesso que não tive acesso ao livro original. Portanto, se você que está lendo é fã, sinto muito dizer que Não Me Mate é um filme horroroso. Espero que a obra literária seja melhor do que isso. O maior receio é darem continuidade a essa monstruosidade, visto que trata-se de uma trilogia. Além disso, o desfecho do longa-metragem dá a entender isso.
Se há algum ponto positivo no filme é a abordagem ao direito de escolha da personagem, que se viu violada diante do que se tornou sua vida. Mas, definitivamente, o cinema italiano é muito melhor do que isso e não merece essa patacoada.
Onde assistir ao filme Não Me Mate?
A saber, Não Me Mate está disponível para os assinantes da Netflix. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Trailer do filme Não Me Mate, da Netflix
Não Me Mate (Netflix): elenco do filme
Alice Pagani
Rocco Fasano
Silvia Calderoni
Ficha Técnica
Título original do filme: Non Mi Uccidere
Direção: Andrea De Sica
Roteiro: Gianni Romoli e Andrea De Sica, baseado no romance de Chiara Palazzolo
Duração: 90 minutos
País: Itália
Gênero: romance e terror
Classificação: 18 anos