‘O Escândalo da Wirecard’ mostra o valor da imprensa livre
Wilson Spiler
Se reclamamos muito da qualidade das produções da Netflix, sejam filmes ou séries, o mesmo não se pode dizer dos documentários. O Escândalo da Wirecard (Skandal! Bringing Down Wirecard), que estreou na última sexta-feira no catálogo do streaming, está aí para não nos deixar mentir.
O que foi o escândalo de Wirecard?
Wirecard era uma empresa de pagamentos fundada em 1999 que lançou ações na bolsa da Alemanha um ano depois. A companhia se tornou uma gigante do mercado que, 20 anos depois, viu sua história desmoronar em apenas 10 dias com o surgimento de um escândalo de corrupção.
As suspeitas sobre a empresa foram levantadas por jornalistas do Financial Times, que apontaram para irregularidades contábeis. O jornal descreveu uma prática chamada de “round-trip”, onde, supostamente, uma série de transações potencialmente duvidosas são feitas além-fronteiras para várias unidades, a fim de fazê-las parecer legítimas para os auditores locais.
A publicação também acusou a empresa de conspirar para inflar as vendas e os lucros das subsidiárias em Dubai e Dublin e, potencialmente, enganar a Ernst & Young (EY), que fazia auditoria dos balanços da companhia há mais de 10 anos.
Leia também:
‘Garotos de Bem’ revela o fascismo que nos permeia desde sempre
‘Broad Peak’: ritmo lento prejudica uma boa história
Morre o diretor Jean-Luc Godard, um dos ícones da Nouvelle Vague
Prisão e falência
Apesar das denúncias bem concretas, a Wirecard sempre negou e tentou passar um pano na história. O caso só estourou mesmo quando a empresa, após adiar quatro vezes a divulgação de seu balanço, admitiu que 1,9 bilhão de euros (US$ 2,1 bilhões) haviam desaparecido de seu resultado.
Isso levou o então CEO Markus Braun a pedir demissão, para ser preso por suspeita de falsificação de contas logo em seguida. Ele foi solto em seguida após pagar fiança de cinco milhões de euros. O caso levou as ações da Wirecard, até então negociadas em torno de 104 euros, a caírem 98%, batendo uma mínima de 1,28 euro.
Além disso, a queda da companhia colocou a governança corporativa e a regulamentação do setor na Alemanha em xeque. Em 2020, a empresa entrou com pedido insolvência com dívidas de cerca de 3,5 bilhões de euros (em torno de R$ 18 bilhões).
Montagem bem-feita
Sobre o documentário O Escândalo da Wirecard, por sua vez, não há muito o que comentar. O filme é um compilado de entrevistas com os jornalistas que participaram da investigação e como se decorreu o caso.
Entretanto, a montagem bem-feita e ágil traz o espectador consigo, tornando um assunto que já era interessante em algo ainda mais atrativo. Quem gosta do gênero, certamente vai adorar O Escândalo da Wirecard. Para os jornalistas – e para quem critica a mídia -, é também uma aula de como a imprensa (livre) ainda é importante para trazer à tona assuntos tão relevantes.
Onde assistir ao documentário O Escândalo da Wirecard?
A saber, O Escândalo da Wirecard estreou nesta sexta-feira, 17 de setembro de 2022, no catálogo da Netflix.
Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do ULTRAVERSO:
Trailer do filme O Escândalo da Wirecard
https://youtu.be/1yhPtoqDkzo
Ficha Técnica do documentário O Escândalo da Wirecard
Título original do filme: Skandal! Bringing Down Wirecard
Direção: James Erskine
Duração: 93 minutos
País: Reino Unido
Gênero: documentário
Ano: 2022
Classificação: 14 anos