50 Anos de James Bond – Parte 18: “007 – O Amanhã Nunca Morre”

Pedro Lauria

Sempre vi 007 O Amanhã Nunca Morre como uma reedição do clássico 007 – O Espião que me Amava para os novos tempos. Novos tempos esses que abriram mão de personalidade por mais efeitos especiais e cenas de ação melhor coreografadas.
A comparação não é à toa, uma série de elementos se repetem: o vilão megalomaníaco, a Bond Girl que também é agente, a fortaleza submarina onde se passa o terceiro ato do filme, o capataz bombado…
Mas são apenas elementos destacados. 007 O Amanhã Nunca Morre não consegue gerar nem um décimo da empatia de seu predecessor. A história é infantil – Carver, um grande barão da mídia, é também um “senhor do caos”, criando guerras, desastres e escândalos na surdina para poder noticiar em seus jornais antes de todo mundo. Seu plano? Começar uma guerra entre China e Inglaterra com intuito de conseguir um contrato de exclusividade com o país oriental durante os próximos 100 anos.

A química entre os dois personagens é um dos melhores aspectos do filme.

A química entre os dois personagens é um dos melhores aspectos do filme.


É, eu sei. Mas lembram de Goldfinger? Ou do próprio Blofeld? A verdade é que os melhores vilões da série são aqueles com planos estapafúrdios. E sim, Elliot Carver é um bom vilão (quase uma encarnação infernal de Steve Jobs), cuja falta de ação é compensada na narrativa pela presença de Stamper, seu braço direito no que se diz a combates – uma espécie de Jaws sem carisma.
Do lado de Bond, outro personagem se destaca – Wai Lyn – a versão Jet Li de uma Bond Girl. Se aproveitando do estereótipo chinês, sua personagem enfrenta pencas de capangas se utilizando de artes marciais em sequências que pouco parecem um filme do agente britânico. Entretanto sua química com Bond funciona e completamente apaga a existência de uma outra Bond Girl: Terri Hatcher, a eterna Lois de Lois & Clarke.
E esse é o maior crime do filme. Apesar do roteiro repetir algumas vezes que a personagem é um grande amor de 007, relegada ao passado, essa química com o personagem de Pierce Brosnan é quase inexistente. E pior, em um momento crucial da trama quando deveríamos sentir o impacto emocional que ela causa a James Bond, o diretor Roger Spottiswoode não consegue dar o peso dramático necessário.
As vezes o filme se esquece que é um James Bond e se torna uma obra de ação oriental.

As vezes o filme se esquece que é um James Bond e se torna uma obra de ação oriental.


Falando na direção, é necessário citar dois pontos completamente destoantes de Spottiswoode. Do lado positivo da balança as cenas de ação que são algumas das mais criativas e impressionantes da série. A sequência do helicóptero tentando decaptar todos os presentes em um mercado chinês é incrível. Já do lado negativo, é impossível não falar da breguice presente em alguns dos seus planos: sejam as câmeras lentas inexplicáveis ou a música extremamente cafona na hora do beijo final.
A comparação com 007 – O Espião que Me Amava provavelmente não é justa. Mas uma coisa é muito clara: se sobra ações e vilões megalomaníacos, falta, por outro lado, o grande diferencial do melhor filme da era Roger Moore: química entre seus personagens. E isso, é o suficiente para separar um bom filme de uma obra prima.
BEM NA FITA: Bom uso dos elementos clássicos da série; Ótimas e criativas cenas de ação
QUEIMOU O FILME: Falta de química entre Bond e Paris; Breguice da direção; As vezes o filme parece uma obra do Jet Li
FICHA TÉCNICA:
Roger Spottiswoode
Elenco: Pierce Brosnan, Judy Dench, Teri Hatcher, Michelle Yeoh, Jonnathan Pryce e Desmond Llewelyn
Produção: Albert R. Broccoli
Roteiro: Bruce Feirstein
Fotografia: Robert Elswit
Montador: Michel Arcand e Dominique Fortin

Pedro Lauria

Em 2050 será conhecido como o maior roteirista e diretor de todos os tempos. Por enquanto, é só um jovem com o objetivo de ganhar o Oscar, a Palma de Ouro e o MTV Movie Awards pelo mesmo filme.
NAN