O Telefone do Sr Harrigan crítica do filme da Netflix 2022

Foto: Netflix / Divulgação

‘O Telefone do Sr Harrigan’ e “o horror, o horror”

Wilson Spiler

Adaptado do conto homônimo de Stephen King, presente no livro “Com Sangue”, o filme O Telefone do Sr Harrigan estreou nesta quarta-feira, 5 de outubro de 2022, no catálogo da Netflix sem grande estardalhaço, embora o nome do autor chame bastante a atenção.

Não à toa, claro. Stephen King é um dos maiores escritores de terror e suspense, que envolvem o sobrenatural, da história da Literatura moderna. Seus livros são best-sellers, e muitos deles viraram filmes e séries, tendo sua maior representatividade no clássico “O Iluminado” (1980), de Stanley Kubrick e estrelado por Jack Nicholson.

Leia também:

As estreias de outubro de 2002 no Star Plus

‘Plano A, Plano B’ até tenta enganar, mas é mais do mesmo

‘Rainbow’ é uma releitura interessante de ‘O Mágico de Oz’

Perdas

Em O Telefone do Sr Harrigan, temos a história de uma relação entre Craig (Jaeden Martell) e o senhor Harrigan (Donald Sutherland), que dá nome ao filme. O jovem é um menino solitário, órfão da mãe, que vive em uma pacata cidade com seu pai.

Ambos sofrem pela perda da matriarca, que acaba afetando a proximidade entre pai e filho. É quando o senhor Harrigan, um velho solitário, contra o menino, sem qualquer razão aparente, para que lesse livros para ele durante a semana. Para fugir desse vazio que encontra em casa, o jovem aceita o ‘emprego’.

O telefone

A relação entre Craig e Harrigan vai se estreitando aos poucos à medida em que o jovem vai crescendo e amadurecendo. Até que, em um belo dia, o adolescente dá um iPhone (o tal telefone sugerido no título) para o idoso. A princípio, ele recusa o presente, mas quando o menino explica como funcionam as coisas no celular, com notícias em tempo real, inclusive da Bolsa de Valores que o velho gostava de acompanhar, essa avidez pelos livros começa a mudar.

Em sua cidade pacata, onde tudo chegava depois e era novidade para os jovens, o lançamento dos celulares funcionava como uma espécie de ranking de popularidade – e, claro, de status social – nas escolas. Quem tinha um iPhone, sentava com o pessoal da Apple. Aqueles que possuíam o Motorola RAZR, uma febre na época também, andava também com quem tinha o aparelho; e assim por diante.

Os perigos

A obra não fala exatamente a data em que se passa, mas a julgar pela criação do iPhone, subentende-se que seja durante meados dos anos 2000. A partir dessa invenção, O Telefone do Sr Harrigan faz uma analogia interessante sobre a dependência das pessoas com o aparelho celular.

As relações entre Craig e o idoso mudam, assim como aconteceu na escola. As pessoas pararam de se comunicar diretamente para trocar mensagens. No caso do menino com o velho, a literatura já não tomava tanto a atenção de Harrigan, que começou a ficar mais disperso diante de um mundo novo que seu smartphone.

O próprio Harrigan percebe os perigos que o telefone poderia trazer, mas, ainda assim, se sente atraído de tal forma que não consegue tirar os olhos do aparelho. É como em uma das falas mais interessantes dele durante a leitura de um dos diversos livros que Craig leu que a direção destacar “o horror, o horror”, dando ênfase no que vinha pela frente. E quando o idoso morre, Craig enterra com ele o iPhone que lhe deu de presente. É quando o famoso sobrenatural dos contos de Stephen King começa a aparecer.

A adaptação

Veja bem: O Telefone do Sr Harrigan é um conto dentro de um livro do autor, ou seja, é algo curto. O desenvolvimento não é tão grande, o que, claro, sugere algumas adaptações para que seja transformado em um longa-metragem.

Embora o diretor e roteirista John Lee Hancock, responsável por uma cinematografia irregular, com ótimas obras como “Um Sonho Possível” (2009), “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” (2013), “Fome de Poder” (2016); bem como os discutíveis “Estrada Sem Lei” (2019) e “Os Pequenos Vestígios” (2021); garanta que tenha priorizado o texto original, é óbvio que, pelo tempo de projeção, foi obrigado a fazer mudanças.

Ameaças

Até aí, tudo bem. Mas, por tentar ser tão fiel à obra original, acabou estendendo mais o longa do que deveria. Embora a relação entre Craig e Sr Harrigan tenha sido bem desenvolvida, com o idoso sendo uma espécie do mentor para o garoto, inclusive para o mal, as outras ao redor do jovem não conseguiram o mesmo êxito. O próprio valentão da escola não parecia tão ameaçador, assim como o sentimento afetivo do menino pela professora foi bem apressado.

Entretanto, apesar desses problemas, O Telefone do Sr Harrigan consegue segurar o espectador até o fim. Mais para saber como será o desfecho do que por mérito próprio, é verdade, mas consegue. O encerramento sem grandes explicações plausíveis para o que ocorria pode desapontar alguns, mas a verdade é que Stephen King trabalha com o sobrenatural. Então aceite que se trata de um fenômeno fora desse plano espiritual. A crítica ao uso do celular é bem-vinda e interessante, ainda que não seja inovadora. Mas vale pela tentativa de chamar a atenção de uma geração que não consegue mais viver sem o aparelho, mesmo sabendo o quanto isso lhe afeta.

Onde assistir ao filme O Telefone do Sr Harrigan (2022)?

A saber, O Telefone do Sr Harrigan estreia nesta quarta-feira, 5 de outubro de 2022, no catálogo da Netflix.

Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do ULTRAVERSO:

https://app.orelo.cc/uA26

https://spoti.fi/3t8giu7

Trailer do filme O Telefone do Sr Harrigan, da Netflix

O Telefone do Sr Harrigan: elenco do filme da Netflix

Jaeden Martell

Donald Sutherland

Joe Tippett

Ficha Técnica do filme O Telefone do Sr Harrigan (Netflix)

Título original do filme: Mr. Harrigan’s Phone

Direção: John Lee Hancock

Roteiro: John Lee Hancock, baseado no conto de Stephen King

Duração: 106 minutos

País: Estados Unidos

Gênero: drama, suspense

Ano: 2022

Classificação: 14 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
0

Créditos Galáticos: