Yungblud-crítica-do-álbum-2022

Foto: Divulgação

O dance punk sem identidade do Yungblud

Marcelo Fernandes

De tempos em tempos o rock é declarado morto. Com mais de 60 anos de história, o gênero já sofreu tantas abordagens e mudanças ao longo das décadas que a questão é o que mais ele tem a oferecer como renovação criativa. Por isso, a autorreferência acaba se mostrando um caminho a seguir para alguns artistas e principalmente as gravadoras, que escolhem a dedo qual vertente ressuscitar.

Esse é o caso de Yungblud em seu terceiro álbum, autointitulado Yungblud. Segundo Dominic Richard Harrison, nome na identidade por detrás do artista, este seria o seu álbum mais pessoal. O que nos faz imaginar sobre o que seriam os dois anteriores. Tocando em temas caros ao ideário rocker, como depressão, sentimentos de não-pertencimento e afins, o artista mira alto, mas passa longe no quesito criatividade.

Em relação à forma, dá para se perceber as influências de estilos tão díspares quanto Black Sabbath (na faixa de abertura “The Funeral”, cujo clipe conta com a participação de Ozzy Osbourne e duas piadas hilárias do “Madman”); e o dance punk de Billy Idol. Misturas sempre aconteceram na música, mas se o produto final não faz jus às influências.

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Rock ou pop?

O destaque do álbum Yungblud vai para “Memories”, de longe a melhor. E que conta com a participação de Willow Smith. A sensação da faixa é aquela conversa que você tem com amigos reclamando de tudo, colocando a raiva para fora, e versos cantados com vigor por Willow dando um brilho especial

Mas a tentativa de dar mais pop ao rock – ou o inverso – dá errado em tantos níveis que é difícil terminar o disco, que atira para diversas direções do que já foi feito no pop punk, sem atingir nenhum alvo. Quando tenta ser rock, as músicas parecem com Justin Bieber fazer um cover do Green Day. Por outro lado, quanto tenta ser pop, as guitarras meio frouxas dão a impressão de que produtores demais meteram a mão para tornar o som mais acessível às massas.

Preso no passado

Outro fator do rock é o choque de gerações: muitos artistas quando jovens detestavam (ou fingiam detestar) o que vinha antes, brigando por seu espaço e tentando derrubar os reis de seus tronos. O som do Yungblud é referente demais, derivativo demais do passado, e só faz diferença para uma pequena parte de sua geração, que ainda está descobrindo a própria identidade. Mas em uma época em que blink 182 e Green Day ainda estão na ativa, a única explicação para o sucesso do cantor é o dinheiro investido pela gravadora, por ser um produto de rebeldia controlada e palatável para as novas gerações.

A única função de Yungblud é servir muito bem de porta de entrada a um público de adolescentes e jovens adultos para outros artistas mais interessantes que constam nas influências do cantor, que fizeram antes de uma forma melhor e menos “tiktoker” o que ele propõe neste disco. Como diz Sharon Osbourne no fim do clipe de “The Funeral”, “só a porra de um poser”. Posando de símbolo para os párias da Geração Z e tentando ser seu porta-voz, o maior trunfo de seu discurso é que jovens de geralmente não tem muito conhecimento prévio da história da música, e prezam mais pela forma do que pelo conteúdo.

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Ouça o novo álbum do Yungblud (2022)

Marcelo Fernandes

Jornalista, músico diletante, produtor cultural e fã de guitarras distorcidas e bandas obscuras.
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