Red Hot Chili Peppers faz disco para fãs sem muitas ousadias
Marcelo Fernandes
O Red Hot Chili Peppers nunca esteve tão prolífico quanto este ano, afinal, com dois álbuns cheios, acaba de lançar Return of the Dream Canteen, o segundo desde o (mais um) retorno do guitarrista John Frusciante. Em seu todo, o disco transparece exatamente isso: a reunião de amigos que marcaram um encontro para fazer um som. A diferença aqui é que, ao invés daqueles seus parças de faculdade, o grupo é formado por alguns dos instrumentistas mais icônicos do rock. Todos com suas características marcantes que, juntas, construíram o identificável som do RHCP no decorrer das décadas.
E a verdade é que Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith, além do já citado Frusciante (assim como o onipresente produtor Rick Rubin, que trabalhou em oito dos 13 álbuns de estúdio da banda, e pode ser considerado quase como um “quinto pepper”) sabem que estão em um patamar ao mesmo tempo intocável do panteão do rock e perigoso. Com um catálogo extenso no qual empilharam hits de diversos discos. Com tudo isso, a pergunta seria o que fazer a seguir?
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Puro Red Hot Chili Peppers
A resposta foi fazer o que fazem de melhor, mesmo que não seja igual às outras épocas. Return of the Dream Canteen é puro Red Hot Chili Peppers, com o groove de Flea; bem como a bateria certeira de Chad; e a guitarra que aparece no momento certo de Frusciante. Já a voz de Kiedis parece estar num piloto automático, sem nem puxar muito o que se espera dele. Mas convenhamos que pedir notas longas e gritaria para um senhor de quase 60 anos é complicado.
Como se estivessem nos anos 90 ou início dos anos 2000, o quarteto usa os refrões feitos para serem cantados nos estádios como sempre fez, numa mistura de diversão e um gosto agridoce de algumas músicas que remetem ao passado. A decisão de lançar um disco longo com 17 faixas numa época que singles e EPs dão o tom dos lançamentos da indústria musical.
Uma dessas marcas, a diversão, é nítida na primeira faixa e single, “Tippa My Tongue”, uma “música do RHCP”, em todas as suas qualidades. Na sequência, o funk “Peace & Love” mostra um dos diferenciais do grupo: o baixo de Flea. Sempre marcante demais para passar desapercebido, e sempre tocado de uma forma que, mesmo sem o vídeo, é possível sentir o sorriso do instrumentista.
Espaço para todos brilharem
A quantidade de músicas parece feita sob medida para um membro brilhar mais que o outro em determinadas canções. A guitarra de Frusciante se mostra empolgante como em muitas ocasiões em “Fake As Fu@k”, para muitos a melhor. Já em “The Drummer”, os holofotes recaem em Chad Smith, com uma levada competente como esperado, e sua bateria na frente da música em diversos momentos.
Um destaque adicional vai para a doce “Eddie”, homenagem ao falecido guitarrista Eddie Van Halen. A faixa começa parecendo a conhecida “By the Way”, mas se desenrola em uma música agradável e com aquela tristeza proveniente de saudade, deixando um sorriso na boca com as lembranças causadas.
Mas o grupo não está nem aí para o futuro, e parece focar em curtir o presente. Como dito antes, o disco Return of the Dream Canteen do Red Hot Chili Peppers soa mais como uma diversão de quatro amigos do que como algo culturalmente relevante. Com tanta história e músicas para preencher os inevitáveis shows ao redor do mundo, quem pode cobrar deles algo além disso: mirar nos fãs de sempre, e na sua própria essência.
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