‘Digimon Survive’ é um dos melhores jogos da franquia
Felipe de Andrade
Esqueça monstrinhos digitais, digimundo tecnológico e finais felizes. ‘Digimon Survive’ recria toda a mitologia com os novos pontos de vista, se tornando praticamente um reboot para a franquia. E finalmente o novo jogo viu a luz do dia, após receber diversos adiamentos desde seu anúncio nos meados de 2018.
Digimon Survive traz uma história inédita, mas que também conta com a presença de Agumon e companhia. Tudo começa durante uma excursão escolar onde Takuma (o protagonista com óculos estilosos presos na testa da vez) e seus amigos vão visitar a região de um templo sagrado. Local que é responsável por diversas lendas, que vão desde a aparição de monstros até o sacrifício humano de crianças.
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O começo da aventura
Chegando lá o grupo se depara com um bando de monstros humanoides feitos de pedra e ao tentarem fugir o chão se abre eles caem pela fenda. A aventura começa com Takuma acordando aparentemente no mesmo local e partindo em busca de seus amigos desaparecidos. Assim, a jornada de se inicia através desse mundo tão similar ao nosso, e ao mesmo tempo muito diferente, mais hostil e perigoso.
Após uma hora e meia de introdução, repleta de diálogos e apresentações dos oito escolhidos e seus Digimons, chamados de kemonogami, ou deuses feras, no jogo, a abertura finalmente aparece na tela. Assim, podemos dizer que o jogo se inicia. Nisso já fica nítido que se trata de um visual móvel com elementos de RPG, e não o contrário.
Diálogos e combates
A grande maioria dos diálogos ocorre sem animações, e sim com os personagens e cenários estáticos, ou alterando poucos quadros que mostram como cada personagem está reagindo ao que está acontecendo no momento. Há algum movimento das bocas e olhos enquanto a conversa rola, mas longe de ser um desenho animado.
Durante os combates conseguimos controlar os Digimons em lutas por turnos com cenários com visão isométrica, o que ajuda a visualizar todo o campo de batalha. Esses momentos ocorrem diversas vezes durante a campanha e são basicamente nessas horas e lembramos que se trata de um jogo e não desenho.
Visual
Este estilo de jogo em visual novel pode não agradar a todos os jogadores e fãs da franquia Digimon como um todo. Entretanto, pode valer a pena o “sacrifício” de dezenas de horas de leitura, pois Survive possui um ótimo enredo original. Assim como diálogos bem escritos e um bom desenvolvimento da história e dos personagens. Além de seus relacionamentos com seu grupo e com seus Digimon.
Falando nisso, a campanha acerta em cheio ao buscar ser mais séria do que qualquer animação ou o jogo da franquia já foi. Quero dizer que este é um produto voltado para o público jovem com temas mais sérios. Por isso que todas as suas escolhas possuem certo peso para o desenrolar da trama, chegando a ser possível que alguns amigos ou Digimons morram em decorrência de escolhas erradas ou durante as batalhas. Isso traz um senso de urgência que nenhum outro jogo Digimon jamais teve.
Liberdade
Esses momentos de escolha e mais a possibilidade de “explorar” várias áreas dos cenários, desbloqueando mais diálogos ao interagir com os personagens, ou investigando o local em busca de pistas, garante uma certa liberdade que não é tão comum ao estilo.
Conversar com seus amigos e seus monstros, dentro ou fora das batalhas desbloqueia pontos de afinidade. Esses pontos poderão fazer a diferença para a cooperação da equipe durante os combates, com o Digimons interagindo entre si, garantindo bônus em conjunto conforme ficam mais entrosados.
Interação
Durante os combates também há a possibilidade de interagir com monstros inimigos conversando com eles, e caso conseguirmos convencê-los, será possível recrutar um inimigo para o nosso time, se ele aceitar é claro, aumentando nossos números de aliado.
Em cada batalha é possível entrar em campo com até seis monstros de uma vez para enfrentar os inimigos, que podem possuir a mesma quantidade em suas linhas. Aqui é possível alterar a posição no campo visando o melhor ângulo para ataques normais e especiais, usar itens, conversar e motivar a equipe e se defender. Cada turno é regrado por uma quantidade de pontos de ação, que quando termina obrigatoriamente o jogo segue para o próximo amigo ou inimigo que estiver na fila, e assim por diante, com a Batalha terminando com um dos dois lados perdendo todos os digimons.
Os monstros
Cada monstro possui atributos próprios, como a distância que podem percorrer, pontos de vida, defesa e habilidades únicas. Portanto, é necessário que se crie boas estratégias com personagens com ataques à distância ou corpo a corpo, além dos de suporte, que podem auxiliar enchendo a barra de vidas dos feridos evitando, ou diminuindo, o risco de morte de cada lutador.
Assim como acontece nos desenhos, os Digimons conseguem se desenvolver em monstros maiores e mais fortes. Alguns deles, como o próprio Agumon, possui diversas novas formas para liberar dentro do campo de batalha e quando o combate termina retorna à sua forma primária novamente. Tanto ele quanto os outros Digimons que possuem como parceiro um dos escolhidos consegue transitar entre as suas formas, assim como acontece nas animações da franquia.
Os Digimons
No entanto, os Digimons que são recrutados nos campos de batalha e não possuem parceiros, quando evoluem seguem com a sua forma nova até que evolua novamente para uma seguinte, caso seja possível. Estes não conseguem regredir a forma primária ao seu bel prazer.
O jogo possui uma galeria que conta com mais de 110 monstros, dentre amigos, inimigos evoluções. Então, prepare-se para os duelos e procure recrutar evoluir o máximo possível para tentar completar sua coleção. Se preferir, ouça a música tema “Temos que Pegar” da franquia de monstros concorrentes para obter alguma motivação e conseguir todos durante a campanha.
2d e 3D
Digimon survive é uma das visuais novels mais bonitas do mercado. Seus cenários misturam 2D com 3D na medida certa, adicionando efeitos no meio ambiente como iluminação, neve, neblina e por aí vai. Tais efeitos demonstram todo um capricho que o estúdio teve com o título a todo momento.
Os personagens são muito bem retratados com traços feitos à mão com desenhos em alta resolução. Suas animações, por mais que limitadas, são de uma fluidez ímpar interpolando as imagens de maneira suave e agradável a todo momento dentro e fora das batalhas.
Ponto negativo e positivo
O ponto negativo vai para a baixa qualidade gráfica dos cenários onde se desenrolam as batalhas. Seus designs são pobres e a resolução parece extremamente baixa, puxando a nota do visual para baixo.
Com relação à parte sonora o game é só elogios. Apesar de possuir apenas dublagem em japonês, sua qualidade é bem alta, conseguindo passar todas as emoções dos personagens de forma tão natural que os outros idiomas nem fazem falta. É claro que isso só é possível pois o jogo está com suas legendas traduzidas e adaptadas para o português, garantindo acesso aos jogadores do nosso país ao título.
Som e trilha sonora
O Som ambiente e os efeitos sonoros ajudam com a imersão de tal forma que é possível observar diversos detalhes do que está acontecendo na tela com seu auxílio. Mesmo com uma imagem estática.
A trilha sonora apesar de ser repetitiva, é boa o bastante para não enjoar. Além de conseguir transmitir clima de mistério, descontração, agitação e perigo da melhor forma, auxiliando bastante com a imersão.
Veredito
Por fim, Digimon Survive consegue se consagrar como um dos melhores jogos da franquia. Se não levarmos em conta sua trama seja longa e arrastada (a abertura aparece com quase 90 minutos de jogo) e focarmos em coisas boas que o título possui; como uma ótima história independente que traz uma visão totalmente nova para a franquia; digo com tranquilidade que os fãs não irão se decepcionar.
Prós
- Visual lindo
- História ótima
- Som agradável
- Boa dublagem japonesa
Contras
- Progresso lento
- Gráficos datados no campo de Batalha
- Dezenas de horas de leitura