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Certas Pessoas crítica do filme da Netflix 2023 (1)

‘Certas Pessoas’ é uma obra gostosa sobre a importância de viver além das diferenças

Taynna Gripp

Uma comédia romântica que se preze tende a apresentar, já nos seus primeiros momentos, o casal pelo qual vamos torcer durante toda a trama. Essa receita não é tão seguida à risca em Certas Pessoas (You People), afinal, nos primeiros 10 minutos de filme seguimos apenas Ezra (Jonah Hill), um homem branco e judeu que tem um podcast junto com sua melhor amiga e que é grande fã da cultura negra norte americana. Quando finalmente somos apresentados à Amira (Lauren London), negra e muçulmana, nossa empatia pelo protagonista já cresceu e a construção do personagem é tão bem-feita que não podemos culpar o tempo de cena.

Ezra é um cara maneiro, divertido, bondoso e humano, dá pra saber isso com qualquer dois minutos que você preste atenção no filme. À sua altura, Amira também é uma personagem fácil de agradar. A química entre o casal é leve e fluída, e mesmo que o romance não apresente cenas, novamente, comuns em uma típica comédia romântica, de modo adulto, é possível sentir respeito e muita admiração mútua. É como se a história ali fosse mesmo real, algo que já vimos na nossa família ou na própria vida.

Diferenças culturais

Quando as diferenças entre as raças e religiões pareciam não diminuir em nada o amor do casal, chega a hora do relacionamento dar um passo adiante e os pombinhos vão apresentar suas respectivas famílias.

Os Cohen (pais de Ezra, interpretados por Julia Louis-Dreyfus e David Duchovny) agem como se ter Amira como nora fosse um experimento social novo, como se ela fosse um bibelô para expor aos outros como são desconstruídos e aceitam negros na família. Os Mohammed (vividos por Eddie Murphy e Nia Long), por outro lado, são cruéis com o namorado da filha, principalmente o patriarca da família, que, em cada situação com o futuro genro, tenta humilhá-lo.

Certas Pessoas poderia ser um filme facilmente esquecível, mas o roteiro, assinado também por Jonah Hill é uma obra gostosa de apreciar com suas questões levantadas sobre a importância de saber enxergar e viver além das diferenças. O amor precisa ser o ponto em comum para nos fazer atravessar aquilo que nos separa. A direção de arte e fotografia também devem ser enaltecidas aqui, fazendo um bom trabalho com as externas, acentuando através dos bairros o quão diversas as culturas de ambos os protagonistas são.

Jonah Hill, que preferiu se abster de todas os lançamentos do filme em prol de cuidar de sua saúde pessoal, tem todo seu carisma apreciado e, num ato final, é delicioso ver como tudo pode sim dar certo, com maturidade e bastante aceitação. Que a Netflix invista em mais filmes assim, para nos fazer suspirar confiando que o amor pode ser real e durável.